sexta-feira, 30 de abril de 2010

Como trocar de sexo - Revista Piauí nº 43, edição do mês de abril de 2010.



A vida, as angústias e as cirurgias que transexuais fazem com o doutor Eloísio Alexsandro num hospítal público do Rio de Janeiro.

por CLARA BECKER.

Em uma manhã de fevereiro, um jovem estudante de letras de cabelos curtos, espinhas no rosto e vestido com roupas largas em estilo grunge, esperava ao lado da mãe a vez de ser atendido no ambulatório de urologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio. M., como pediu para ser chamado, tem 22 anos, mas parece um adolescente. Seu jeito frágil e sereno contrastava com o da mulher, que parecia ansiosa e desconfortável por estar ali. Ao chegar, o médico Eloísio Alexsandro, chefe do ambulatório, sugeriu que conversassem em separado e pediu que ela entrasse primeiro no seu consultório.

Depois de algumas perguntas, a mãe lhe disse, com os olhos marejados: "Eu já li tudo na internet, doutor. Ela não é assim. Ela é virgem. Como alguém que nunca transou com homem nem com mulher pode saber se é transexual?" M., que nasceu e foi criada como menina, passava pelo primeiro estágio de um longo tratamento destinado a transexuais que, na maioria dos casos, acaba em uma cirurgia de mudança de sexo.

Um mês antes, M. tomara a primeira dose de testosterona, o hormônio responsável pelo desenvolvimento das características masculinas. Teve um surto de acnes no rosto e pelos grossos lhe brotaram nas pernas. A transformação definitiva apavorava a mãe. "Pelo que eu sei, transexuais jogam com os brinquedos do sexo oposto, e ela nunca fez isso", disse a senhora. "Como vocês abraçam a causa assim, doutor?"

Com um tom de voz seguro, o médico lhe disse que o processo de mudança de sexo era lento e progressivo. Assegurou que a maior parte das modificações hormonais era reversível. E disse que a cirurgia para mudar o aparelho genital - a parte do processo que mais assusta os familiares - ocorreria no final do tratamento, e só depois do aval de um psicólogo e um psiquiatra.

A mulher ainda parecia transtornada. O médico lhe disse que aceitar a "condição" de seu rebento seria uma prova de amor. "Eu tento, doutor, mas não consigo chamá-la pelo nome masculino", respondeu.

A longa jornada de M. incluirá uma série de injeções de testosterona, que farão com que a voz engrosse, a barba cresça e a sua agressividade aumente. A menstruação cessará e as mamas, que hoje são esmagadas por faixas apertadas, serão extirpadas cirurgicamente. Outra operação plástica dará um contorno mais masculino ao peitoral, delimitando o tórax. Se M. quiser, também poderá fazer uma histerectomia e terá seu útero, ovários e trompas removidos.

Ele terá duas alternativas quanto ao órgão sexual. Se responder bem à testosterona, seu clitóris poderá ter triplicado de tamanho e, eventualmente, funcionará como uma espécie de micropênis. Daí, bastará costurar os grandes lábios para formar um escroto na sua base.

A outra hipótese é uma neofaloplastia, procedimento cirúrgico no qual um pênis é construído a partir de um tecido sensível retirado do próprio corpo, como o antebraço. Ainda assim, não há garantia de que a aparência e o funcionamento do novo órgão serão razoáveis. Como o procedimento é experimental, o paciente precisa concordar com o risco.

Na sala de Eloísio Alexsandro no Hospital Pedro Ernesto, em meio a tubos de ensaio, jalecos, pilhas de livros e computadores, um quadro na parede chama a atenção. É uma reprodução de A Mulher Barbuda, tela pintada em 1631 pelo espanhol José de Ribera, que fez carreira na Itália. Ela mostra uma mulher de feições severas, nariz largo, olhos escuros e barba negra à Rasputin, amamentando uma criança. Ao seu lado, está o marido, também barbado. A senhora barbuda seria Magdalena Ventura de los Abruzos, a quem o duque de Alcalá, vice-rei de Nápoles, teria encarregado Ribera de pintar o retrato. "Desconfio que ela tivesse um tumor benigno na glândula adrenal", disse Alexsandro, comentando a aparência masculinizada da figura.

