quarta-feira, 29 de setembro de 2010

“Vou me realizar por completo”


29 de setembro de 2010 N° 8944

Ricardo Souza* é de Florianópolis e se considera um Transexual do Feminino para o Masculino (FTM). Ele conta quando descobriu que era transexual e a evolução da decisão de realizar a cirurgia.

Diário Catarinense – Quando percebeu a insatisfação com seu corpo?

Ricardo Souza – Aos 14 anos, quando ainda tinha cabelo comprido, comecei aos poucos a cortá-lo, até que cortei tudo. Foi aí que percebi minha insatisfação.

DC – Qual o seu primeiro passo depois que percebeu a sua preferência de sexo?

Ricardo – Comecei a pesquisar sobre o assunto em comunidades na internet, pois eu não sabia o que eu era. Foi quando conheci um autor de um blog que trata o assunto. Ele me ajudou bastante. Na verdade, me ajuda até hoje.

DC – O que foi mais difícil

Ricardo – Foi a família entender, pois não sabiam por onde começar. Na escola, não me sentia bem, até que, um dia, o diretor contou para todos que eu era o Ricardo. Eles mudaram e passaram a me tratar bem. Foi muito legal!

DC – O que é mais importante para você hoje?

Ricardo – Quero começar logo o tratamento de hormônios e depois fazer a mastectomia (remoção completa dos seios). Para mim, é a prioridade. A retirada do útero e ovários pode ser depois.

DC – E o pênis?

Ricardo – Não penso ainda sobre o pênis. Sei que a construção ainda é experimental.

DC – Você já pensou em fazer algo sem orientação profissional?

Ricardo – Tenho vontade de tomar hormônio masculino. Tenho que me segurar para não fazer. Mas o meu colega do blog me disse para não tomar de jeito nenhum. Ele me convenceu.

DC – E o nome? Vai trocar?

Ricardo – Para trocar, não posso ter nenhum órgão feminino. É outra etapa

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/diariocatarinense/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3056534.xml&template=3898.dwt&edition=15597&section=213

Curiosidade - Genes que determinam o sexo masculino estão em extinção


A pesquisadora de cromossomos sexuais Jennifer Graves, da Universidade Nacional da Austrália, disse que o cromossomo Y - responsável pela determinação do sexo no homem - está morrendo e deve desaparecer nos próximos cinco milhões de anos.

Ela explicou que os homens poderão seguir o mesmo caminho de um tipo de roedor que ainda consegue se reproduzir apesar de não ter os genes vitais que fazem parte do cromossomo Y, revelou o jornal inglês Telegraph.

Em uma palestra para estudantes de medicina na Escola Real de Cirurgiões da Irlanda, a pesquisadora contou que uma segunda espécie de seres humanos poderia surgir no futuro.

- Há três milhões de anos, o cromossomo Y tinha cerca de 1.400 genes, mas hoje só restaram 45 deles. A essa velocidade, ficaremos sem genes nesse cromossomo daqui a cinco milhões de anos. Segundo ela, o cromossomo Y “está morrendo e a grande questão é o que acontecerá depois".

O cromossomo Y do homem tem um gene (SRY) que aciona o desenvolvimento dos testículos e bombeia os hormônios que determinam a masculinidade.
26 de setembro de 2010

Em sua palestra, chamada O Declínio e a Queda do Cromossomo Y e o Futuro do Homem, Jennifer discutiu o desaparecimento do cromossomo e as implicações para o ser humano. Ela disse que ainda não se sabe o que vai acontecer quando o cromossomo Y sumir totalmente.

- Os seres humanos não podem se reproduzir de forma assexuada, como os lagartos, porque vários genes vitais vêm do gênero masculino.

A cientista disse que a boa notícia é que algumas espécies de roedores – como algumas ratazanas da Europa do leste e ratos do Japão – não possuem nem cromossomo Y nem o gene SRY.

