domingo, 30 de março de 2008

Relacionamentos e Pais



Uma situação particularmente delicada é a dos relacionamentos. Devo dizer? Quando e como?

Você pode dizer logo de cara e o máximo é receber um adeus, passar bem ou um não. Se você optar por uma abordagem mais furtiva, pode primeiro sondar a pessoa e esperar para ver que caminho o relacionamento vai tomar: se duradouro ou apenas um caso passageiro.

No caso de relacionamento em longo prazo, se dito tardiamente pode gerar um sentimento de traição e desconfiança no parceiro, o que pode resultar em dissolução. A questão é ter timming para saber o melhor momento, mas é fato que se a situação é séria, contar a verdade é uma obrigação.

Quando se fala de amigos, o máximo, novamente é perder alguns amigos. Por mais que eles o conheçam, alguns preconceitos são maiores que afeto. É aquele velho tudo bem, mas perto de mim não.

Não há regra para essas situações. Somente o próprio envolvido pode tomar a decisão com base no que conhece de cada pessoa, sabendo que algumas vezes se ganha e outras se perde.

Talvez a situação mais difícil seja a que envolve família, em especial pais ou aquelas pessoas que tem um significado afetivo igualmente importante em nossas vidas.

Não vai ser fácil. Não há regra: uns aceitam melhor, outros médio, outros se recusam a aceitar. Mas ninguém vai chegar e dizer: que ótimo sempre sonhamos com isso.

Esses momentos são carregados de confusão, medo e ignorância também pelos pais, afinal a maioria entende no máximo o ser homossexual, e a muito custo. O ser transexual, e dizer que quer “mudar de sexo”, é algo que envolve não só uma mudança social, mas corporal de identidade.

Nessas horas a frustração acomete os pais porque sua menina não irá cumprir o que eles tinham em mente para ela, e pior, ela quer mudar seu corpo, sua imagem. O medo bate por causa da sociedade, do que essa pessoa poderá passar, se essa é a escolha certa, se não é apenas uma fase, um momento que poderá virar passado.

E no caso das mães, a frustração aumenta porque fatalmente elas criam a expectativa de que a filha consiga realizar algumas coisas que ela não realizou; vivem de alguma forma, que não seja patológica, pela suas filhas a continuidade de si mesmas.

Temos também o fator religião dos pais, que pode ser motivo de discórdia. Pais achando que suas filhas estão possuídas, perdidas, e coisas afins. Talvez lutar com a religião ou doutrina de alguém seja o mais difícil, mas não é impossível que o afeto ultrapasse tudo isso e “Amai-vos um aos outros como eu vós amei” se torne à máxima entre vocês.

Para todos os casos, familiares ou não, vale sempre que você saiba bem quem é, o que pretende fazer, e saber expressar isso de forma clara para que eles entendam. Para muitas pessoas o fato de ter um acompanhamento médico facilita a aceitação de alguma forma, porque essa “coisa estranha” se torna algo palpável, e não somente um sentimento, um desejo. A sua certeza ninguém vê, mas um laudo ou uma prescrição sim.

E como em todos os momentos, saiba sempre onde você está se aventurando, adquira informações, pesquise, assim sua segurança passará também para os outros, começando a gerar uma tentativa dos pais de tentar respeitar seu caminho.

E para aqueles radicais em que nada funciona, infelizmente, só o tempo dirá. Não há como prever as reações de uma pessoa, nem obrigá-la a aceitar, muito menos entender. Infelizmente, ninguém deseja perder o apoio dos pais ou pessoas próximas, mas isso pode acontecer.

Independente do que ocorra, não desista. Seu sucesso será a melhor maneira de provar que você estava certo, que não era apenas uma confusão ou um delírio. O tempo é um sábio senhor, e capaz de curar feridas e aparar arestas. Mas acima de tudo, dê tempo e espaço aos seus pais, afinal você também levou um bom tempo lutando para se aceitar, se entender e viver.

sábado, 29 de março de 2008

Neofaloplastia e Metoidioplastia



Não consegui localizar nada na Internet que fosse suficientemente esclarecedor sobre os procedimentos ou livre de direitos autorais, então segue abaixo minhas sugestões sobre onde achar informações acuradas sobre estas cirurgias.

Existe um livro do Prof. Dr. Roberto Farina, que descreve bem não só duas das técnicas usadas para a neofaloplastia, como discorre sobre outros fatores acerca da transexualidade. O livro se chama Transexualismo - do homem à mulher normal através dos estados de intersexualidade e das parafilias, ed. Novalunar, de 1982.

Para quem não sabe o Dr. Roberto Farina, segundo consta em 1971, foi o primeiro cirurgião, a realizar uma cirurgia de readequação genital em uma mtf, e sofreu à época um pesado processo, criminal e no CFM, pois tal procedimento era visto como crime de mutilação.

Achei também uma visualização disponível na net de um livro chamado Transexuais: perguntas e respostas de Gerald Ramsey, ed. GLS, que tem uma excelente descrição da neofaloplastia e também da metoidioplastia, bem como complicações e riscos. Tais informações podem ser lidas na pergunta Como os cirurgiões constroem um pênis? Quais os principais risco e complicações?


É importante dizer que não há técnica que permita um neofalo idêntico a um biológico; que as técnicas apesar de serem variadas, ainda são arriscadas e possuem um alto grau de complexidade. Cabe a cada um escolher e formar sua própria opinião sobre as cirurgias de readequação genital para ftms, mas mantendo em mente a real possibilidade das opções apresentadas para não se desapontar depois do procedimento realizado.

Por ainda serem consideradas pesquisa, tais cirurgias só podem ser realizadas no país em Hospitais Escola que possuam atendimento a transexuais.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Histerectomia



Histerectomia é a remoção cirúrgica do útero, e deriva do grego hyster, que significa útero, e ectomia, que significa remoção.

Existem diversas classificações para a histerectomia.

Vários termos são utilizados em artigos leigos de maneira diferente que na medicina. Por exemplo, muitas pessoas pensam que uma histerectomia total significa a remoção concomitante das trompas e ovários. Errado! Ela significa a retirada de todo o útero, com ou sem remoção dos ovários. Antigamente, como os cirurgiões não conseguiam retirar o útero todo com segurança, eles deixavam o colo, daí o nome histerectomia subtotal. Já a histerectomia radical é um tipo especial de histerectomia realizada para tratamento de alguns tipos de câncer uterino.

A outra classificação descreve a via pela qual o útero é removido. Se ele for removido pela vagina, o procedimento é denominado histerectomia vaginal. Se for removido através de uma incisão no abdome, ela é chamada histerectomia abdominal. Portanto, a retirada do corpo e colo do útero pela vagina é denominada histerectomia total vaginal.

Em medicina, quando se refere ao ovário utiliza-se o termo "oof", e à trompa o termo "salping". A remoção de ambas as trompas e ovários é denominada salpingo-ooforectomia bilateral, a qual pode ou não ser realizada juntamente com qualquer um dos tipos de histerectomia.

Quem se submete à histerectomia vaginal é beneficiado em vários aspectos, e um cirurgião vaginal experiente deve ser capaz de realizar mais de 90% das histerectomias por via vaginal. A cirurgia é mais rápida que a histerectomia abdominal, o pós-operatório é menos doloroso e o tempo de internação é menor, com alta hospitalar em 24 horas na grande maioria dos casos. A ausência de cicatriz abdominal é um benefício estético.

Não há dúvida de que a recuperação é mais rápida quando o útero é removido pela vagina, sem necessidade de incisão abdominal. Entretanto, algumas doenças podem dificultar ou mesmo impossibilitar a abordagem via vaginal. Estas situações incluem grandes cistos ovarianos, endometriose extensa e outras situações onde o ginecologista opta por visualizar os órgãos pélvicos previamente. Nestes casos, o cirurgião introduz um laparoscópio pelo umbigo e outros instrumentos através de pequenas incisões abdominais para realizar partes da histerectomia, permitindo assim que o útero seja retirado por via vaginal. É importante ressaltar que, embora a histerectomia laparoscópica seja menos invasiva que a histerectomia abdominal, ela é mais agressiva que a histerectomia vaginal, na qual não existe qualquer incisão no abdome.

Vale dizer que como qualquer cirurgia, existem riscos, e é necessário procurar um bom ginecologista, que seja cirurgião, porque nem todo ginecologista é cirurgião. E nem todo ginecologista utiliza as técnicas por via vaginal e /ou laparoscópica.

Um bom preparo pré-operatório ajuda durante a cirurgia e no pós também, devendo, portanto o paciente seguir a risca os conselhos médicos, e perguntar sempre que em dúvida.

Essas informações são de teor generalizado e não substituem a consulta médica, sendo o profissional médico o mais adequado para tirar suas dúvidas e para a escolha do procedimento correto.

Texto de autoria do Dr. Luiz Henrique Nicolazzi, publicado em http://promulheronline.com.br/materias/06.htm , e editado de maneira a manter somente o que é de interesse a transhomens.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Serviços disponíveis - Atualização

Com relação ao serviço que funciona no HUPE/RJ - Hospital Universitário Pedro Ernesto, seguem melhores informações:

" (...)

