sábado, 10 de maio de 2008

Entrevista gráfica. Você decide se concorda ou não, mas é interessante saber.


Two holes are better than one


10/3/2008

Ator pornô, Buck Angel tem promovido uma revolução na forma de vermos pornografia e transexualismo


Por João Marinho

Como gay, posso dizer que é difícil olhar para Buck Angel sem uma pitada de desejo. Ator pornô, e dos bons – já até ganhou o Troféu AVN (Adult Video News), onsiderado o Oscar do segmento – Buck é extremamente másculo. Careca, com voz grossa, músculos definidos, piercing, tattoos e um bigode respeitável, ele encarna o biótipo “daddy”, que faz a cabeça de muitos de nós. Bom, até aí, nada que espante. Só que Buck tem um detalhe que outros homens não têm (ou seria: não tem um detalhe que outros têm?). Quando, excitado, ele abaixa as calças, no lugar de um pênis duro e – imaginariam alguns – enorme, aparece uma vagina molhadinha, emoldurada por um clitóris agigantado.

Espantou? Pois é preciso conhecer a história do moço: “Bem, eu era uma pessoa muito infeliz [...]. Trabalhei como modelo, e as pessoas me consideravam uma mulher bonita, mas eu sempre me senti um homem e estava vivendo em um corpo feminino”. Isso mesmo. Buck Angel é um transexual FTM (do inglês female to male)!

Diferentemente da trans MTF (male to female) – que biologicamente nasce homem, mas tem identidade de gênero feminina e que muitos de nós conhecemos –, Buck nasceu mulher, mas tem identidade masculina. A transformação ocorreu graças à psicoterapia, muita malhação e doses regulares de testosterona, mas não foi um processo fácil descobrir-se diferente. “Fui alcoólatra e dependente de drogas, me envolvia em brigas todo o tempo e não amava a mim mesmo ou à vida. Eu realmente queria morrer. Então, um dia, vi um filme com uma mulher que se transformou em homem e foi quando soube que não precisava mais sofrer. Encontrei um médico que me ajudou. Na época, ele trabalhava só com MTFs. Fui seu primeiro paciente FTM. Ele foi muito atencioso […]. Basicamente, ele salvou minha vida”.

Nas linhas abaixo, você confere um pouco mais da história desse interessante personagem.

Você é um cara muito másculo, bonito e muito forte. O que você faz para ter esse corpo?
Buck Angel: Obrigado. Eu malho muito na academia cinco dias por semana e tenho uma dieta saudável. Também tomo testosterona para ajudar a manter e trabalhar minha massa muscular.

Quando você decidiu fazer a transformação?
Eu tinha vinte e poucos anos quando finalmente tive a chance de mudar minha vida.

E como se deu o processo?
Comecei tomando injeções de testosterona dadas por meu médico, que também me ensinou como administrar em mim mesmo. Também estava indo a um terapeuta, que foi muito compreensivo e ajudou com minha transformação mental.

Como foi seu primeiro contato com os hormônios?
Uau! Foi maravilhoso! No momento em que aquela agulha me furou, sabia que estava no caminho para me tornar o homem que sempre sonhei ser.

Você diria que a testosterona mudou mais que seu corpo?
Ah, sim, com certeza. Meu pensamento mudou. Minha auto-estima mudou. A testosterona me deu confiança, me fez sentir uma pessoa inteiramente nova. Também notei que comecei a pensar mais como um homem, quer dizer, acho que eu fiquei menos emotivo com as coisas e mais direto e seguro de mim quando tomava uma decisão.

Além do tratamento, imagino que você fez alguma cirurgia. Quantas foram?
Apenas uma – a do peito [NR: Buck fez mastectomia]

Não pretende fazer a cirurgia de redesignação sexual?
BA: Eu fiz o que é considerada, para o Estado da Califórnia, onde nasci, uma cirurgia legal de redesignação sexual. Nasci mulher, comecei a tomar hormônios e, então, depois de dois anos, fiz a cirurgia no peito, quando eles removeram o tecido da mama feminina – embora muitos FTMs façam mais cirurgias que eu.

Eles podem escolher fazer uma histerectomia [NR: retirada do útero] e alguns também fazem a cirurgia genital. Decidi não fazer nenhuma delas. Não sinto que a cirurgia de pênis seja funcional ou estética o suficiente pra mim.

Não é comum ver um transexual com essa relação de aceitação ou conforto com sua genitália...
É, é muito incomum para FTMs se sentirem confortáveis em não ter um pênis. Sou diferente porque amo a mim mesmo e quem eu sou – e não sinto que precise de um pênis para ser um homem. Minha vagina é legal, amo sexo e amo os homens também. Muitos homens me acham gostoso, sexy e adoram penetrá-la. Além disso, tenho um monte de pênis – mas que ficam na gaveta quando não estou usando – e meus parceiros nunca reclamam. Então, por que eu preciso de um pênis?

Nesse caso, sua orientação sexual seria…
Bi. Na verdade, como me tornei mais confortável comigo mesmo, meu corpo e minha sexualidade, me tornei muito mais “bi”, e eu realmente amo transar com homens e mulheres. É mais sobre a pessoa do que sobre a qual gênero elas pertencem.