Como existem muitos machos desses dois tipos de roedores por aí, os pesquisadores dizem que algum outro gene deve estar fazendo o trabalho, e eles querem saber que gene é esse.


domingo, 26 de setembro de 2010

Direito de transexuais mudarem documentos ganha enquete no Senado


22/09/2010 - 13h51

Por : Neto Lucon

Enquete do Senado pergunta se transexuais devem ter o direito de mudar documentos Uma enquete que visa dar direito a transexuais mudar os documentos está no site do Senado. A pergunta é: você é a favor ou contra o projeto (PLC 72/07) que dá às pessoas transexuais o direito de alterar seus documentos incluindo o prenome que usa socialmente?

Com quase 5 mil votos únicos computados, a estimativa até o fim da manhã de quarta-feira, 22, é a favor: 54,08%. E contra, 45,92%.

Fonte: http://mixbrasil.uol.com.br/noticias/direito-de-transexuais-mudarem-documentos-ganha-enquete-no-senado.html

domingo, 19 de setembro de 2010

Atendimento individual ou em grupo para pais, familiares e companheiras(os) de transexuais.


Como bem sabemos todo o processo de re-adequação não envolve somente o interessado, mas também quem está a sua volta. Todos experimentam sensações das mais diversas: uns assimilam com maior facilidade, outros nem tanto, além daqueles que crêem nunca ser possível ver seus filhos(as), maridos, esposas como eles efetivamente são.

Não somos ilhas e a vivência social é parte fundamental para auxiliar na transição, principalmente no que diz respeito as pessoas mais próximas.

Pensando nisso, a psicóloga Liliana está atendendo em São Paulo a estas pessoas que fazem parte do cotidiano direto de quem transiciona, e que acabam por compartilhar também desse momento de maneira visceral.

O atendimento poderá ser feito de maneira individual ou em grupo, e para pais, familiares e parceiras(os) tanto de ftms como de mtfs.

Para maiores informações entrar em contato no email a seguir: liaunifacs@yahoo.com.br

Divulguem e repassem, afinal ajudar a quem está ao redor é ajudar de alguma maneira a si mesmo também.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA - RESOLUÇÃO CFM nº 1.955/2010

RESOLUÇÃO CFM nº 1.955/2010

(Publicada no D.O.U., de 3 de setembro de 2010, seção I, p. 109/110)

Dispõe sobre a cirurgia de transgenitalismo e revoga a Resolução CFM nº 1.652/2002. (Publicada no Diário Oficial da União; n. 232, 2 dez.2002. Seção 1, p.80/81)

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto nº 44.045, de 19 de julho de 1958, e

CONSIDERANDO a competência normativa conferida pelo artigo 2º da Resolução CFM nº 1.246/88, publicada no DOU de 26 de janeiro de 1998, combinado ao artigo 2º da Lei nº 3.268/57, que tratam, respectivamente, da expedição de resoluções que complementem o Código de Ética Médica e do zelo pertinente à fiscalização e disciplina do ato médico;

CONSIDERANDO ser o paciente transexual portador de desvio psicológico permanente de identidade sexual, com rejeição do fenótipo e tendência à automutilação e/ou autoextermínio;

CONSIDERANDO que a cirurgia de transformação plástico-reconstrutiva da genitália externa, interna e caracteres sexuais secundários não constitui crime de mutilação previsto no artigo 129 do Código Penal brasileiro, haja vista que tem o propósito terapêutico específico de adequar a genitália ao sexo psíquico;

CONSIDERANDO a viabilidade técnica para as cirurgias de neocolpovulvoplastia e/ou neofaloplastia;

CONSIDERANDO o que dispõe o parágrafo 4º do artigo 199 da Constituição Federal, que trata da remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como o fato de que a transformação da genitália constitui a etapa mais importante no tratamento de pacientes com transexualismo;

CONSIDERANDO que o artigo 14 do Código de Ética Médica veda os procedimentos médicos proibidos em lei, e o fato de não haver lei que defina a transformação terapêutica da genitália in anima nobili como crime;

CONSIDERANDO que o espírito de licitude ética pretendido visa fomentar o aperfeiçoamento de novas técnicas, bem como estimular a pesquisa cirúrgica de transformação da genitália e aprimorar os critérios de seleção;