O programa de atendimento multidisciplinar a disforia de gênero - Grupo GEN, existe há 5 anos no HUPE. O coordenador do programa é o prof. Eloísio Alexsandro e os pacientes podem ser referenciados a ele, no ambulatório de Urologia Reconstrutora, às quartas-feira, nas salas 7/8 do prédio de ambulatórios.

Atenciosamente

Laboratório de Investigação em Urologia - UroLab
Serviço de Urologia. HUPE - UERJ
"

Mastectomia


Mastectomia é o nome da cirurgia de remoção completa da mama. É um dos tipos de tratamento cirúrgico para o câncer de mama.


No caso de transhomens vale lembrar que apesar do nome de mastectomia por se tratar de retirada de mamas, as técnicas utilizadas são semelhantes às utilizadas para mastoplastia redutora em mulheres.

Vale aqui algumas explicações:

O tecido glandular mamário em ambos os sexos são compatíveis. A diferença se faz pela atuação do hormônio masculino (testosterona), ou do feminino (estrogênio) sobre este tecido. O predomínio do estrogênio induz o crescimento da glândula e estroma mamário. Além de aumentar a deposição de gordura local.

Homens e mulheres possuem esses dois hormônios em quantidades diferentes; são eles que determinaram as características sexuais secundários em cada indivíduo. Quando o adolescente masculino chega na puberdade, a testosterona se eleva e predomina sobre o estrogênio; assim o menino desenvolverá os caracteres típicos masculinos: crescimento e distribuição característica de pêlos, escurecimento do saco escrotal, engrossamento da voz e toda compleição anatômica de um homem. É também devido à predominância deste hormônio masculino que ele não desenvolverá os caracteres femininos, tais como: desenvolvimento das mamas, formas do corpo mais arredondadas, voz fina, pele macia, etc.

Procedimento Cirúrgico

As várias técnicas utilizadas na mastectomia trans * variam em função de cada caso. A tendência é a de deixar cicatrizes cada vez menores, o que naturalmente vai depender do tamanho das mamas. As incisões podem ser em forma de T, L, I ou O. É feita também uma incisão ao redor da aréola, com o objetivo de reposicionar o mamilo e eventualmente reduzir seu tamanho. Pelas incisões são retirados os excessos de pele, tecido glandular e gordura. Em seguida, é feito o remodelamento do peitoral e reposicionamento dos mamilos. A anestesia usada nesse tipo de cirurgia é a geral. A operação dura em média três horas.

Pós-operatório

O tempo de internação é normalmente de 24 horas. Os pontos são retirados por volta da segunda semana. O retorno às atividades é gradativo. Deve-se, evitar a elevação dos braços acima da cabeça, levantar peso ou fazer exercícios em excesso durante três a quatro semanas.O inchaço é natural e costuma desaparecer já nas primeiras semanas, assim como uma possível sensação de insensibilidade nos mamilos e na pele do peitoral. As cicatrizes podem ser de tamanho maior ou menor, dependendo do tamanho da mama, e das técnica utilizada. Na maioria dos casos, a cicatriz é de boa qualidade e tende a ficar imperceptível. O processo de cicatrização pode ser dividido em três períodos de evolução: o primeiro que vai até o 30º dia, mostra as cicatrizes com bom aspecto e pouco visíveis. O segundo, que vai do 30º dia até 12º mês, quando a cicatriz vai ficando mais espessa e mais escura. O terceiro, que vai do 12º ao 18º mês, quando a cicatriz começa a clarear e a ter um aspecto mais natural. O resultado definitivo, tanto da cicatrização quanto da forma, só poderá ser avaliado após esse período. Há uma série de recursos clínicos e cirúrgicos disponíveis para corrigir eventuais problemas de cicatrização como o quelóide, mas só devem ser aplicados após as três fases do processo.

Vale dizer que como qualquer cirurgia, existem riscos, e é necessário procurar um bom cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Um bom preparo pré-operatório ajuda durante a cirurgia e no pós também, devendo, portanto o paciente seguir a risca os conselhos médicos, e perguntar sempre que em dúvida.

Essas informações são de teor generalizado e não substituem a consulta médica, sendo o profissional médico o mais adequado para tirar suas dúvidas e para a escolha do procedimento correto.

* Mastectomia trans: O termo usado durante o texto era mastoplastia redutora, o qual substituí de forma a ser mais coerente para a finalidade do texto.


O texto acima foi publicado em
http://www.desouzapinto.com.br/port/cirurgia_plastica/cirurgia_plast_mamaplastiaredutora.htm e editado de maneira a manter somente o que é de interesse a transhomens.

Um olhar histórico e cultural sobre transgressões de gênero III


Elementos transculturais



Relatos etnográficos do mundo todo revelam fenômenos de mudança de gênero em muitas culturas e povos.

Várias tribos de índios norte-americanos têm relatos ou entendimentos míticos ou culturais de mudança de gênero.


Os mais famosos são os Yuman, que acreditam numa “mudança de espírito” após determinados sonhos que aconteceriam na puberdade. Nesses sonhos, jovens homens sonhariam que seriam mulheres e passariam a adotar a postura e os trejeitos femininos, sendo chamados de elxa. O contraponto feminino também ocorre e é chamado de kwe’rhame. Eles são aceitos pela tribo e passam a desempenhar os papéis do gênero atribuído e não mais os do gênero de nascimento. Entre os Yuman da Sierra Estrella acredita-se que a montanha tenha o poder de transformar o sexo dos meninos que desde cedo mostrariam essa mudança. Seriam os Berdache, homens que vivem como mulheres e são aceitos como tal. O contrário, mulheres que vivem como homens, também existe e é aceito. Isto revela uma aprovação social que permite a mudança de gênero.

O termo berdache foi primeiramente utilizado pelos exploradores franceses da América para descrever os indígenas norte-americanos homossexuais passivos, isto é, aqueles nativos que mantinham relações sexuais com outros do mesmo sexo e eram penetrados por esses. Isto gerou a confusão e sinonímia entre homossexualidade e travestismo com o fenômeno de mudança de gênero. Aliás, a palavra berdache deriva do francês “bardash” que, por sua vez, é derivado do termo italiano “ berdascia”, com origem no árabe “bardaji”, variação do persa “barah”, que significa escravo, michê ou prostituto.

Outras tribos são descritas como os Cocopa, os Mojave, Navajo, Jukis e Pueblo, tendo e aceitando os mesmos comportamentos. Há registros de "invertidos sexuais" também nas tribos Tupinambás. Os "invertidos sexuais" dessas tribos, algumas vezes referenciados como homossexuais sem necessariamente serem considerados como transexuais, eram chamados de "tibira" (para o sexo masculino) e "çacoaimbeguira" (para o sexo feminino) com origem na língua Tupi.


O mesmo fenômeno se repete entre outros povos, desde tribos siberianas, africanas, brasileiras, da Patagônia e, inclusive, da Oceania.


Entre os indianos da cidade de Varanasi, ao norte da Índia, rituais de castração ou de se vestir como mulher é aceito e explicado culturalmente, como entre os hijras e os jankhas. Segundo MONEY (1988), os hijras podem ser considerados tanto indivíduos pertencentes a uma casta quanto a um culto. Possuem uma deusa própria, Bahuchara Mata e pela medicina ocidental podem ser considerados transexuais masculinos.



quarta-feira, 26 de março de 2008

Curiosidade


EUA: homem transgênero engravida para constituir família


26/3/2008


Thomas Beatie, um americano transgênero casado com Nancy, decidiu engravidar e realizar o desejo do casal de constituir uma família. Unido legalmente com sua esposa, que há alguns anos precisou submeter-se à uma cirurgia de retirada do útero, Thomas entendeu que para o desejo de ambos se realizar, ele teria que gerar o próprio filho.Mesmo recebendo críticas de diversos setores da sociedade, Thomas decidiu parar de tomar as injeções de testoterona e dar início à sua gravidez.Quando indagado sobre como se sentia sendo um homem grávido, Thomas respondeu, "é incrível. Apesar de minha barriga estar crescendo com uma nova vida dentro de mim, me sinto estável e seguro do homem que sou. Eu serei o pai de minha filha, e Nanci será a mãe. Seremos uma família", afirmou.Para Thomas, o desejo de ter um filho biológico não é um instinto feminino ou masculino, mas sim um instinto humano.

Notícia retirada de : http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/11_101_66010.shtml

Serviços disponíveis - Atualização

Para quem estiver em BH e adjacências, vale a pena verificar se tem todos os procedimentos cirúrgicos e SRS para ftms. A cirurgia a que eles se referem no e-mail é a SRS para mtfs.

"Prezado senhor,

O Hospital das Clínicas da UFMG realiza sim, a cirurgia de mudança de sexo (transgenitalização), mas primeiramente você deve procurar o posto de saúde e solicitar encaminhamento para o Ambulatório de Urologia do Hospital das Clínicas. Já foram feitas 04 cirurgias e a duração é de mais ou menos 08 horas e o pós-operatório 36 horas.

O médico do serviço alerta ainda que o paciente que deseja se submeter a tal cirurgia, deve entrar no site do Conselho Federal de Medicina, www.cfm.org.br, para verificar se ele se enquadra nos critérios exigidos.

