sábado, 23 de janeiro de 2010

Transexual descreve sua transição do feminino para o masculino.


Por Faye Flam - 3 de maio de 2006

Jornal Knight Ridder

O que faz de um homem, um homem com H maiúsculo? Quanto das nossas diferenças sexuais são culturais, e quanto é resultado do biológico? Quem melhor para perguntar que Max Wolf Valerio - um homem de 49 anos que um dia foi uma mulher?

Você provavelmente está pensando nas mesmas questões que me perguntaram quando eu disse que faria um artigo sobre um homem transexual: os médicos "colocaram" um pênis, e será que ele funciona? Chegaremos lá, mas, como Valerio descobriu, a masculinidade não é tão falocêntrica como Freud quis que acreditássemos.

Masculinidade, diz Valerio, é hormonal e injetável. A testosterona sozinha foi suficiente para levá-lo rumo à jornada ao mundo masculino, sobre a qual ele escreveu no livro "The Testosterone Files", a ser lançado este mês pela Seal Editora.

Nascido uma menina de nome Anita, ele pensava que era um menino, e aceitou, relutantemente, o fato de ser uma menina masculinizada. Ele cresceu e se transformou em uma mulher ruiva, alta, exótica - metade hispânica, metade indígena - que gostava de pintar seu cabelo de preto e de jaquetas de motoqueiros.

Hoje, Max diz, que ninguém sequer desconfia e o vêem como um cara comum. Quando ele vai a encontros de transexuais, as pessoas não entendem porque ele está lá ou assumem que ele está transicionando do masculino para o feminino. Ele escreveu o livro, assim diz, para fornecer sua perspectiva sobre a natureza da masculinidade e da feminilidade, tanto cultural quanto biologicamente, e sobre a guerra dos sexos.

Valerio sempre teve atração exclusivamente por mulheres. Mas vivendo em São Francisco, ele percebeu com o tempo que era diferente de outras lésbicas. "Eu pensava que todas as lésbicas quisessem ser homens," diz Valerio. Ele não gostava de ser tocado sexualmente porque precisava fantasiar que era um homem. E, ao contrário de suas amigas lésbicas, ele se sentia atraído por mulheres tradicionalmente femininas com salto alto, maquiagem e minissaias.

Ainda assim, suas amigas pensavam que ele era maluco em considerar a possibilidade de mudança de sexo. Poucos haviam ouvido sobre homens transexuais no idos de 1980. Ele era bem apessoado, elas diziam. Por que arriscar se parecer com Julie Andrews com um bigode falso?

Mas aos 32, ele começou a tomar testosterona. Nos meses que se seguiram, sua linha do queixo ficou mais evidente e sua cintura secou, barba começou a aparecer, e a musculatura ficou mais evidente e forte. Ele desenvolveu um apetite voraz e sua voz se modificou para o padrão masculino natural.

Vivendo como um homem, ele enventualmente removeu seus seios cirurgicamente. Dezesete anos depois, aos 49, ele ainda não fez nenhum intervenção genital. Os hormônios aumentaram o clitoris de Valerio de tal forma, que ele fica do tamanho de um dedão quando ereto. Ele diz que parece com um pênis agora, e ele usa pra manter relações com sua namorada.

Testosterona promove o aumento do clitoris, e usá-lo para manter relações dessa forma é "cada vez mais comum" para homens transexuais que estão começando agora sua transição, diz Marci Bowers, uma cirurgiã do Colorado, especialista em readequação sexual. Poucos optam pela cirurgia que constroí um pênis de pedaços de tecido do próprio paciente, diz ela, além de ser um procedimento caro. Outros optam por uma cirurgia mais simples chamada metoidioplastia, que consiste em liberar o clitoris hipertrofiado, criando um órgão mais parecido com um pênis.

Mas para Valerio, a verdadeira surpresa foi como a testosterona modificou seu cérebro. "Quando olho para um objeto ele parece mais definido, mais tri-dimensional," diz ele. As palavras saem com maior esforço, e as emoções ficam mais difíceis de serem expressadas. Seu desejo sexual também foi aumentado.

Quando Valerio ainda era Anita, ele e suas amigas lésbicas achavam que a postura sexual dos homens era algo forçado. Hoje, ele pode sentir essa sexualidade masculina se expressando nele mesmo.

Cientistas estudam os transexuais procurando pistas sobre a diferenciação dos cérebros masculino e feminino. Rueben e Raquel Gus da Universidade da Pensilvânia trabalharam com um homem transexual, também chamado de Max, e descobriram através de testes que quando a testosterona passou a ser predominante, ele melhorou suas habilidades espaciais mas piorou na fluência verbal.

Seus estudos comprovaram outros que já vinham sendo realizados na Europa, oferecendo dicas importantes sobre nossas diferenças inatas. A transformação de Valerio também aponta que somos iguais - na nossa capacidade criativa, curiosidade intelectual e humanidade. Apesar de todas as diferenças, diz ele, "Eu ainda sou basicamente a mesma pessoa."

A coluna Carnal Knowlege, de Faye Flam, é publicada às quartas-feiras no Seattle Times.

Copyright © 2006 The Seattle Times Company

Fonte: http://seattletimes.nwsource.com/html/health/2002967758_carnalknowledge03.html

Tradução: "Homer"

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