CONSIDERANDO o que dispõe a Resolução CNS nº 196/96, publicada no DOU de 16 de outubro de 1996;

CONSIDERANDO o estágio atual dos procedimentos de seleção e tratamento dos casos de transexualismo, com evolução decorrente dos critérios estabelecidos na Resolução CFM nº 1.652/02 e do trabalho das instituições ali previstas;

CONSIDERANDO o bom resultado cirúrgico, tanto do ponto de vista estético como funcional, das neocolpovulvoplastias nos casos com indicação precisa de transformação do fenótipo masculino para feminino;

CONSIDERANDO as dificuldades técnicas ainda presentes para a obtenção de bom resultado tanto no aspecto estético como funcional das neofaloplastias, mesmo nos casos com boa indicação de transformação do fenótipo feminino para masculino;

CONSIDERANDO que o diagnóstico, a indicação, as terapêuticas prévias, as cirurgias e o prolongado acompanhamento pós-operatório são atos médicos em sua essência;

CONSIDERANDO o Parecer CFM nº 20/2010, aprovado em 12 de agosto de 2010;

CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária de 12 de agosto de 2010,

RESOLVE:

Art. 1º Autorizar a cirurgia de transgenitalização do tipo neocolpovulvoplastia e/ou procedimentos complementares sobre gônadas e caracteres sexuais secundários como tratamento dos casos de transexualismo.

Art. 2º Autorizar, ainda a título experimental, a realização de cirurgia do tipo neofaloplastia.

Art. 3º Que a definição de transexualismo obedecerá, no mínimo, aos critérios abaixo enumerados:

1) Desconforto com o sexo anatômico natural;

2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexo oposto;

3) Permanência desses distúrbios de forma contínua e consistente por, no mínimo, dois anos;

4) Ausência de outros transtornos mentais.

Art. 4º Que a seleção dos pacientes para cirurgia de transgenitalismo obedecerá a avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social, obedecendo os critérios a seguir definidos, após, no mínimo, dois anos de acompanhamento conjunto:

1) Diagnóstico médico de transgenitalismo;

2) Maior de 21 (vinte e um) anos;

3) Ausência de características físicas inapropriadas para a cirurgia.

Art. 5º O tratamento do transgenitalismo deve ser realizado apenas em estabelecimentos que contemplem integralmente os pré-requisitos estabelecidos nesta resolução, bem como a equipe multidisciplinar estabelecida no artigo 4º.

§ 1º O corpo clínico destes hospitais, devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina, deve ter em sua constituição os profissionais previstos na equipe citada no artigo 4º, aos quais caberá o diagnóstico e a indicação terapêutica.

§ 2º As equipes devem ser previstas no regimento interno dos hospitais, inclusive contando com chefe, obedecendo aos critérios regimentais para a ocupação do cargo.

§ 3º Em qualquer ocasião, a falta de um dos membros da equipe ensejará a paralisação de permissão para a execução dos tratamentos.

§ 4º Os hospitais deverão ter comissão ética constituída e funcionando dentro do previsto na legislação pertinente.

Art. 6º Deve ser praticado o consentimento livre e esclarecido.

Art. 7º Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se a Resolução CFM nº 1.652/02.

Brasília-DF, 12 de agosto de 2010

ROBERTO LUIZ A'VILA HENRIQUE BATISTA E SILVA
Presidente Secretário-geral

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Conheça transexuais que farão cirurgias de extirpação de útero, ovários e seios.

LAURA CAPRIGLIONE

GUILHERME GENESTRETI

DE SÃO PAULO

12/09/2010 - 11h32

"Sou um homem que nasceu com defeito no órgão genital", define João Vitor Gonçalves dos Santos, 25. O "defeito", segundo ele, é ter vindo ao mundo com vagina, útero e ovários --por isso, recebeu o nome de Josiane. Na adolescência, como acontece com qualquer menina, cresceram-lhe também os seios.

Agora, o rapaz terá mais chances de "corrigir" o corpo que tem, e que nunca aceitou. Desde o início de setembro, transexuais como ele já podem extirpar -em hospitais públicos ou privados- útero, ovários e mamas.