Atenciosamente,

Assessoria de Comunicação
Hospital das Clínicas da UFMG
(31) 3409-9355 *** ac@hc.ufmg.br "

Etiologia da transexualidade

Não há tema mais abrangente, mais rico e mais misterioso do que o estudo do psiquismo humano e, talvez, em razão da sua complexidade, desconhece-se até hoje, com exatidão, a etiologia da transexualidade. Dentre os vários posicionamentos que se colocam na doutrina, elaborados no intento de explicá-lo, destacam-se algumas teorias, entre elas a hormonal, a genética, a fenotípica, a psicogênica e a eclética.

As TEORIAS HORMONAIS propõem que a organização do cérebro dependeria da atuação dos hormônios sexuais em períodos críticos do desenvolvimento. Segundo alguns autores, a exposição pré-natal à testosterona, por fatores genéticos ou ambientais, é necessária para a masculinização do cérebro e futuro comportamento masculino. Quanto maiores os níveis de androgênios, maior seria a predisposição biológica para bi ou homossexualismo ou mesmo transexualidade em mulheres, ocorrendo o inverso no homem com a falta dos androgênios. Algumas pesquisas especularam sobre diferenças entre os cérebros masculino e feminino a partir do conhecimento de que o cérebro do homem adulto é maior 10% a 15% que o das mulheres.11

O estudo da TEORIA GENÉTICA supõe que haja um gene no cromossomo sexual especificamente destinado a identificar e sentir o gene masculino ou feminino, sendo que esse gene sexual se acha intimamente ligado ao cromossomo Y do macho e a um ou ambos os cromossomos X da fêmea. Haveria também a possibilidade de ruptura de um gene de diferenciação, por exemplo, do cromossomo Y, que se transferiria e vincular-se-ia no X, ou vice-versa. O mesmo ocorreria para o homossexualismo, travestismo e outras parafilias. Para esta teoria, o sexo cromossômico amparado pelo suporte endócrino originaria o terreno responsável pela sexualidade individual, quando o condicionamento psicológico dos primeiros anos de vida daria as últimas pinceladas ou retoques na essência da identidade no gênero do indivíduo (padrão psicológico). Assim, esse terreno seria inacessível a técnicas psicoterápicas, enquanto que os fatores ambientais (prováveis condicionantes) poderiam ser passíveis de alguma precária intervenção psicoterápica.12

A TEORIA FENOTÍPICA atribui a origem da transexualidade ao biótipo do indivíduo cuja conformação anatômica feminóide, ginóide, ginoandróide ou androginóide induziria, com o seu estigma, o desabrochar do quadro. Considera a teoria lombrosóide pouco científica e nada convincente, uma vez que o indivíduo se dá conta dos atributos físicos após a puberdade e no transexual as manifestações e inclinações ocorrem desde tenra idade.13

Um ponto de interesse para os psiquiatras são as influências dos pais no desenvolvimento da transexualidade. Roberto Farina considera a TEORIA PSICOGÊNICA a mais convincente, afirmando que, certamente, desde o nascimento, existem diferenças entre os sexos, entendendo que provavelmente a fixação do padrão psicológico se inicie diante da reação diferente dos pais (FARINA, Roberto. Transexualismo: do homem à mulher normal dos estados de intersexualidade e das parafilias. São Paulo: Novolunar, 1982, p. 131). O pai do transexual masculino é, quase sempre, ausente. Quando presente, é subserviente, porque a esposa assumiu o seu lugar, havendo uma falha na identificação normal e predominando uma identificação feminina. Com relação à transexualidade feminina, encontram-se pais alcoólatras, machistas, violentos, encorajando a identificação masculina até para proteger a figura materna. Segundo Tsoi, 22% das filhas transexuais sofreram abuso sexual dos seus pais e em 37% dos casos a relação entre os pais era turbulenta, doentia, com separação.14 Roberto Farina também aponta a infância infeliz como responsável pelo desenvolvimento psicossexual anormal.15

Na TEORIA ECLÉTICA, todos os fatores mencionados anteriormente atuariam ou interfeririam no surgimento da transexualidade. Haveria causas hormonais, genéticas, fenotípicas e psicogênicas, cuja atuação conjunta levaria ao quadro de transexualidade.


9 KLABIN, Aracy. Transexualismo. Revista de Direito Civil, Imobiliário, Agrário e Empresarial, São Paulo, v. 17, p. 27. jul./set. 1981.
10 FERRAZ, Sérgio. Manipulações biológicas e princípios constitucionais: uma introdução. Porto Alegre: S. A. Fabris, 1991, p. 64.
11 COSTA, Christiana M. F., GADELHA, Mônica Roberto, MEIRELLES, Ricardo M. R. Transexualismo. JBM: jornal brasileiro de medicina, São Paulo, v. 66, n. 6, p. 148, jun. 1994.
12 SUTTER, Matilde Josefina. Determinação e mudança de sexo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 112.
13 SUTTER, Matilde Josefina. Determinação e mudança de sexo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 112-113.
14 COSTA, Christiana M. F., GADELHA, Mônica Roberto, MEIRELLES, Ricardo M. R. Transexualismo. JBM: jornal brasileiro de medicina, Rio de Janeiro, v. 66, n. 6, p. 149, jun. 1994.
15 FARINA, Roberto. Transexualismo: do homem à mulher normal dos estados de intersexualidade e das parafilias. São Paulo: Novolunar, 1982, p. 132-133.


Texto retirado de: http://209.85.207.104/search?q=cache:PcaosOBXDawJ:www.silviamota.com.br/enciclopediabiobio/transexualidade.pdf+5+teorias+sobre+o+transexualismo&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=1&gl=br

Síntese e adaptação de texto contido em: Transexualidade MOTA, Sílvia. Da bioética ao biodireito: a tutela da vida no âmbito do direito civil. 1999. 308 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil)–Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1999. Orientador: Professor Vicente de Paulo Barretto. Aprovada com distinção. Não publicada.

Um olhar histórico e cultural sobre transgressões de gênero II

Aspectos mitológicos

Na mitologia greco-romana, segundo GREEN (1998), encontra-se referência a Vênus Castina, a qual, para GREGERSEN (1983, p. 71) seria a “deusa que se preocupa e simpatiza com os anseios de almas femininas presas em corpos masculinos”. Uma das várias denominações e especificações da deusa do amor, mais conhecida entre os gregos por Afrodite.

Outras referências mitológicas são encontradas em indivíduos cuja mudança de sexo não se dá por desejo, mas, sim, por punição divina. GREEN (1998) cita o mito do adivinho Tirésias de Tebas, que, ao ascender ao monte Citerão, encontra duas cobras copulando. Ao separá-las e matar a fêmea, ele é punido pelos deuses, sendo transformado em mulher. Sete anos depois, ao se adaptar a essa condição e forma femininas, Tirésias sobe o mesmo monte. Ao se deparar com a mesma cena de duas cobras copulando, mata o macho e, com isso, consegue ser novamente transformado em homem pelos deuses. Por ter experimentado tanto o prazer sexual feminino quanto o masculino, Tirésias é escolhido como juiz em uma disputa entre Zeus e Hera com relação a esse tema. Ao afirmar no veredito que o prazer da mulher era superior ao do homem, na proporção de nove a um, a deusa o cega, pois apesar de aparentemente dar a vitória às mulheres, sua conclusão privilegiava os homens, na medida em que o prazer feminino dependeria do desempenho masculino. Zeus, condoído, dá-lhe o dom da adivinhação como forma de “ver o futuro”. Tal dom desempenhará papel especial em outros mitos como, por exemplo, o de Édipo.


Já no Reino da Frígia (atualmente região da Turquia), os sacerdotes do deus Átis - filho e amante de Cibele, a mãe Terra - eram obrigados a se castrar em deferência a Átis, que se emasculou sob um pinheiro por conta desse amor proibido, mas realizado. Esses sacerdotes não só se castravam, mas também podiam retirar toda a genitália externa masculina. Viviam e se vestiam como mulheres comuns. O culto foi levado a Roma após as Guerras Púnicas travadas contra Cartago nos séculos III e II a.C., onde, apesar de proibido, era valorizado. Para homenagear esse amor entre mãe e filho, os iniciados no culto de Cibele dançavam em frenesi no Dia do Sangue. Os sacerdotes do culto atravessavam as ruas de Roma, extirpavam seus testículos com uma faca de pedra consagrada e depois jogavam as partes ensangüentadas na casa de um romano fora de suspeita. Os moradores afortunados dessa casa deveriam dar roupas de mulher ao sacerdote, que as vestiria até o final de sua vida. Conhecidos como galli, esses eunucos vestidos de mulher tomavam conta do templo de Cibele, que permaneceu até o século IV d.C. no sítio romano hoje ocupado pela basílica de São Pedro.

Os gregos possuíam ainda um deus chamado Hermafrodita, que era o patrono da união sexual. Filho de Hermes e Afrodite, possuía mamas e pênis. Conforme estátuas e representações no Museu do Louvre e outros museus, ele lembra muito os atuais travestis ou transexuais, tanto em forma física como em postura: masculina e feminina ao mesmo tempo.