Bom, ainda falando de pênis e afins, soube que você chama seu clitóris assim. É realmente maior que o de uma mulher comum. Quanto ele mede?
Sim, chamo, mas só algumas vezes... E, sim, ele é como um pequeno pênis e é bem maior que o de uma mulher. Da base ao topo, flácido, mede cerca de 7 cm, e quando fica ereto, pode crescer mais.

Eu também soube que sua família o tratava como um menino. Como a família e os amigos reagiram quando você começou a se transformar?
Sempre fui muito “menininho”, e minha família muitas vezes se referia a mim como um garoto e me chamava por um nome de menino, o que era ótimo! Mas, em eventos especiais, eles queriam me pôr num vestido. Isso era chato e confuso... Então, quando falei pra eles que estava mudando de sexo, não ficaram nem um pouco surpresos e me apoiaram muito. Eles ficaram mais confortáveis em ter um filho do que uma filha lésbica. Os amigos... Alguns não ficaram confortáveis com isso, especialmente as lésbicas. Elas sentiram como se eu estivesse “desertando” pro lado inimigo! Curiosamente, algumas das mulheres que mais criticaram também fizeram mudanças sexuais depois.

E você tem filhos, ou planeja ter?
Não. Prefiro muito mais ter bichos de estimação. Tenho cachorros e um gato. Crianças não combinam com meu estilo de vida.

Falando um pouco sobre estilo de vida... Por que você decidiu trabalhar como ator pornô?
Por anos, eu trabalhei do outro lado da câmera: tinha um site para uma bela MTF asiática e produzia vídeos de fetiche. Quando percebi que não havia ninguém como eu no pornô, decidi ir pra frente das câmeras. Foi um desafio desenvolver um novo gênero. Muito trabalho duro, mas gratificante. A Robert Hill Releasing [NR: uma produtora pornô] me contratou. Foram os únicos que quiseram me dar essa chance.

Pretende parar algum dia?
Estou trabalhando para desenvolver o gênero e torná-lo maior e mais aceitável. Gostaria de produzir filmes de outros FTMs e voltar para trás das câmeras de novo.

Nos seus filmes, você sempre assume um papel dominante. É assim também na vida real?
Sim. Sou muito dominador na minha vida pessoal também, e tenho uma escrava full-time.

E quantos filmes você já fez?
Fiz um monte, e eu gosto deles todos… Mas acho que More Bang for Your Buck é o meu filme mais vendido. É um vídeo só de homens, e meus fãs gays adoram.Seus fãs, então, são gays...A maioria é gay, mas também tenho uma boa quantidade de fãs mulheres, o que é interessante. Tanto as héteros quanto as lésbicas parecem gostar do meu trabalho.

Você acredita que sua condição de pornstar FTM ajudar a mudar a percepção das pessoas sobre sexo e sexualidade?
Com certeza, de muitas formas. Primeiro, expõe as pessoas aos FTMs, quando muitos nem sabiam que nós existimos. Também sei que ajuda os FTMs a se sentirem mais confortáveis e terem um sexo melhor. Muitos FTMs que não fizeram a cirurgia genital ficam incomodados por não ter um pênis. Então, é comum, para eles, só dar e não receber, sexualmente falando. Agora, tenho ouvido de muitos FTMs e de seus parceiros que suas vidas sexuais estão muito melhores porque vêem que se um cara como eu pode usar sua vagina e gostar disso, eles podem fazer o mesmo. Também estou flexibilizando as fronteiras de gênero, por promover o conceito de que não preciso de um pênis para ser um homem. Não acredito que o que está entre suas pernas é a única coisa que determina o gênero. Sou um homem no coração, na mente, na alma e na aparência.

Há uma grande variedade de fotos e vídeos no seu site (http://www.transexual-man.com/): masturbação, sexo oral, vaginal e anal, fist fucking, BDSM... Por que você decidiu criá-lo?
Comecei o Transexual-man.com há três anos e quero oferecer alguma coisa para todo mundo e mostrar uma grande variedade de práticas sexuais porque eu gosto de tudo!

Bom, agora uma pergunta sobre suas influências... É verdade que material erótico ou pornográfico sobre FTMs não é comum na mídia, mas Alley of the Tranny Boys, de Christopher Lee, e Man Tool, de Loren Cameron, são trabalhos relativamente famosos nos Estados Unidos e outros países. A pergunta é: você conheceu algum desses trabalhos antes de decidir lançar o site? Se sim, eles influenciaram em alguma coisa?
Bom, eu os conheci, mas não fui influenciado per se. Estou só fazendo meu próprio trabalho, à minha própria maneira. Além disso, o filme de Christopher Lee foi bem underground. Eu já quis trazer minha pornografia para o mainstream. Quis que as pessoas realmente vissem meu trabalho.

Uma pergunta filosófica, para terminar: quem é Buck Angel?
Buck Angel é um homem ao mesmo tempo comum e especial, que ama a vida, ama sexo e que está ansioso para compartilhar a si mesmo com o mundo no sentido de transformá-lo em um lugar melhor (ou pelo menos resultando num sexo melhor!).

Você conhece o Brasil?
Nunca estive aí, mas gostaria de ir algum dia. É lindo! Também sei que vocês têm muitas MTFs bonitas aí...

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