Também podem se submeter a tratamentos hormonais que estimulam o surgimento de caracteres masculinos, como a voz grossa e barba.

Antes, os procedimentos eram considerados "experimentais" e só eram feitos nos poucos hospitais que se submetem aos restritivos protocolos da pesquisa científica.

Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina, ainda se considera "experimental" a cirurgia chamada "neofaloplastia", que consiste em criar um pênis a partir de pele retirada de outras partes do corpo.

Mas já é um avanço imenso. "Depois que eu retirar os peitos, poderei vestir camiseta sem manga, em vez de viver me escondendo por baixo de camadas e mais camadas de camisas e casacos", diz João Vitor, vozeirão de homem muito macho.

Os depoimentos dele e de Fonseca (ambos concordaram em posar) mostram que outro tipo de sexualidade resolveu sair do armário da clandestinidade no Brasil.

Porque, se gays, lésbicas e robertas close já viraram arroz de festa, transexuais masculinos (que nasceram mulheres) pareciam quase uma quimera. Não são.

A seguir, as histórias dos dois homens em luta contra a própria natureza:

"Sempre tive nojo desse órgão sexual, quero tirar tudo"; leia depoimento

Depoimento de João Vitor Gonçalves dos Santos, 25, nascido Josiane. Profissão: chapeiro em uma lanchonete. Vive em Tramandaí, a 120 km de Porto Alegre:

"Desde criança, eu sempre me senti homem. Vestia vestidos e coisas femininas por imposição familiar, mas odiava. A partir dos 12 anos, começou a minha virada. Com 15, me assumi. Contei pra todo mundo que gostava de mulher e cortei os cabelos. Bem curtinhos.

Meu pai é pedreiro, a mãe é do lar. Tenho duas irmãs mais velhas e um irmão mais novo. Na família, não tem nenhum caso como eu.

Na escola, eu era muito solitário. O pessoal sempre me excluía dos trabalhos em equipe porque eu era diferente. Até que a diretora da escola percebeu a situação e colocou minha irmã na mesma turma, para que a gente fizesse os trabalhos juntos.

Com 19 anos, me apaixonei por uma menina e comecei a namorar.

Sempre gostei de ser o máximo de homem possível. Eu não gosto de ser chamado de lésbica. Sinto-me totalmente homem -como um homem que nasceu com um defeito nos órgãos genitais, só isso.

Penso como um homem. O homem assume a família -toda a autoridade e a responsabilidade pela casa são do homem. Eu sou assim. É meio ultrapassado isso, mas é assim que é. Independência financeira, trabalhar, sustentar os filhos, são coisas de homem com as quais me identifico.

Até mesmo quanto à preferência por objetos e esportes, me sinto homem. Mulher em geral não gosta de futebol. Gosta de moda, de glamour, vaidade excessiva. Sempre gostei de futebol, de carros. Sou Colorado.

Eu gosto de estar bem vestido, mas como homem. Estou sempre com os cabelos bem cortados, bem aparados. Sempre limpo e asseado. Eu me policio bastante por essa forma de pensar -sei que é um jeito machista de ver as coisas. Mas eu aprendi a pensar desse jeito com meu pai e com meus primos.

Desde criança, eu sempre tive nojo de ter o órgão sexual que tenho. Mas eu não sabia que era possível mudar isso. Não sabia das cirurgias. Quando eu soube, quis.

Meu corpo era normal. Eu ficava menstruad... tinha funções normais. O formato do meu corpo nunca foi lá muito feminino, porque desde cedo eu jogava bola, fazia muito esporte. Meu corpo sempre foi muito forte.

Com 22 anos, procurei o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que é um hospital público, e comecei a fazer um tratamento hormonal e psiquiátrico, além de consultar urologistas.
Voz, pelos, músculos -tudo mudou depois do início do tratamento hormonal.

Minha primeira namorada achava que o caso comigo era um caso entre duas mulheres. Quando resolvi mudar de sexo, tive de enfrentar a situação sozinho.