O médico gasta tempo e dinheiro estudando história da arte médica, a disciplina que procura detectar patologias em pinturas e esculturas. Entre os iniciados no assunto, é praticamente consenso que a Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, sofria de arteriosclerose. Alexsandro discorda: "É um diagnóstico leviano."

O urologista não fica só nas obras clássicas. Um dia, na saída do ambulatório do hospital, ele comentou o filme argentino xxy, um de seus preferidos. A fita conta a história de Alex, uma hermafrodita cujos pais resolveram não fazer a operação de definição de sexo, para que ela pudesse decidir mais tarde. "xxy tem um erro médico crucial", disse Alexsandro. "Tem uma cena em que ela aparece fazendo xixi em pé. Mas, pelo tipo de hermafroditismo dela, em que a uretra fica na vagina e não no pênis, ela deveria fazer xixi sentada."

Alexsandro é alto, magro e, com 39 anos, seus cabelos começam a pratear nas têmporas. Fala sempre de maneira enfática e gesticulando. Com frequência, recorre a desenhos e rabiscos para ilustrar raciocínios. É solteiro, não tem filhos e vive sozinho no Rio. Trabalha quase quinze horas por dia, seis dias por semana. Com pouco tempo para comer, sempre anda com uma caixa de Bis branco para driblar a baixa ingestão calórica. Tem poucos amigos e, nas escassas horas vagas, zanza sozinho por livrarias e sebos atrás de raridades.

No trabalho, seus colegas o têm como rígido, controlador e exigente, sobretudo em questões de disciplina. Os residentes novatos se assustam quando, ao lhe darem uma resposta, o chefe retruca, áspero: "Na medicina não tem muito ou pouco. Quero números, eu quero saber quantos mililitros o paciente urinou!"

Quando era criança, em Tarumirim, no interior de Minas Gerais, Alexsandro brincava de cientista com os peixes que pegava no córrego da fazenda em que morava. Repetia o que havia aprendido com as experiências de Mendel, e promovia o cruzamento de peixes com cor de olhos diferentes, para produzir um exemplar recessivo. Alterava os formatos das caudas, a cor das escamas e sonhava em descobrir uma espécie nova.

Na hora de decidir o que seria na vida, às vésperas do vestibular, disse ao pai que queria estudar biologia. Com um filho engenheiro e uma advogada, o pai achou melhor que ele fosse médico. Alexsandro aceitou. Formou-se na Universidade Federal do Espírito Santo. Fez especializações em urologia pediátrica e cirurgia reconstrutora genital na Espanha, nos Estados Unidos e na Bélgica. Na Europa, familiarizou-se com técnicas inovadoras ao operar croatas, sérvios e bósnios que tiveram o pênis mutilado durante as guerras balcânicas dos anos 90.

A experiência profissional o leva a dizer que é uma temeridade responder, de maneira padrão, à mais prosaica das perguntas de pais de recém-nascidos: é menino ou menina? "O obstetra, depois que bate no bumbum do neném, deveria dizer: 'tem falo' ou 'não tem falo'", afirmou.

Há pouco mais de quatro anos, Linda (que preferiu não revelar o seu sobrenome) estava desolada e sem esperanças. Havia mandado cartas para todos os programas de televisão, pedindo que a ajudassem a ser operada para mudar de sexo. Chegou a interpelar desconhecidos na rua para perguntar se sabiam de alguém que pudesse realizar a cirurgia.

Com 31 anos, Linda é morena, tem cabelos longos, negros e alisados, nariz fino, sobrancelhas desenhadas à pinça e unhas compridas e bem cuidadas. Suas mãos e pés, no entanto, são grandes. Tem os braços musculosos, os ombros largos e no rosto vê-se a marca azulada da barba, resultado de uma eletrólise ainda não concluída. "Acho que quando Deus estava me fazendo, se distraiu e trocou meu sexo", Linda me disse.

