Transexuais lutam para conseguir mudar de nome nos documentos
Nos últimos três anos, 230 pessoas mudaram de sexo no país. Mas o Brasil não tem lei específica em relação à mudança definitiva do nome nos documentos.
Saber que Ariadna é transexual não pegou de surpresa só a maioria dos brothers. Na sua volta para casa, em Realengo, subúrbio do Rio.
“Essa aqui é minha manicure”, mostra Ariadna. “Eu nem sabia de nada, eu nem suspeitava, porque a mão dela é tão feminina”, diz.
“Fiquei sabendo a partir do Big Brother”, diz um vizinho.
A Ariadna ficou só uma semana na casa, mas foi o tempo suficiente para mexer com a curiosidade das pessoas sobre a vida dos transexuais.
“Desde criança eu sentia um distúrbio. Eu não queria ser aquele menino, eu queria ser uma menina”, conta a ex-BBB Ariadna Thalía Arantes.
Foi assim também com Débora, Carla, Samanta, e milhares de outras transexuais espalhadas pelo mundo.
“Com 5 ou 6 anos de idade eu imaginava que eu tinha nascido uma menina e como meu pai queria um menino, ele tinha mandado me operar, me colocar um órgão sexual masculino”, conta a empresária transexual Samantha Padilha.
“Essa situação era considerada até recentemente como se fosse uma anomalia, um defeito, um erro da natureza ou da formação. Hoje em dia, nós compreendemos que não é bem isso. É um fenômeno que, por razões várias, houve um descompasso entre um corpo que a pessoa nasceu e a alma com que ela nasceu. Alma no sentido de sentimento, afeto, desejo, motivação”, aponta Michel Chalub professor de Psiquiatria da UERJ.
“A gente tem o direito de buscar a nossa felicidade”, pede a dona de casa transexual Débora Filiposki.
E ir em busca da felicidade significa batalhar por uma cirurgia para mudar o sexo.
Foi o que fez a transexual mais famosa do Brasil. Luiz Roberto Gambine Moreira já era conhecido como Roberta Close, quando se operou em 1989 na Inglaterra. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina só autorizou esse tipo de cirurgia em 1998.
Edilson Magro se tornou a primeira pessoa a fazer essa operação legalmente no país. Virou Bianca Magro.
Em 2008, mais uma boa notícia. A operação passa a ser feita pelo SUS em quatro hospitais. Nos últimos três anos, 230 pessoas mudaram o sexo no país. E 173 estão na fila de espera.
“Não é simplesmente eu quero mudar de sexo e acabou. Tem que ser acompanhado então normalmente durante no mínimo dois anos por um psiquiatra”, afirma Chalub.
“A partir desse processo eles te mostram todas as vantagens e desvantagens de fazer a cirurgia. Que o mundo não vai mudar a partir do momento que você fizer a cirurgia, vai mudar você”, explica a diretora de ONG transexual Carla Amaral.
“Foram 12 horas de cirurgia, quando acordei o médico falou: ‘seja bem-vinda Samantha. Você é mais uma mulher no mundo’”, conta a transexual Samantha Padilha.
“A mudança de sexo é isso, você quer unir o seu espírito ao seu corpo.E isso aconteceu”, diz a transexual Débora Filiposki.
Depois da cirurgia vem uma nova batalha: a mudança definitiva do nome nos documentos. Samantha , apesar de já ser operada há 11 anos, ainda não conseguiu mudar os documentos. E ela sofre constrangimento por causa da filha.
“Quando eu vou matricular a minha filha em um colégio, é constrangedor. Eu apresento o documento, e eles perguntam: ‘Giovane quem é, é o pai? Não, sou eu mesma’”, reclama Samantha.
Já Carla, ainda está na fila para a cirurgia, mas já conseguiu trocar os documentos. É que ainda não existe uma lei específica para esses casos.
“Está a critério do juiz, o que pode ser muito danoso para os transexuais que se submetem ao procedimento médico e depois não conseguem regularizar sua situação civil, a carteira de identidade, CPF, etc”, alerta Heloisa Helena Barboza, professora de Direito da UERJ.
A primeira cirurgia para mudar o sexo foi feita na Alemanha nos anos 1930. De lá pra cá, o mundo já ganhou uma prefeita transexual na Nova Zelândia, uma vice-presidente de banco nos Estados Unidos e um neurocientista americano que nasceu mulher.
Nas paradas de sucesso da Europa hoje está Kim Pêtras, de 19 anos, que se operou aos 16.
“Eu não pretendo ser aceita.eu pretendo ser respeitada”, afirma a transexual Débora.
“O que mais me marcou foi no meu processo de retificação dos documentos, que o juiz que autorizou escreveu assim: ‘o fato de não possuir órgãos reprodutores internos não lhe retira a possibilidade de obter a retificação pretendida, pois, existem inúmeras mulheres que não podem engravidar, e nem por isso deixam de ser mulheres’”, diz Débora.
Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1643474-15605,00-TRANSEXUAIS+LUTAM+PARA+CONSEGUIR+MUDAR+DE+NOME+NOS+DOCUMENTOS.html
OBS: Ok, sabemos que a reportagem falou rapidamente sobre o Ben Barres (grifo nosso, ver link: http://transhomembrasil.blogspot.com/2010/04/ben-ou-barbara.html), entretanto, algumas coisas são universais e independem de ser mtf ou ftm, e por isso consideramos válido postar aqui a matéria.
Esse blog foi criado para ajudar de alguma forma a transhomens, ftms, homens transexuais, entre outros, tentando transmitir dicas, informações, notícias e opiniões, não devendo, no entanto, ser tido como verdade absoluta. Não substituí também acompanhamento médico regular. Cabe a cada indivíduo desvendar a sua própria verdade.
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Para quem não viu a reportagem de ontem, domingo 23/01/11, no Fantástico...
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