quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O sonho de Ariadna.


Até o presente momento não havíamos nos manifestado quanto a participação de uma transexual no BBB 11. Mas devido a sua saída, resolvemos tecer nossos comentários.

E, como sempre, é apenas uma opinião e não reflete a maioria ou tão pouco pode ser visto como verdade absoluta, seja lá o que isso for.

A saída de Ariadna é quase como uma tragédia anunciada. O programa é baseado em atos, boatos, escandalos, personagens, montagens, edições habilmente feitas para que cada qual tenha o seu papel nesse microcosmos social de confinamento.

A aposta, ao que nos parece, era que a moça fosse o grande boom da casa, provocasse grandes emoções, expusesse sua vivência e causasse alvoroço entre os participantes, e por consequência com o público.

Fato é que ela foi sem dúvida mais comentada fora do que dentro do programa.

Opiniões das mais diversas foram proferidas: "fala sim, é mentirosa se não falar", "fala não é algo só seu", "não é mulher é um gay", "deve dar para saber a diferença", "ela não representa a causa, quero que saia", "ela não tem a essência de um transexual", "temos que apoiá-la", e por aí vai. Palavras que vieram das mais diferentes pessoas, com os mais diferentes conceitos, idéias, jornadas, exatamente como Ariadna.

Incontestável que todos têm direito a opinião, e merecem ser respeitados, mas a todo momento ela era vista apenas como santa redentora ou pecadora demoníaca e entre possibilidades e expectativas, Ariadna ousou mais uma vez.

Sim, vocês não leram por engano, ousou.

Ela não levantou bandeiras - apesar de ter falado sobre sua situação na saída da casa, mas quase como que por obrigação, uma vez que fora de lá a grande maioria já sabia - e optou partilhar sua intimidade com, como e quando quisesse (ou talvez tenha sido orientada pela produção do programa - o que achamos difícil já que o público e o ibope, na sua maioria, se alimenta de conflitos). Independente disso preferiu apenas ser ela mesma, e por isso acabou sendo eliminada.

E ser você mesmo, seja como for e em que situação for, tem um preço.

A menina desbocada, simples, que foi soltando parte da sua caminhada de vida aqui e ali, não estava lá como um estandarte transexual, muito pelo contrário: ela antes demostrou que pode ser a recepcionista desbocada de uma clínica, a vendedora que trabalha em uma loja e que sabe ser sedutora e vende até banana para macaco, ou quem sabe, a gerente de um banco. Ela foi uma pessoa como qualquer outra.

E isso ninguém esperava.

Transexuais talvez esperassem apoio, representações a causa e discursos esclarecedores, e o restante das pessoas esperava cenas fortes, postura sexualizada ao extremo, barracos e afins. E ela não ofereceu nada disso para nenhuma das partes.

Que existe a possibilidade das pessoas ligarem todos os transexuais a figura de Ariadna? Sim, existe como existe a possibilidade de todos serem, em algum momento, comparados ou relacionados a algo ou alguém também, seja transexual ou não.

Não estamos aqui fazendo apologia a ela, concordando ou discordando de suas escolhas e postura até porque isso só diz respeito a ela e ninguém mais, mas tentando apresentar um olhar mais humano e menos crítico do que se passou nas últimas semanas. E por mais que as pessoas não gostem de BBB, o programa é um excelente instrumento de estudo sobre o ser humano, dentro e fora da casa.

Que Ariadna vai capitalizar com sua participação? Claro, assim como todo ex-BBB, e como milhares de pessoas que ganham algum dinheiro em cima de sua imagem.

Até o final existia a esperança de que Ariadna fosse a mártir transexual do BBB: o apresentador indagou-a sobre a questão, pontuou algumas coisas, ao que ela respondeu : "busquem seus sonhos e sejam felizes".

Não poderia ter sido mais oportuna as palavras da moça: no final das contas o que de fato importa: os fantasmas que temos em nós, as pastas um tanto empoeiradas gurdadas em arquivos aleatórios, ou apesar disso, buscarmos ser felizes, seja lá o que felicidade é para cada um?

O que ficou não é uma mera indagação sobre gênero, sobre o que é masculino ou feminino, sobre diversidade ou sexualidade e sim, sobre o que queremos e o que fazemos com nossa existência.

Deixamos aqui, como sempre neste blog, um momento para reflexão, livre e opcional, sem julgamentos ou pré-conceitos. E, tal como está escrito lá em cima na descrição do blog, cabe somente a cada um descobrir a sua derradeira verdade.

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