Ela nasceu menino. Desde pequena, na Paraíba, sempre teve certeza de que era uma mulher. Sentia-se estranha num corpo de homem e não suportava se olhar no espelho. Ao falar sobre sua infância, só sorri quando menciona que era confundida com uma menina por amigas da mãe. Lembrou-se de uma vez, quando tinha 11 anos, botou um vestido e pintou os lábios de vermelho. Seu pai ficou possesso. Apanhou dele várias vezes, que lhe gritava: "Vira homem, fala que nem homem!" Os onze irmãos também nunca aceitaram os seus modos femininos.

Linda não sabe explicar o motivo, mas sua voz jamais engrossou. Ao falar com ela pelo telefone, ninguém diria que há um homem do outro lado da linha. Nunca fez xixi em pé e sempre ficou nervosa ao se tocar. Aos 16 anos, depois de meses ingerindo hormônios femininos por conta própria, pequenos seios brotaram em seu tórax. Insatisfeita, pediu a uma amiga travesti que lhe injetasse silicone industrial - comprado numa loja de autopeças - no peito, no culote e nos glúteos. Ficou como se tivesse duas bolas de rúgbi presas ao tronco. Mais alguns meses e o implante caseiro se deslocou, fazendo com que os seios artificiais parassem na altura do umbigo. Conheceu no Rio uma transexual que lhe contou as proezas do doutor Alexsandro.

Boa parte dos transexuais que chegam a Alexsandro no Hospital Pedro Ernesto resume assim a sua angústia: é como estar aprisionado dentro de um corpo do sexo oposto. O transexual é alguém que se olha no espelho e não se reconhece. Nasceu com cromossomos, órgãos genitais e hormônios de um sexo, mas tem a mente, as aspirações, desejos e inquietações próprias do outro. Ele é diferente do travesti que, em geral, está satisfeito com sua genitália e se sente confortável em se vestir como o sexo oposto. E é ainda mais diverso do hermafrodita (ou intersexo, o termo usado pelos especialistas), a pessoa com alterações anatômicas fora do padrão masculino e feminino.

A corredora sul-africana Caster Semeya, medalha de ouro nos 800 metros do Mundial de Atletismo de Berlim, no ano passado, é um exemplo. Exames clínicos mostraram que, apesar da genitália feminina, ela não tem útero ou ovários. Seu nível de testosterona é três vezes maior do que o da média feminina, pois é produzido por testículos internos atrofiados. A Federação Internacional de Atletismo deliberou que Caster pode ficar com a medalha de ouro. Mas não foi decidido se ela poderá voltar a competir.

O hermafrodita costuma nascer com um pênis e uma vagina, a chamada genitália ambígua. Nesses casos, Alexsandro é chamado para dar um parecer e, quando indicado, intervir cirurgicamente para determinar o sexo do bebê. A situação é considerada uma emergência médica porque os pais precisam da definição sexual para registrar a criança.

Certa vez, um juiz lhe deu 24 horas para decidir sobre um caso em que, segundo o magistrado, a questão era simples porque havia só duas hipóteses: ou o bebê era homem ou mulher. "Fiz cópias dos capítulos que se referiam ao assunto na literatura médica e mandei tudo para o juiz. Ele não me importunou mais", disse o médico.

Em 2003, Alexsandro fez sua primeira cirurgia de mudança de sexo no Brasil. Um transexual havia conseguido uma autorização judicial para se tornar fisicamente mulher e foi encaminhado ao Pedro Ernesto, referência em urologia reconstrutora genital. Na especialização no exterior, Alexsandro já havia operado transexuais e por isso se dispôs ao trabalho. Nunca mais parou. "Aconteceu naturalmente", disse. "Nunca pensei em trabalhar com pacientes transexuais." Sua mãe e irmãos não sabem exatamente como ele ganha a vida.

"Não tem questão mais gratificante", disse Alexsandro. "Os benefícios para a paciente são inegáveis, elas choram de felicidade. O agradecimento é sincero, vem de dentro, não é cordial. A emoção delas motiva o meu trabalho, é contagiante."