Foi uma felicidade encontrar tantas pessoas como eu. Antes de saber que era possível, eu era uma pessoa depressiva. Ficar a vida inteira com aquele corpo era um terror para mim.

Vi que eu estava no caminho certo. Era incrível. Clareou a minha vida. Deu uma outra motivação.

Ainda não fiz nenhuma operação. Estava aguardando a autorização. Ainda tenho peitos, vagina. Não fico mais menstruad... --parou quando comecei o tratamento hormonal. Minha vida sexual já melhorou demais. Agora sou mais confiante.

Não tenho dúvida nenhuma de que quero tirar peito, ovário e útero.

No trabalho, no início, só quem sabia da minha condição era o meu chefe. Porque eu tenho vergonha e queria evitar piadinhas de mau gosto. Mas depois, a notícia se espalhou. Mesmo assim, o pessoal me respeita.

É que não há como dizer que eu seja uma mulher. As pessoas não acham nem traço de feminilidade em mim. Então não há como me tratar com preconceito. O preconceito deixou de existir.

Muitas lésbicas me criticam porque acham que eu não me assumo; outras me veem como concorrente. Mas eu me sinto como um homem heterossexual. Prefiro mulheres e femininas. Sou extremamente hétero nessa parte.

Os médicos não têm comprensão do sofrimento de gente como eu. Agora, chega o verão, o pessoal quer mostrar o corpo. E eu, que vivo a poucas quadras da praia, tenho de me esconder. É o meu período de hibernação. Tenho de colocar três ou quatro camisetas para esconder o volume dos seios. O verão é a pior estação para mim."

"As lésbicas são mulheres, eu não sou", diz transexual

Depoimento de Renato Fonseca, 43, nascido Rosane Oliveira da Fonseca. Profissão: serigrafista. Casado há 11 anos. Vive em Porto Alegre.

"Eu nasci em um corpo errado. Meu pai é funcionário público aposentado e a mãe é dona de casa e costureira.

Sempre fui assim, desde criança. Quando cheguei aos 18, saí de casa para me assumir plenamente.

Todas as pessoas como eu tiveram problema com a mãe. O pai em geral não está nem aí. A mãe é que é mais complicado.

Nunca vesti roupas de menina. Na escola, a sorte era que o uniforme era abrigo e tênis -graças a Deus. Sempre tive apelidos masculinos (Falcão, Rique). E só brincava com os meninos.

Se você me olha, você vê claramente que sou um homem. Lésbicas são mulheres. Eu, não. Me sinto como homem. Penso como um.

Os homens são mais grosseiros. As mulheres são mais delicadas, mais cheias de ai-ai-ai. Eu não sou assim. Comigo é tudo na base dos trambolhões.

Aos 16 anos, namorei pela primeira vez uma mulher. Ela tinha 26 e sempre me tratou como um menino.

Na minha empresa, todo mundo sabe que nasci mulher, mas me chamam de Fonseca. E estão acompanhando a minha transformação. Estou criando barba, bigode, a voz está engrossando cada vez mais. E está todo mundo tranquilo.

Se eu soubesse que havia esse tipo de tratamento [hormonal, para o desenvolvimento de caracteres secundários masculinos], teria ido antes. Há dois anos estou lá.

Quando cheguei, foi uma felicidade. Até então eu só conhecia lésbicas, heterossexuais e transexuais que querem ser mulheres.

De dois anos para cá, já encontrei umas 15 pessoas como eu. E está aparecendo cada vez mais gente.

Eu fiquei feliz de saber que isso era possível. Quando eu vi o Paulo, braços cabeludos, barba... Ali estava alguém que tinha sido uma guria. Era uma transformação incrível.

A parte de cima me incomoda muito. Para mim, não faz parte. Eu chego em um lugar, de barba e bigode, e está tudo ok. Mas quando a pessoa vê o peito, começa a me estranhar: isso aí é um homem ou uma mulher? Se eu não tiver o peito, ela não vai pensar assim.

Meu peito é tamanho médio, mais ou menos, nem sei direito. Eu não me olho muito. Para esconder o peito, uso três camisetas, faixa para apertar e terno.