Outra referência mitológica remete a uma tribo de Cítios - povo da Antiguidade - os Enarees, que foram punidos por Afrodite por terem saqueado seu templo mais antigo, em Ascelon. Foram transformados em mulheres assim como toda a sua descendência. Hipócrates, todavia, via a feminilização dos Enarees como resultado de intensas e constantes cavalgadas que afetariam sua masculinidade por alguma forma de lesão física.

BRANDÃO (1997) relata que o travestismo e a androgenia estão intimamente relacionados ao casamento do herói grego. São vários os heróis que mudam de sexo: Ceneu, Ífis, Leucipo eram mulheres que foram transformadas em homens na época do casamento; Himeneu, Cécrops, Átamas, por sua vez, eram homens e se transformaram em mulheres também na época do casamento. O autor sugere que o casamento do herói seria uma forma de restituição de um equilíbrio perdido; retoma o mito andrógino narrado por Platão, por meio de Aristófanes, no livro “O Banquete”, no qual todo ser humano era composto de duas partes, ou homem ou mulher, que teriam sido separadas por decisão divina. Dessa forma, desde então todos buscam a metade perdida (homem ou mulher), a “alma gêmea”.

Não apenas na mitologia greco-romana a mudança de gênero encontra-se presente. No livro hindu Mahabharata, é descrita a história de um rei que se transformou em mulher após se banhar em um rio mágico. Teve centenas de filhos e quando foi-lhe oferecida a oportunidade de ser novamente transformado em homem, recusou, pois dizia a quem quisesse ouvir que o prazer da mulher é muito maior do que o do homem. Ao contrário do mito grego de Tirésias, sua recusa foi aceita e ele viveu como mulher.

Na Europa Ocidental, em plena Idade Média, bruxas e demônios dominavam o cenário religioso e cotidiano. Em 1486, dois monges dominicanos, Heinrich Kramer e Jacobus Sprenger, publicam o Malleus Maleficarum, livro depois adotado pela Inquisição no qual relatam-se casos e tratamentos de bruxarias e possessões demoníacas. Interessante nessa obra, um homem nunca poderia ser transformado maleficamente em mulher, mas uma mulher poderia, sim, ser transformada em homem. Isso aconteceria pelo fato da natureza, na visão corrente à época, evoluir da mulher para o homem, sendo a mulher um homem pouco desenvolvido.

Continua...


terça-feira, 25 de março de 2008

Um olhar histórico e cultural sobre transgressões de gênero I

Aspectos históricos

Não existem referências disponíveis a respeito de homens vivendo como mulheres ou mulheres vivendo como homens antes do Império Romano.

Filo, filósofo judeu helenizado do século I. d.C. e morador em Alexandria, segundo Hyde (1994) e

GREEN (1998), descreve homens que se travestem e vivem como mulheres, chegando até a se emascular e retirar o pênis. Seriam os chamados eunucos, termo que deriva da expressão grega para guardião ou zelador do leito. Aqueles que guardavam, sem riscos, os leitos das mulheres de seus senhores.

GREEN (1998) cita as descrições e poemas feitos pelos romanos Manilus e Juvenal acerca desses indivíduos que viviam e se comportavam como mulheres e tinham vergonha e ódio de serem vistos como homens. Esses eunucos, em Roma, tinham os testículos extirpados, mas muitas vezes mantinham seus pênis, o que lhes possibilitava ereções. Alguns, todavia, tinham os testículos e pênis removidos.

Vários imperadores romanos são descritos por se travestirem (transexuais, travestis e transgêneros) ou apresentarem características afeminadas. Contudo, dois casos merecem destaque. O primeiro diz respeito a Nero que após chutar sua esposa grávida, Poppaea, até a morte, arrependeu-se e, tomado de remorsos, buscou alguém parecido com ela. Encontrou em um escarvo, Sporus, essa semelhança. Nero então ordenou a seus cirurgiões que o transformassem em mulher. Após a cirurgia os dois se casaram formalmente – inclusive com direito a véu de noiva e enxoval – e Sporus viveu como mulher a partir de então.

Já o imperador romano Heliogábalo casou-se formalmente com um poderoso escravo, adotou o papel de esposa e oferecia metade de seu império ao médico que o equipasse com uma genitália feminina

No século IX, lenda ou não, teria existido o Papa João VIII nomeado em 855 sucessor do Papa Leão IV. Na verdade, seria uma mulher travestida de homem que teria engravidado e morrido ao dar à luz um bebê. Segundo NEW e KITZINGER (1993), a Papisa Joana teria nascido mulher com o possível nome de Gilberta, e adotou o nome masculino de “John Anglicus” e foi papa por 2 anos, 7 meses e 4 dias. As autoras especulam que o Papa João VIII poderia ter realmente sido uma mulher com deficiência de 21 – hidroxilase, ou seja, uma pseudohermafrodita feminina. De qualquer maneira, a história alcançou nossos dias e transformou-se em filme de Michael Anderson chamado “Pope Joan”, com Liv Ullmann no papel principal.

Há referências até no meio médico de que nessa época da História existiam pessoas de um gênero que se passavam e viviam como se pertencendo ao gênero que não o de seu nascimento.

A maior autoridade em ginecologia medieval e do renascimento teria sido Trotula, mulher formada na Escola de Medicina de Salerno que teria escrito por volta de 1150 d.C. os mais populares tratados de cosmtologia e saúde de mulheres. Na realidade, Trotula teria sido um homem que se travestia de mulher para tratar de mulheres. Essa seria sua única opção, pois era então proibido um homem cuidar de uma mulher no papel de médico.

Já na Renascença, o Rei Henrique III de França, “Sa Majeste” – que significa Sua Majestade, mas no feminino – queria ser considerado mulher, tendo se apresentado aos deputados travestido, usando um longo colar de pérolas e um vestido curto.

Durante o século XVII, na França, o abade de Choisy, também conhecido como François Timoleon, após ter sido criado como menina por sua mãe, deixou um vívido relato de seu desejo de ser e de se vestir como mulher.

Um dos mais famosos personagens de “cross-gender” é o Chevalier d' Eon, que deu origem ao epônimo “eonismo” para significar o fenômeno do travestismo em linhas gerais. Ele era o rival de Madame de Pompadour como amante de Luis XV. Quando o rei descobriu seu erro de avaliação, nomeou-o embaixador. Quando Luis XV faleceu, ele viveu permanentemente como mulher. Passou seus últimos anos na Inglaterra e viveu 49 anos como homem e 34 como mulher.

Em Versalhes, em 1858, Mlle. Jenny Savalette de Lange revelou, ao morrer, se tratar de um homem. Passou toda a vida como mulher, tendo se relacionado com seis homens; tinha certidão de nascimento falsa e recebia do rei uma pensão e moradia em Versalhes.

Não apenas na França esse fenômeno se manifestava. Nos Estado Unidos da América do Norte, é famoso Lorde Cornbury, primeiro governador colonial de Nova York, que chegou ao Novo Mundo vestido como mulher e despachava assim em seu escritório. Cem anos depois, durante a Guerra de Secessão, Mary Walker foi a primeira mulher a ser comissionada como cirurgiã do exército e a ser autorizada pelo Congresso a se vestir com roupas de homens.



Continua...


Testosterona - Mudanças estimadas x tempo - Parte 2


A sua libido vai aumentar sensivelmente nos primeiros meses, e sexo pode se tornar grande parte dos seus pensamentos, mas não significa que você está tarado ou obcecado, é apenas parte das mudanças. Com o passar dos meses isso acalma, mas sua libido agora permanece num patamar masculino, com uma resposta a excitação mais rápida e fácil.


O clitóris, vai continuar aumentando, passada a fase de dolorimento. Não espere um portento, mas ele chega a 3/5 cm de crescimento, dependendo da sua resposta ao hormônio. Há alguns relatos de 10 cm. O crescimento se dá na maior parte em comprimento, havendo algum aumento de diâmetro também. Depois de algum tempo, será até possível senti-lo crescer e inchar durante a excitação, com a diferença que ninguém vai poder ver quando isso ocorre, mas você vai poder sentir. Ele não cresce por muito tempo, geralmente, o crescimento maior se dá no primeiro ano, ano e meio e depois cessa.

Sua pele vai ficar mais oleosa e a textura vai mudar. Os odores corporais ficam mais intensos. Há relatos de que o cabelo fica mais escuro e de que a textura dele também muda, ficando mais fino e ralo.


Na parte óssea nada ocorre, você não vai aumentar de estatura, mas estranhamente há relatos de aumento do número de calçado em um ou dois números, ou em certo alargamento dos nós dos dedos da mão.

Há também um aumento no gasto de energia uma vez que seu metabolismo fica mais acelerado, mas cuidado! Por isso é natural sentir mais fome, mas não saia comendo tudo achando que não vai engordar. Engorda sim e isso pode aumentar o risco das possíveis complicações cardíacas.


Você não vai ganhar no quadril, mas vai ter em compensação uma bela barriga e fartos pneus que é aonde se concentra o aumento de gordura corporal masculina. O aumento de massa muscular ocorre, mas não é milagre. Com exercícios adequados esse ganho pode ser melhor e mais definido. A redistribuição de gordura não vai diminuir sua ossatura. A gordura do quadril e nádegas se desloca, mas se você tem um quadril largo, por baixo da capa de gordura, isso não vai mudar.


