GIULIANA MIRANDA
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
11/11/2010 - 09h48
Em sua primeira visita ao Brasil, a bióloga americana Joan Roughgarden, 64, professora da Universidade Stanford e referência em estudos sobre homossexualidade no mundo animal, atacou a teoria de seleção sexual de Charles Darwin.
Para a cientista, que em 1998 fez uma cirurgia de mudança de sexo e deixou de se chamar Jonathan para virar Joan, Darwin estava "profundamente equivocado" ao descrever padrões rígidos de distinção entre os sexos.
O conceito de seleção sexual é um dos componentes da teoria da evolução.
Darwin diz que as fêmeas, por gastarem mais tempo e energia com a criação da prole, tendem a ser mais recatadas, escolhendo os parceiros rigidamente, muitas vezes com base em características físicas exageradas -as caudas dos pavões ou os chifres dos veados, por exemplo.
Tais traços serviriam, para as fêmeas, como indicador de qualidade genética, enquanto os machos tenderiam a ser mais promíscuos.
Roughgarden se opõe a isso e afirma que não há um padrão rígido de comportamento para machos e fêmeas. Haveria, na realidade, várias gradações entre o feminino e o masculino.
RELAÇÃO MACHO E FÊMEA
Ela cita várias pesquisas indicando que, na natureza, nem mesmo a relação entre macho e fêmea pode ser considerada padrão.
"Há mais de 300 espécies de vertebrados com registro de homossexualidade. Um terço dos peixes de recifes de coral pode trocar de sexo durante a vida. A seleção sexual não explica isso", diz.
No lugar do conceito de Darwin, Roughgarden propõe a teoria de "seleção social". Além de compreender as várias gradações entre os gêneros, a teoria afirma que, na natureza, é comum haver sexo sem fins reprodutivos.
Como exemplo, ela cita os bonobos, primatas africanos que usam sexo como forma de integração e interação social, além de outros bichos.
Lançado há um ano, seu último livro, "The Genial Gene", aprofunda as críticas. Um dos principais alvos é o zoólogo Richard Dawkins, ex-professor da Universidade de Oxford e defensor da visão darwinista clássica. Para a bióloga, Dawkins e outros dão peso excessivo à competição no processo evolutivo.
Ela acusa as universidades britânicas de ignorar qualquer indício de erros na teoria da seleção sexual.
"Charles Darwin é um herói nacional. Por isso, admitir que existe uma falha no seu raciocínio tem um significado enorme. É como se estivessem desmoralizando a nação", afirmou.
Bióloga americana alia biologia evolutiva e fé cristã.
Filho de missionários da Igreja Episcopal, Jonathan Roughgarden decidiu mudar de sexo e virar Joan quando tinha 52 anos e uma carreira já consolidada como pesquisador e professor.
Antes da operação, seus livros já traziam a questão da homossexualidade. Mas, após o procedimento, a publicidade e o interesse sobre seus estudos cresceu.
Além da homossexualidade, a relação da religião com a biologia também é um de seus objetos de estudo. Em 2006, a pesquisadora lançou um livro em que defende a compatibilidade entre a teoria da evolução e a fé cristã.
No Brasil para participar da conferência TEDx Amazônia, que aconteceu no fim de semana em Manaus (AM), Roughgarden disse à Folha que estava bastante surpresa com a repercussão positiva de seus livros no Brasil.
"Recebi vários e-mails de brasileiros querendo saber mais sobre sobre o assunto. Não esperava isso."
"Evolução do Gênero e da Sexualidade" foi traduzido em vários países e vendeu mais de 100 mil exemplares, o que, no mundo dos livros de ciência, é um best-seller.
Roughgarden é atualmente casada com um homem. Segundo a bióloga, estar em um relacionamento heterossexual comum às vezes pode ser entediante.
Apesar disso, a bióloga afirma que não perde uma parada gay. Segundo ela, aliás, foi depois de um desses eventos na Califórnia, onde vive até hoje, que ela decidiu fazer a operação para mudar de sexo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/829013-biologa-transexual-contraria-tese-de-darwin-sobre-selecao-sexual.shtml , http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/829016-biologa-americana-alia-biologia-evolutiva-e-fe-crista.shtml . Por email, por colaboradora.