Em março de 2009, comecei a fazer o tratamento hormonal. De lá para cá, a minha voz engrossou mais. Fiquei um pouco mais agressivo, mais possessivo, mais estourado. Já estou com barba e bigode, com pelos na barriga. Parou a menstruação. Aumentou a minha libido e meu clitóris cresceu. Está do tamanho do dedo mindinho.

Tem gente no grupo [de transexuais como Renato] que tenta fazer xixi de pé, mas para mim isso não importa.

Minha esposa --sou casado há 11 anos com uma mulher muito feminina-- diz que não tem necessidade de eu fazer a operação na parte de baixo. Ela já está bem contente [risos].

Hoje, eu entrei no banheiro e olhei meu rosto no espelho. Que alegria ver todos aqueles pelos da barba. Já é uma transformação e tanto, mas quero chegar em um tórax sem peito e todo peludo."

Mudança de sexo pode levar mais de dois anos

O procedimento até a cirurgia de redesignação sexual é longo, e obedece os critérios estabelecidos pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).

O interessado em se submeter à mudança deve ser maior de 21 anos e precisa ter sido diagnosticado como transexual por uma equipe de psicólogos e psiquiatras.

Insatisfação duradoura com o próprio sexo e o desejo expresso de eliminar os genitais são questões avaliadas pela equipe por, pelo menos, dois anos.

Então o tratamento hormonal --testosterona no caso das mulheres- tem início e, em meses produz os primeiros efeitos: crescimento da barba, engrossamento da voz e aumento do tamanho do clitóris.

Se quiser, o paciente pode ainda se submeter à mastectomia (retirada das mamas) e realizar operações para eliminar útero, trompas, ovário e vagina.

Mas para o urologista Carlos Cury, especialista em cirurgias de transgenitalização, boa parte já se satisfaz em retirar os seios: "Isso já causa um impacto emocional, esses pacientes têm uma necessidade muito grande de se mostrar como homens."

A neofaloplastia (realizada pelo alongamento do clitóris ou da construção de um pênis na musculatura do antebraço da pessoa) é experimental.

A Organização Mundial da Saúde considera a transexualidade um distúrbio, e é essa caracterização que facilita o acesso à cirurgia, lembra Alexandre Saadeh, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

"O SUS só paga a cirurgia porque esse fenômeno é considerado um transtorno. Se não fosse, essas operações seriam tidas como meramente estéticas."

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/797535-conheca-transexuais-que-farao-cirurgias-de-extirpacao-de-utero-ovarios-e-seios.shtml

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Liberada cirurgia para transsexual feminino trocar sexo.


01 de setembro de 2010 19h 53

LÍGIA FORMENTI - Agência Estado

O Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou no País a realização de cirurgias para mudança de sexo indicada para transsexuais femininas. O procedimento - que consiste na retirada de útero, mama e ovário - era considerado experimental para essa finalidade. Agora, ele deixa de ter essa classificação.

A decisão, que será publicada no Diário Oficial amanhã, abre caminho para que a operação possa ser feita tanto em serviços públicos quanto particulares. "Como a cirurgia deixa de ser experimental, não vejo razão para ela não passe também a ser feita por planos de saúde", afirmou Edevard Araújo, relator da resolução no CFM.

No entanto, a resolução condiciona a cirurgia para mudança de sexo a uma análise feita por uma comissão multidisciplinar composta por médicos, assistentes sociais e psicólogos. "O procedimento é semelhante ao realizado na cirurgia para transsexuais masculinos", afirma. "São dois anos de acompanhamento para verificar as condições do paciente."

O cuidado é necessário para garantir que candidatos à cirurgia tenham plena convicção da escolha. "Não é algo que se volte atrás. Daí a necessidade de todo o cuidado dos profissionais", observou Araújo. Há também idade mínima para realização da cirurgia: 21 anos." Médicos que acompanham a paciente também farão indicação, se necessário, para uso de hormônios masculinos. "A avaliação é responsabilidade da equipe destacada para acompanhar a paciente", disse.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,liberada-cirurgia-para-transsexual-feminino-trocar-sexo,603836,0.htm