Vale lembrar que essas mudanças são uma estimativa. As mudanças variam da sua resposta pessoal ao hormônio, da sua genética e estrutura corporal. Testosterona não faz milagre. Por isso é imprescindível, além do risco à saúde, um acompanhamento médico adequado, com monitoração dos seus níveis sangüíneos, ultra - sons entre outros. O médico vai lhe dizer qual a dose, a freqüência das tomadas e até mesmo cuidar de doenças prévias metabólicas que poderiam atrapalhar o desenvolvimento correto e também quaisquer eventualidades que ocorram durante o tratamento.

É fundamental que se evite gorduras, álcool e fumo. Além de fazer mal a saúde diária, com a introdução do hormônio pode trazer conseqüências que atrasem sua vida.

Por fim, leve uma vida saudável, exercite-se, faça acompanhamento médico, e aproveite sua puberdade tardia. Não queira milagres, nem mudanças que seu corpo não pode te dar, aproveite e curta as que você terá, trabalhando com elas e, mais importante vivendo sua vida como ela vier.

Fonte :
http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=022
AVISO: A resposta ao hormônio varia de indivíduo para indivíduo, e apesar das mudanças serem as mesmas, o tempo e a evolução podem variar.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Testosterona - Mudanças estimadas x tempo - Parte 1


Finalmente você consegue sua prescrição para começar a tomar testosterona. Um misto de excitação e medo invade você, afinal esse é o primeiro passo de uma transformação mais radical. Essa sensação é natural, e o medo não significa que você não sabe o que quer, mas é uma reação mais que comum ante a algo "in"esperado. Ainda que muito desejado, o limite entre desejo e realização pode causar um certa estranheza a princípio.


No dia seguinte a sua primeira tomada, o mais provável é que você não sinta nada além de um bem estar, até mesmo psíquico, de dever cumprido. No final de uma semana a quinze dias, a garganta vai começar a falhar, uma sensação de gripe constante, de secura, e sua voz vai ir e vir durante um bom tempo. Espinhas podem aparecer. O clitóris vai ficar aumentado, inchado e sensível como se estivesse machucado, mas isso é normal, depois de algum tempo ele cresce, mas sem a sensação de dolorido.

Nos próximos meses, começa-se a perceber mudanças nos pelos corporais. Eles não vão nascer em abundância da noite para o dia e levam alguns anos para que eles apareçam como ficarão para o resto da sua vida. Entradas começaram a aparecer na linha capilar, o que pode progredir até calvície ou realmente apenas dar entradas mais masculinas.

Por volta de três meses, a menstruação tende a parar, com escapes ainda ocorrendo eventualmente, mas entre três e seis meses no máximo o ciclo cessa. Quando a menstruação para, você vai começar a notar a redistribuição de gordura e o aumento de massa muscular, que também vai ocorrer lentamente na mesma proporção que seu útero e ovário começarem a diminuir e sua produção de hormônios femininos decrescer gradativamente. Uma maior percepção dessa mudança pode ser notada a partir do primeiro ano.

Continua....

AVISO: A resposta ao hormônio varia de indivíduo para indivíduo, e apesar das mudanças serem as mesmas, o tempo e a evolução podem variar.

E quando você se descobre?

Quando você se descobre FTM, e dá nome ao que sente internamente, surge à dúvida: Aonde ir? O que fazer? Existem serviços para gente igual a mim?

Antes de tudo não se sinta só, nem entre em desespero, existem pessoas no mundo todo passando pelo mesmo momento que o seu, e melhor, aqueles que já encontraram suas saídas ajudando a quem ainda as busca.

No Brasil existe uma regulamentação, colocada aqui em posts anteriores, que dita como e onde essas intervenções devem ser feitas. Essa regulamentação foi estipulada pelo Conselho Federal de Medicina e segue o que é preconizado no exterior como tratamento. Não é perfeita, existem falhas ao nosso ponto de vista, mas é muito mais do que se tinha anos atrás: nada.

Em comparação a outros países, ainda engatinhamos no que concerne a terapêutica e tratamento social do transexual, mas é inegável que existem progressos. Uma atitude negativista de que tudo é ruim, demorado ou errado, só atrasa seu próprio progresso. Sejamos realistas, afinal os serviços disponíveis são públicos, e serviço público por aqui não é exatamente um primor, mas também não ache que nada presta. O mesmo vale para acompanhamento particular e para tentativas pelo SUS. O importante é procurar.

Maus profissionais existem em qualquer área, e temos a capacidade de discernir se o serviço é bom ou ruim, se irão atender as nossas necessidades e até mesmo de questionar e exigir nossos direitos por um serviço digno e humano.

Não ache que existem saídas mágicas e miraculosas, soluções rápidas e dispendiosas. O processo é longo e cansativo, mas se feito corretamente, surte resultados que ajudaram você, a se relacionar com si próprio, com o mundo e a se re - adequar, não só as mudanças internas, mas a figura que vai nascer dessa busca. Desejar e ver concretizado provocam movimentos diferentes, e aprender a lidar com eles é fundamental para que noções estereotipadas e impostas pelo meio não se tornem um fantasma e façam você se sentir um erro da natureza. Você não é.

Além do que seu cérebro vai precisar de um tempo para entender essa mudança corporal. Alguns, por mais certeza que tenham de si mesmos, chegam a ficar deprimidos pós-cirurgias, ou quando tentam apressar o ritmo da coisa, pulando etapas. Mas isso é um quadro natural e esperado, não se desespere.

Os serviços sozinhos e seus profissionais não podem ajudar a você se não quiser ajuda, ou não colaborar, e por colaborar não entendam por ficar calados e quietos. Mas existem limitações de ambos os lados e por isso a cooperação de ambos é necessária.

Sem uma ajuda adequada, por mais que você saiba ser FTM, outras questões podem atrapalhar e transformar sua vida num mar de incertezas e medos, alguns dos quais provavelmente você nem soubesse existir internamente. Até para essa onda que surge, é preciso um acompanhamento que trabalhe a situação como um todo. O segredo é reaprender a lidar com o que vai acontecer, e não se isolar e achar o mundo seu mais cruel inimigo. Nosso mais duro crítico e inimigo somos nós mesmos.

Também não espere milagres desses serviços, cada organismo responde de uma forma particular a terapêutica hormonal e até mesmo cirúrgica. Não confunda, possibilidades reais suas de estrutura física e genética com erro médico ou falta de atendimento.

Um começo tranqüilo, dentro do possível, garante um meio e um final onde seus objetivos serão alcançados. Vivendo na realidade e trabalhando com o que lhe é dado da melhor maneira possível, e o mais fabuloso de tudo, sendo você mesmo.

Atualmente esses serviços estão disponíveis em alguns estados do país, conforme postado anteriormente. Procure junto ao Conselho Regional de Medicina e o Conselho Federal de Medicina para onde você pode ser encaminhado. Procure também junto a associações e sociedades de medicina, p.ex. Sociedade Brasileira de Endocrinologia (Ver Links), profissionais perto da sua área.

Não tenha medo, vergonha, nem se esconda. O tratamento existe e é possível, seja você gay, hetero, bi, judeu, católico, espírita, protestante, negro, branco, amarelo, azul, cor de rosa, enfim seja como for, existe um lugar para você.

domingo, 23 de março de 2008

Masculino / Feminino - Parte III


Alterações de comportamento sob uso de testosterona II

No quesito agressividade, eu já era alguém um pouco mais agressivo, sendo que percebi um aumento desse comportamento, somado a uma baixa tolerância a situações que sejam particularmente irritantes ou com as quais eu discorde.

Mas por outro lado me tornei mais prático, mais preto no branco, sem enxergar tantas nuances. Mais direto o que pode ser interpretado por grosseria dependendo de quem esteja do outro lado. Mais focado em uma única coisa, sem fazer mil ao mesmo tempo, e igualmente mais impositivo, com aumento da sensação de uma necessidade de dominação.

É verdade que isso poderia apenas ser levado como uma absorção de estereótipos culturais do macho por assim dizer; algo que a sociedade incute em nós, e que mesmo sem querer acabamos permitindo que entre em nossas mentes, e quem sabe, nossas vidas. Já me questionei sobre algumas vezes, na tentativa de procurar sinais dessas mudanças, mas vindo de uma educação liberal, não consigo encaixar o tal estereotipo em lugar algum, restando somente o resultado da ação do hormônio sobre meu comportamento.

Apesar das alterações que constatei, continuo sendo alguém com gosto para algumas atividades que possam ser tidas como menos masculinas; mas ao mesmo tempo o funcionamento de uma máquina ou como consertar algo se tornou igualmente atraente. Ou seja, ter alterações comportamentais em decorrência da testosterona não excluí comportamentos anteriores, pode sim somar alguns, e modificar outros com maior ou menor intensidade.

Isso nos leva ao fato de que homens e mulheres são diferentes sim. De que homens e mulheres têm aptidões diferenciadas sim, mas que isso não significa que um seja melhor do que outro a ponto de haver uma predominância de x sobre y ou vice versa, mas que existe uma diferenciação natural não oriunda de comportamentos e regras sociais.

