domingo, 30 de março de 2008

Relacionamentos e Pais



Uma situação particularmente delicada é a dos relacionamentos. Devo dizer? Quando e como?

Você pode dizer logo de cara e o máximo é receber um adeus, passar bem ou um não. Se você optar por uma abordagem mais furtiva, pode primeiro sondar a pessoa e esperar para ver que caminho o relacionamento vai tomar: se duradouro ou apenas um caso passageiro.

No caso de relacionamento em longo prazo, se dito tardiamente pode gerar um sentimento de traição e desconfiança no parceiro, o que pode resultar em dissolução. A questão é ter timming para saber o melhor momento, mas é fato que se a situação é séria, contar a verdade é uma obrigação.

Quando se fala de amigos, o máximo, novamente é perder alguns amigos. Por mais que eles o conheçam, alguns preconceitos são maiores que afeto. É aquele velho tudo bem, mas perto de mim não.

Não há regra para essas situações. Somente o próprio envolvido pode tomar a decisão com base no que conhece de cada pessoa, sabendo que algumas vezes se ganha e outras se perde.

Talvez a situação mais difícil seja a que envolve família, em especial pais ou aquelas pessoas que tem um significado afetivo igualmente importante em nossas vidas.

Não vai ser fácil. Não há regra: uns aceitam melhor, outros médio, outros se recusam a aceitar. Mas ninguém vai chegar e dizer: que ótimo sempre sonhamos com isso.

Esses momentos são carregados de confusão, medo e ignorância também pelos pais, afinal a maioria entende no máximo o ser homossexual, e a muito custo. O ser transexual, e dizer que quer “mudar de sexo”, é algo que envolve não só uma mudança social, mas corporal de identidade.

Nessas horas a frustração acomete os pais porque sua menina não irá cumprir o que eles tinham em mente para ela, e pior, ela quer mudar seu corpo, sua imagem. O medo bate por causa da sociedade, do que essa pessoa poderá passar, se essa é a escolha certa, se não é apenas uma fase, um momento que poderá virar passado.

E no caso das mães, a frustração aumenta porque fatalmente elas criam a expectativa de que a filha consiga realizar algumas coisas que ela não realizou; vivem de alguma forma, que não seja patológica, pela suas filhas a continuidade de si mesmas.

Temos também o fator religião dos pais, que pode ser motivo de discórdia. Pais achando que suas filhas estão possuídas, perdidas, e coisas afins. Talvez lutar com a religião ou doutrina de alguém seja o mais difícil, mas não é impossível que o afeto ultrapasse tudo isso e “Amai-vos um aos outros como eu vós amei” se torne à máxima entre vocês.

Para todos os casos, familiares ou não, vale sempre que você saiba bem quem é, o que pretende fazer, e saber expressar isso de forma clara para que eles entendam. Para muitas pessoas o fato de ter um acompanhamento médico facilita a aceitação de alguma forma, porque essa “coisa estranha” se torna algo palpável, e não somente um sentimento, um desejo. A sua certeza ninguém vê, mas um laudo ou uma prescrição sim.

E como em todos os momentos, saiba sempre onde você está se aventurando, adquira informações, pesquise, assim sua segurança passará também para os outros, começando a gerar uma tentativa dos pais de tentar respeitar seu caminho.

E para aqueles radicais em que nada funciona, infelizmente, só o tempo dirá. Não há como prever as reações de uma pessoa, nem obrigá-la a aceitar, muito menos entender. Infelizmente, ninguém deseja perder o apoio dos pais ou pessoas próximas, mas isso pode acontecer.

Independente do que ocorra, não desista. Seu sucesso será a melhor maneira de provar que você estava certo, que não era apenas uma confusão ou um delírio. O tempo é um sábio senhor, e capaz de curar feridas e aparar arestas. Mas acima de tudo, dê tempo e espaço aos seus pais, afinal você também levou um bom tempo lutando para se aceitar, se entender e viver.

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