ENVIADA ESPECIAL A MANAUS
11/11/2010 - 09h48
Em sua primeira visita ao Brasil, a bióloga americana Joan Roughgarden, 64, professora da Universidade Stanford e referência em estudos sobre homossexualidade no mundo animal, atacou a teoria de seleção sexual de Charles Darwin.
Para a cientista, que em 1998 fez uma cirurgia de mudança de sexo e deixou de se chamar Jonathan para virar Joan, Darwin estava "profundamente equivocado" ao descrever padrões rígidos de distinção entre os sexos.
O conceito de seleção sexual é um dos componentes da teoria da evolução.
Darwin diz que as fêmeas, por gastarem mais tempo e energia com a criação da prole, tendem a ser mais recatadas, escolhendo os parceiros rigidamente, muitas vezes com base em características físicas exageradas -as caudas dos pavões ou os chifres dos veados, por exemplo.
Tais traços serviriam, para as fêmeas, como indicador de qualidade genética, enquanto os machos tenderiam a ser mais promíscuos.
Roughgarden se opõe a isso e afirma que não há um padrão rígido de comportamento para machos e fêmeas. Haveria, na realidade, várias gradações entre o feminino e o masculino.
RELAÇÃO MACHO E FÊMEA
Ela cita várias pesquisas indicando que, na natureza, nem mesmo a relação entre macho e fêmea pode ser considerada padrão.
"Há mais de 300 espécies de vertebrados com registro de homossexualidade. Um terço dos peixes de recifes de coral pode trocar de sexo durante a vida. A seleção sexual não explica isso", diz.
No lugar do conceito de Darwin, Roughgarden propõe a teoria de "seleção social". Além de compreender as várias gradações entre os gêneros, a teoria afirma que, na natureza, é comum haver sexo sem fins reprodutivos.
Como exemplo, ela cita os bonobos, primatas africanos que usam sexo como forma de integração e interação social, além de outros bichos.
Lançado há um ano, seu último livro, "The Genial Gene", aprofunda as críticas. Um dos principais alvos é o zoólogo Richard Dawkins, ex-professor da Universidade de Oxford e defensor da visão darwinista clássica. Para a bióloga, Dawkins e outros dão peso excessivo à competição no processo evolutivo.
Ela acusa as universidades britânicas de ignorar qualquer indício de erros na teoria da seleção sexual.
"Charles Darwin é um herói nacional. Por isso, admitir que existe uma falha no seu raciocínio tem um significado enorme. É como se estivessem desmoralizando a nação", afirmou.
Bióloga americana alia biologia evolutiva e fé cristã.
Filho de missionários da Igreja Episcopal, Jonathan Roughgarden decidiu mudar de sexo e virar Joan quando tinha 52 anos e uma carreira já consolidada como pesquisador e professor.
Antes da operação, seus livros já traziam a questão da homossexualidade. Mas, após o procedimento, a publicidade e o interesse sobre seus estudos cresceu.
Além da homossexualidade, a relação da religião com a biologia também é um de seus objetos de estudo. Em 2006, a pesquisadora lançou um livro em que defende a compatibilidade entre a teoria da evolução e a fé cristã.
No Brasil para participar da conferência TEDx Amazônia, que aconteceu no fim de semana em Manaus (AM), Roughgarden disse à Folha que estava bastante surpresa com a repercussão positiva de seus livros no Brasil.
"Recebi vários e-mails de brasileiros querendo saber mais sobre sobre o assunto. Não esperava isso."
"Evolução do Gênero e da Sexualidade" foi traduzido em vários países e vendeu mais de 100 mil exemplares, o que, no mundo dos livros de ciência, é um best-seller.
Roughgarden é atualmente casada com um homem. Segundo a bióloga, estar em um relacionamento heterossexual comum às vezes pode ser entediante.
Apesar disso, a bióloga afirma que não perde uma parada gay. Segundo ela, aliás, foi depois de um desses eventos na Califórnia, onde vive até hoje, que ela decidiu fazer a operação para mudar de sexo.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/829013-biologa-transexual-contraria-tese-de-darwin-sobre-selecao-sexual.shtml , http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/829016-biologa-americana-alia-biologia-evolutiva-e-fe-crista.shtml . Por email, por colaboradora.
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