Mas também não significa que homens não possam ser emotivos, afetuosos, e sejam bons ouvintes, por exemplo. Nem que mulheres possam ser agressivas e mais inclinadas a assumir papéis dominantes. Existem variações.

Vale lembrar que nenhum ser humano é unidimensional, e que somos uma mistura de comportamentos herdados, biológicos, de influências hormonais e do meio sócio cultural em que vivemos. Parece-me leviandade se excluir completamente aquele ou esse fator quando se fala de comportamento humano; generalizando a um único quociente, quando nossa própria biologia por si só resulta em uma fascinante máquina intricada com diversas nuances. É claro que existem situações em que um fator fala mais alto que outro, ou em que um embota a expressão do outro, ou ainda em que haja uma congruência gerando um determinado comportamento.

O fato é que, em maior ou menor escala, podemos esperar que haja alterações de comportamento com o uso da testosterona em homens transexuais, mas a qualidade, a quantidade e a intensidade dessas alterações são tão particulares quanto as alterações que acontecem no físico de cada indivíduo.


AVISO: As alterações aqui relatadas foram observadas por mim no meu comportamento e apesar de irem de encontro a outros relatos não podem ser generalizadas.

sábado, 22 de março de 2008

Masculino / Feminino - Parte II




Alterações de comportamento sob uso de testosterona I

Personalidade sf. 1. Caráter ou qualidade do que é pessoal. 2. o que determina a individualidade de uma pessoa moral; o que a distingue de outra. 3. Personagem (1).

Comportamento sm. Maneira de se comportar; procedimento.

Antigamente psiquiatras diziam que a personalidade era imutável. Hoje alguns defendem que ela não é imutável, mas maleável e adaptável a algumas situações. Já o comportamento pode ser modificado, e no caso em questão, de homens transexuais, ele é modificado pela ação da testosterona.

Já li relatos de diminuição de emotividade, afetividade, aumento de agressividade, entre outros.

Destes todos o que mais provoca especulações é o fator agressividade, o que cabe uma explicação particular: é fato que homens têm respostas mais agressivas do que mulheres em função do hormônio, mas nunca li nem ouvi que o efeito da testosterona em um homem trans fosse tão avassalador que alguém pacífico se transformasse em uma máquina de agressão. O que pode ocorrer é haver um aumento da agressividade natural de alguém. Por associação, se o indivíduo já fosse mais agressivo, pelo óbvio, esse nível seria um pouco maior de alguém que não fosse tanto.

Vou a partir desse momento usar a minha experiência pessoal para descrever as alterações que percebi, e quem vêm de encontro ao que já encontrei relatado.

Sendo um indivíduo tímido, percebi que houve uma diminuição dessa sensação em contra ponto a uma maior segurança e sociabilidade pós - hormônio. Isso não significa que eu tenha deixado de ser tímido, mas me tornei menos fechado e mais sociável, ainda que minha personalidade mantenha características a introversão.

Algo que sempre me intrigava era a velha história de que homem não chora. Por incrível que pareça adquiri uma dificuldade extrema em chorar, e somente acontece em situações muito específicas. Muitas vezes por mais que eu queira, não consigo nem ficar com os olhos marejados. A sensação é de uma parede me impedindo de ter tal comportamento.

Junto do choro pode-se falar da afetividade, o que diminuiu sobremaneira com o passar do tempo. Antes um indivíduo extremamente afetivo, hoje um simples abraço pode me parecer bem desconfortável, e a escolha por um aperto de mão parece a mais lógica alternativa. Tornei-me menos afetuoso com minha esposa, o que não significa que eu não seja atencioso, são duas situações diferentes. Sorte minha que ela não se incomoda e entende por ter acompanhado tudo de perto desde o início.

Isso me leva a emotividade, não somente choro, mas englobando outras situações como alegria em que me sinto embotado e com sérias dificuldades de expressar alguma coisa que envolva emoção.

Continua....

Masculino / Feminino - Parte I


O mundo evoluiu, ou ao menos gostamos de pensar assim. Existem inegáveis progressos científicos, culturais, sociais, mas até que ponto isso é real? Ainda temos como alguns valores aqueles de nossas vós, e quem sabe alguns até de nossas bisavós. Vou me utilizar aqui da questão do binômio masculino / feminino.


Alguém na nossa situação, de ser transexual, seja FTM ou MTF, não precisa muito para perceber que ainda existem divisões entra o que seja masculino ou feminino enquanto postura, atividades e afins.


Exemplificando: certa vez fui a uma loja aonde se vende espuma, chego e peço a espuma tal e ainda que minha esposa estivesse comigo, e eu partilhasse com ela a opção de escolha, era como se ela não existisse. Tudo dirigido única e exclusivamente a mim, até mesmo durante o pagamento feito por ela, o vendedor se dirigia a mim. Foi meio surreal não posso negar, mas curioso do ponto de vista comportamental. Se isso é certo ou errado, não estou aqui para julgar, mas me leva a pensar o que nos foi ensinado, o que nos foi dito a cerca de homem e mulher e vou além, imagina a confusão na cabeça do vendedor se ele soubesse da real situação.

O feminismo apostou e aposta na liberação da mulher, hoje cada vez mais independente e dona de si, ao mesmo tempo em que surge um novo homem que busca suprir e se adaptar as necessidades desta nova mulher, mas apesar de tudo comportamentos arcaicos e retrógrados ainda permeiam nossa sociedade de ambos os lados.


Uma causa disso pode ser a falta de educação, entenda-se aqui educação por cultura, e a falta que a maioria das pessoas tem desta, crescendo cercadas por heranças familiares de pensamento e estrutura, passados de geração a geração sempre da mesma forma. Se o indivíduo não tem curiosidade própria ou não tem condições de acesso à informação, ainda que essa seja abundante hoje em dia, se perde no passado do próprio passado.


Outra causa ao meu ver seria a questão da nossa programação biológica, e da importância hormonal nesse esquema, afinal de contas evoluímos por assim dizer, mas ainda somos animais que aprenderam a viver e se comportar em sociedade, baseada em regras, direitos e deveres. E esse outro aspecto é curioso do ponto de vista do transexual, que muta de um corpo e experiências de um gênero para o outro que sempre lá existiu internamente.


Pergunto-me então até que ponto, todos os movimentos que criamos não vão contra nossa verdadeira natureza, cerceando nossa identidade biológica. Este texto pode parecer uma ode ao machismo ou uma pseudo-explicação do comportamento masculino, mas hoje em dia, enquanto exemplo vivo dessa dualidade, percebo que grande parte das diferenças vem também dos hormônios.


Não acho que seja só isso; há o meio interferindo também, o meio que escraviza e impõe, mascarado por uma falsa individualidade cada vez mais padronizada. Creio que esse meio é apenas a válvula de controle e escape das nossas pulsões tão primitivas. Ainda levo em consideração o inconsciente coletivo de Jung como possível explicação dos comportamentos em comum inerentes aos seres humanos, mas no final acredito sermos na verdade a soma disso tudo.

Enquanto transexuais, e aqui falo de FTM’s e MTF’s, sabemos que nosso DNA nunca nos deixará esquecer internamente de onde viemos e começamos, vivendo sendo intermediários desse binômio de alguma forma, mas sabendo sempre que identidade, personalidade, caráter, comportamento masculino / feminino é único e pessoal; que não se compra, não se cria, não se destrói nem se deseja, mas se tem.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Quem somos nós?

Essa pergunta que assombra a humanidade desde que esta tomou ciência de si, passa por mim mas em outro nível: Quem somos nós, os transexuais femininos, homens transexuais, FTM’s, hienas, etc. e tal?

Neo - homens modificados a luz da ciência, hormonal e cirurgicamente readaptados as condições funcionais de vida. Cada um dentro de suas histórias e vivências de um passado que não pode ser apagado e sonhos de se tornar super heróis.

Curiosamente, este fenômeno da exposição de homens transexuais se deu de uns anos para cá, numa área onde até então apenas mulheres transexuais eram consideradas como palpáveis. Assusto-me ainda ao ler um artigo sobre congressos, seminários, simpósios que seja de direito, endocrinologia, sexologia ou quaisquer "gias", onde só se menciona a transformação de homem para mulher e nunca vice versa. Se há alguns anos nós não éramos presentes, agora somos e em bom número para sermos levados a sério.

Claro que alguns fatores podem ter contribuído para essa reclusão de trans-homens, como uma educação feminina repressora, onde sexo e quaisquer assuntos relacionados à sexualidade eram tabus e jamais deveriam ser proferidos ou se quer pensados por uma mulher. Bem como uma não disposição da sociedade em levar em consideração que uma mulher biológica possa se identificar com o gênero masculino e sentir-se parte dele e buscar a semelhança física com este; resultado provável também de uma série de preconceitos de uma sociedade patriarcal, e de um inconsciente coletivo, onde a mulher é tida como geradora de vida, mãe, senhora da fertilidade, e daí pura e imaculada por onde desejos relacionados a sexualidade não passariam ou poderiam ser discutidos.

Por mais arcaicos que pareçam esses fatores e a amplitude do ser masculino / feminino, não se pode negar que eles parecem ter sido levados em conta, ainda que pelo não dito das palavras, na hora de citar e se buscar causas e tratamento para a transexualidade feminina.

Mas para nossa felicidade o mundo evolui, e hoje eu posso dizer que nós estamos aqui, ainda reservados, cada um dando a sua contribuição, mas apenas esperando uma orientação, unidos em prol de um bem comum que busque a readequação física e social dos trans-homens; tendo consciência dos nossos limites pessoais e dos limites da medicina nesse aspecto, mas ainda assim vivos e crescentes lutando por estudos, acompanhamentos e reconhecimento de nossa existência dentro desse mundo psico - metabólico - social - transexual tão particular.

Nietzsche tinha razão ao dizer que identidade é conflito, seja o nosso interno de resolução, aceitação e transposição ao real, até aquele da sociedade médica e jurídica que deve lidar com seus próprios pre-conceitos e conflitos frente a uma nova virilidade, mas ainda assim digna de estudo, auxílio e atenção.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Desculpas Esfarrapadas

Uma das coisas que transexuais mais precisam aprender a ter é jogo de cintura e um pouco de cara de pau. Por mais que estejamos aceitando e lidando com essa peculiaridade, não é a todo o momento, nem para toda pessoa que há a necessidade de se dizer que se é transexual. Isso sucita a explicar o que é ser transexual, e não é todo dia que estamos no pique de entrar em tantos detalhes assim. É bom ter o direito de escolher como, quando e para quem você abre o jogo.

É com base nisso que se torna necessário a invenção de algumas desculpas esfarrapadas para escapar de algumas saias justas, ou somente por educação. Desculpas estas que serão usadas, seja pelo andrógino com cara de menino de 13 anos do começo da transição, ou pelo barbudo de voz grave lá do final.

As mais comuns são básicas como perdi a certeira, perdi os documentos, fui assaltado e ainda não tive tempo de tirar segunda via. São boas para situações em que não mostrar a documentação não implica em maiores problemas, é apenas uma questão de pro forma, como ao entrar em uma academia, ir numa lan house, em um hotel ou preencher o cadastro em um hospital. Mas sempre lembre ao atendente que assim que possível você trará os documentos necessários ou pegará na mala, por exemplo.

Em situações como viagens, onde a apresentação da identidade é na maioria das vezes obrigatória, ou quaisquer outras em que seja quase uma necessidade mostrar a documentação, como compras com cartão de crédito, você pode dizer que seus pais fizeram uma promessa e acabaram colocando um nome feminino em você, mas que já está regularizando isso, ou acaso seja algo mais formal sair com sou igual a Buba da novela das oito (o povo adora novela e se lembra dos personagens, apesar da personagem em questão ser intersexual), ou em termos mais diretos sou igual à Roberta Close, mas ao inverso.

Existem aqueles casos que se espera nunca passar, como sofrer um acidente e ficar internado, ou mesmo ir parar em um PS sozinho, ficando a mercê de médicos e enfermeiros. Uma boa saída para banhos de esponja, ou ajuda mais íntima de enfermeiros, é que você tem vergonha por ter um problema de nascença na região genital. Dado a delicadeza da situação a pessoa fará o melhor possível sem invadir sua privacidade. No caso de estar impossibilitado de levantar do leito e oferecerem o “patinho” - objeto em hospitais e clínicas, em forma de bico de pato usado por homens para urinar sem se levantar - uma boa saída é dizer que sua fimose atrapalha a você urinar no patinho, ou que você tem um certo grau de desvio que provoca desconforto ao urinar nele. Por se tratar de uma questão de saúde, a pessoa provavelmente, vai buscar a “cumadre” para resolver sua situação. No pior das hipóteses peça para falar com o médico.

Agora em momentos onde é imperativo que você mostre a documentação, ou onde chequem, por exemplo, número de CPF, você pode dizer que confundiu com o da sua irmã, porque hoje em dia todo mundo tem milhões de números na cabeça, sair com a Buba, a Roberta ou falar a real.

A única situação em que ninguém quer ter de passar, ou deve no mínimo evitar, e durante uma batida policial, porque nesse caso, até se explicar que focinho de porco não é tomada, vai um longo caminho e muita sorte.

E sim as pessoas acreditam nas desculpas, por mais ridículas que elas pareçam. Tudo vai depender da sua postura e atitude ante os outros. Além do que, mantenha sempre o bom humor e a educação, não aja de forma carrancuda, ou como se estivesse comendo sobremesa escondido antes do jantar. Para qualquer situação um indivíduo, reticente, que demonstra certo desconforto é passível de desconfiança, já aquele que mantêm suas palavras, mesmo que soe estranho ao outro, tem grandes chances de escapar ileso do momento. Já se a pessoa partir para ofensas e ignorância, o melhor caminho é tomar outras providências legais cabíveis.

Vale lembrar que juntei algumas desculpas, muitas das quais usei, para dar uma noção do caminho que se pode seguir, mas que são apenas exemplos e que cada um pode, e deve, criar as suas, adequando ao seu estilo de vida, as suas necessidades e ao momento em que se encontra.

Como será estar do outro lado?

Clamamos tanto que as pessoas nos entendam, e aqui falo de transexuais somente, para sermos reconhecidos, e podermos funcionar normalmente sem vestígios de nosso passado, ao menos legal, em nossas vidas. Mas como é para as outras pessoas, inclusive dentro da "comunidade" GLBTT, entender o que se passa em nossas cabeças? Como entender o motivo de alguém querer romper com esse binômio masculino / feminino? Que nossa mente não lê nosso corpo, e nossa alma não reconhece este físico?

Coloco-me então na posição de alguém recebendo um cheque aonde identidade e físico não batem, percebo minha desconfiança e pergunto a pessoa, tão constrangido quanto eu, que não é possível que deve haver algum engano. Este me diz ser transexual, e eu ainda assim, agora um tanto irritado, digo não poder aceitar, ou aceito e passo a ostentar uma atitude seca e até grosseira para me ver livre do incomodo. Eu não sei o que é um transexual, para mim é a mesma coisa de travesti, então pela associação rápida e estereotipada, deve ser algum marginal, pervertido e ainda por cima tentando me extorquir, iludir com uma identidade e cheque roubados. Fecho-me em minha ignorância, visto meu medo e rejeito o diferente, até porque na dúvida preciso desse emprego e não posso cometer erros.

Trabalho num RH de uma empresa e chamo Fulana Da Silva para uma entrevista. Aparece-me uma figura masculina, sem peito e com "pinto". Estranho, mas como selecionador não posso cometer deslizes desse tipo, todos somos iguais. Faço a testagem, mas numa má vontade danada, pulo algumas partes. Imagina essa coisa aqui na minha frente querendo dar uma de macho... macho, eu sei o que ela precisa pra dançar pianinho. Ele me explica e até diz que é transexual e eu, formado com pós em recursos humanos acho até que ouvi algo na faculdade ou na televisão, mas não sei bem o que é, e nem quero saber, não é problema meu, sei o que preciso saber e que meu contratante não vai gostar de ter alguém assim na empresa, instável, que nasceu de um jeito e agora diz para mim que não se sente assim e que está mudando. Mudando o quê? Acabo o teste e prometo entrar em contato, mas não vou, prefiro alguém menos capaz, mas fisicamente mais "normal", que não assuste nem cause tanto impacto.

Estranho, talvez eu também tivesse minhas desconfianças se alguém assim chegasse a mim. Eu feliz e "bem comigo", funcional e enquadrado, e tivesse que passar por uma das situações acima; até porque o mundo está cruel, eu preciso de meu emprego, não pode haver enganos, e minha formação superior naquela faculdade, ralando tanto tempo não me permite admitir que existem coisas que não sei ou que difira da minha religião que me diz que homem é homem e mulher é mulher.

Verdade que pensando assim haveria explicação para tudo, motivo para tudo e quaisquer atitudes, mas o bom e velho respeito é algo que, independente das dúvidas que temos, deve ser mantido. Enquanto transexuais, somos também humanos e também temos nossos preconceitos, nossos medos, nossas ignorâncias, às vezes até com nós mesmos. Mas nada que conhecimento não cure, educação não resgate ou aprendizado que abra.

É claro, que em situações que envolvam constrangimento, vexame, ofensas verbais e / ou físicas é mais do que necessário que se tome outras atitudes, afinal ninguém é saco de pancada. Nada que um BO e um bom processo não resolva. Mesmo sem leis específicas de proteção a transexuais e outras minorais sexuais em todos os estados, o que consta na Constituição parece-me mais que suficiente.

O mundo parece cada vez mais distante, seco e duro, todos donos de si e senhores do nada, então porque não se permitir aprender e questionar, ainda que isso cause conturbações e confusões? O mundo não evoluiu até aqui por causa de pessoas com seus medos e ignorância, e na verdade ninguém evolui assim. Não existem grandes evoluções sem quebra de conceitos e idéias, e nem quebra de conceitos sem o pensar individual. O que pode parecer à primeira vista egoísmo é na verdade, uma proposta de unificar as pessoas, de lhes ensinar tolerância e respeito. O governo pode não proporcionar qualidade, mas que tal começar com a qualidade de nós mesmos?

quarta-feira, 19 de março de 2008

Dicas de sobrevivência para FTM III


Utilizar o banheiro masculino pode ser um capítulo à parte. Para usar o mictório, você pode esconder dentro da calça algo tipo um filtro de café de papel enrolado ou aparelhos (semelhantes ao filtro) que permitam a mulheres urinarem em pé durante viagens, previamente posicionado na saída da uretra, de maneira que transporte a urina para fora, sendo apenas necessário abrir o zíper. Mas esse método não é eficaz, pois o filtro só pode ser utilizado uma vez, e esteticamente, se for visto vai ser facilmente descoberto.

Alguns packers, conforme informado em texto anterior, possuem um tubo que é posicionado na saída da uretra permitindo urinar em pé. Mas vale lembrar que pode provocar a proliferação de bactérias e fungos se usado direto por várias horas sem lavar. O ideal é mesmo ir ao reservado, utilizado para urinar por muitos homens que não se sentem confortáveis com a proximidade dos mictórios, ou que tem algum tipo de problema, por exemplo, no caso de amputados.

No caso de utilizar qualquer produto para urinar em pé, treine antes em casa. Muito provavelmente, você vai acabar se molhando todo nas primeiras vezes, até adquirir prática.

Você pode ainda, conseguir urinar em pé, estando no reservado, sem o auxílio de nada. Mas nesse caso treinamento em casa é essencial para não se molhar.

Roupas podem ser uma questão difícil para alguns, devido ao tamanho das vestimentas masculinas; mesmo os tamanhos menores podem ficar grandes. Nesses casos a saída pode ser usar roupas infantis, que hoje na sua maioria imitam as de adulto ou fazer sob medida. Independente da estatura da pessoa, e antes de sofrer qualquer modificação na redistribuição de gordura corporal pelo uso de testosterona, o ideal são roupas largas e camisas para fora da calça sempre que possível. Isso ajuda a disfarçar o quadril, mesmo que pouco, e as formas ainda arredondadas. Tenha bom senso, largas, mas o suficiente, nada em excesso ajuda. Você não deve parecer um palhaço, ou parecer que pegou as roupas de alguém, o objetivo é ser mais um e não se sobressair.

O cabelo é algo muito pessoal, mas um corte mais curto evidencia mais os traços, marcando mais a linha do queixo e adjacências. Tudo depende do gosto e do formato da face. Tome apenas cuidado para não deixar seu rosto mais redondo. Disfarce: homens costumam ter o rosto mais definido e esguio.

Quanto à voz, muitos homens possuem um tom mais agudo, mas se ainda assim você quiser, procure diminuir o tom gradativamente, mantendo sua voz num nível audível. Faça isso em casa, na frente do espelho, pode ser um bom exercício de paciência e tolerância ao mesmo tempo. Caso você possa, procure uma fonoaudióloga, para fazer exercícios específicos e que também ajudarão a impostar a voz.

Enquanto as mudanças não se processam e você não começa a tomar testosterona, um bom jeito de definir o corpo é fazendo uma dieta alimentar, sem passar fome ou cometer exageros, afinal o propósito é melhorar e não ficar doente. Evite gorduras e açúcares, faça exercícios aeróbicos, tipo caminhada, bicicleta, natação, acompanhado de musculação (todos sob supervisão médica sempre). Isso ajuda a eliminar gordura dos locais tipicamente femininos, define a musculatura, permite com que a cartilagem da tireóide apareça, simulando um pomo de adão, afina o rosto e diminui os sintomas de TPM, bem como as cólicas menstruais, além do que você cuida da sua saúde, prepara e protege seu corpo para as modificações que ocorrerão com o hormônio.

Observe os maneirismos e atitudes masculinas na rua, em casa, em qualquer lugar. Assimile o que pode ser bom para você, o que combina com você, sem forçar nada. Aja naturalmente, nada pode denunciar mais do que estereotipias carregadas.

Todas essas dicas são apenas ilustrações, idéias, você pode e deve criar as suas e adequá-las ao seu estilo de vida e necessidades.

Rótulos Sociais II

Drag queen, drag king ou Genderqueer são pessoas que se mascaram como sendo do sexo oposto, fantasiando-se com o intuito geralmente profissional de fazer shows e apresentações, na maioria das vezes em boates e bares GLBTT, de cujo movimento fazem parte. Muitos fazem também o trabalho profissional levando correio elegante. Chama-se drag queen o homem que se veste com roupas de mulher, e drag king a mulher que se veste como homem. São conhecidos pelos seus exageros no vestir, nos modos, na maquiagem e pelo estilo cômico de se apresentar.

Embora na maioria das vezes os drag queens e kings sejam homossexuais (gays ou lésbicas), essa orientação sexual nem sempre é a norma. Podem ser também bissexuais, assexuais e até mesmo heterossexuais.

Crossdressers são pessoas que vestem roupas usualmente próprias do sexo oposto, sem que tal atitude interfira necessariamente em sua orientação sexual. Ou seja, uma pessoa crossdresser não necessariamente pautará sua orientação ou seu papel sexual em função desse seu fetiche por roupas do sexo oposto. Sendo assim, ele pode ser heterossexual, homossexual ou bissexual.

Não utilizam hormônios nem cirurgias plásticas para se assemelharem ao sexo oposto, o que os distingue de travestis e transexuais, pois no dia-a-dia portam-se segundo seu sexo biológico. Em suma, ser crossdresser muitas vezes implica na satisfação em se vestir com roupas do sexo oposto. Em raros casos os crossdressers podem até fazer uso de hormônios para ter uma aparência mais feminina variando de caso em caso. Os crossdressers autodenominam-se "CDs".

Intersexual é a pessoa que nasceu fisicamente entre (inter) o sexo masculino e o feminino, tendo parcial ou completamente desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando sobre o outro. No entanto, a ambigüidade física das pessoas intersexo pode não se ficar pelo aspecto visual dos genitais.

Na medicina, há a diferenciação entre intersexual falso e verdadeiro. A verdadeira intersexualidade (que é uma condição muito rara) é quando os dois órgãos sexuais são igualmente bem desenvolvidos, produzindo hormônios sexuais masculinos e femininos. Já na falsa intersexualidade, um dos órgãos tem maior grau de desenvolvimento sobre o outro, sendo predominante. Estas classificações, no entanto, correspondem a uma definição muito restrita e simplesmente estética da intersexualidade.

A palavra intersexual é preferível ao termo hermafrodita, já bastante estigmatizado, precisamente porque hermafrodita abarcava apenas a questão dos genitais visíveis.

Intersexualidade é uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as pessoas que se autodenominam intersexuais podem se identificar como homossexuais, heterossexuais, bissexuais ou assexuais. Enquanto condição de nascença pode ser mantida ou alterada.

terça-feira, 18 de março de 2008

Rótulos Sociais I


Sempre vale a pena explicar o que significam alguns rótulos sociais muito comuns para diferenciar de forma clara pessoas que cruzam a barreira binária do gênero.


Transexual é o indivíduo que tem como característica principal o desejo constante e intenso de modificar seu sexo genital. Entende-se que uma pessoa transexual possui a genitália de determinado sexo (masculino ou feminino), porém, sua psique (mente) é oposta a ele.


Sendo assim, o transexual de homem para mulher (MtF, Male to Female) é aquele que nasceu com a genitália masculina (pênis), mas sua psique é feminina. Ou seja, se de mulher para homem (FtM, Female to Male), temos uma pessoa que nasceu com a genitália feminina (vagina), mas sua psique é masculina, determinando que ela se perceba interna e externamente como um homem.

Os transexuais vivem grande parte de suas vidas (quando não toda ela) numa grande angústia interna, uma vez que têm a sensação de possuírem uma alma feminina ou masculina encarcerada num corpo físico oposto a tal realidade interna. Isso se traduz também numa angústia extrema, não compreendida cultural e socialmente, sendo muitas vezes até mesmo banalizada.

Transexualidade é uma condição identitária e não uma orientação sexual, as pessoas que se autodenominam transexuais podem se identificar como heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou assexuais.

Travesti ou eonismo era originalmente alguém que se vestia com roupas do sexo oposto para se apresentar em shows e espetáculos, mas essa prática passou a designar hoje em dia principalmente os transgêneros que após adquirirem formas femininas através de perigosas injeções de silicone industrial muitas vezes são empurrados à prostituição por falta de oportunidades nas grandes cidades.

O termo travesti hoje em dia se refere principalmente à pessoa que apresenta sua identidade de gênero oposta ao sexo designado no nascimento, mas que não almeja se submeter à Cirurgia de Readequação Sexual

Travestilidade também é uma condição identitária e não uma orientação sexual, logo as pessoas que se autodenominam travestis podem se identificar como heterossexuais, homossexuais, bissexuais ou assexuais.

Portanto, a diferença entre a travesti e o transexual é identificado pelo fato de a travesti não possuir a identidade sexual feminina, apesar de poder desempenhar papel sexual feminino. A travesti se sente confortável com seu sexo genital e não expressa o desejo de alterá-lo.

Por outro lado, o transexual possui a identidade sexual feminina / masculina, assim como a identidade de gênero e, portanto, na maioria dos casos, seu maior desejo é realizar a Cirurgia de Redesignação Sexual garantindo para si uma vida mais adequada, com maior conforto e felicidade.

Continua ...