Alexsandro diz que tem como modelo o homem universal da Renascença, encarnado por Leonardo da Vinci, que tinha conhecimentos em múltiplas áreas. Além das cirurgias no Pedro Ernesto, ele também opera na Santa Casa, é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade Gama Filho, onde orienta uma dezena de alunos de mestrado e doutorado, e coordena os departamentos de urologia reconstrutora e trauma da Sociedade Brasileira de Urologia, seções nacional e estadual.

Aos 18 anos, Linda deixou Campina Grande e partiu para o Rio de Janeiro. Vendeu balas em sinais, foi feirante, pedreira e se prostituiu, mas era incapaz de usar seu membro ativamente em relações sexuais. Por isso, não conseguia clientes, que a abordavam perguntando pelo tamanho do seu pênis. Em 2004, descobriu ter o vírus da Aids.

Desde então, Linda ganha a vida fazendo megahair, implante de cabelo, em homens e mulheres. Mora numa quitinete que construiu sozinha na Ilha do Governador. "Carregava baldes de cimento com salto alto, top e shortinho do Tchan para não perder a pose", contou.

Nos últimos quatro anos, o sofrimento por conta da genitália masculina se agravou. Ela contou, com a voz trêmula: "Achava que não ia aguentar esperar pela operação, queria cortar eu mesma. Se morrer, pelo menos morro sem. Isso não é vida."

Para o caso de bater um desespero inescapável, juntou um arsenal de emergência. Guardou numa gaveta do quarto bisturi, xilocaína e agulha. "Lembrava do meu pai castrando porcos e depois batendo as cinzas do fogão a lenha para estancar o sangue. Pensava que poderia, um dia, fazer igual", contou.

A incerteza quanto ao sexo aparece na literatura, médica ou leiga, desde a Antiguidade. Na mitologia grega, Vênus Castina era a deusa que atendia às súplicas das almas femininas trancadas em corpos masculinos. Tirésias foi transformado em mulher como punição. Ao apreciar os deleites do prazer feminino, foi castigado e voltou a ser homem. O imperador romano Heliogabalus se casou com um escravo e assumiu as tarefas femininas do matrimônio. Ele gostava de ser chamado de rainha e teria oferecido o Império Romano ao cirurgião que o transformasse em mulher.

O rei Henri III, da França, queria ser uma mulher e pedia para ser chamado de Sa majesté, no feminino, expressão que é adotada até hoje. Também na França, o chevalier d'Eon, conhecido como Madame Beaumont, serviu como diplomata e espião do rei Luis xv. Viveu 49 anos como homem e 34 como mulher. Quando morreu, choveram apostas na Bolsa de Londres acerca do seu verdadeiro sexo. Uma comissão atestou que d'Eon era, biologicamente, homem.

Num ensaio dos anos 20, Sigmund Freud parafraseou Napoleão Bonaparte e cunhou uma frase famosa: "Anatomia é destino." Para ele, a definição da sexualidade de um indivíduo se ligava à superação do complexo de Édipo, à fixação do gênero que seria objeto da sua libido. Mas a anatomia, a definição biológica, serviria como realidade última e inapelável, em contraponto às vivências neuróticas ou psicóticas. Freud sempre reconheceu, no entanto, que todas as pessoas têm traços psíquicos masculinos e femininos, não importa a sua orientação sexual. Eles seriam resquícios do polimorfismo infantil, anterior à estruturação do complexo de Édipo.

A ambiguidade psicológica de qualquer pessoa seria uma herança genética da constituição da espécie. Antes de os humanos se constituírem em sexos diferentes, teria havido um ser andrógino. Os mamilos dos homens e o clitóris das mulheres seriam traços da antiga constituição única.

A cultura, dizem os antropólogos, também teria um grande peso na definição dos papéis sexuais. São a família, os clãs, os costumes, as tradições, em suma, a organização social, que levam um indivíduo a ser mulher ou homem. Como, numa outra frase famosa, disse Simone de Beauvoir: "Não se nasce mulher: torna-se."

A causa da desarmonia entre corpo e mente é desconhecida. Experiências científicas recentes apontam para hipóteses biológicas, como a exposição aos hormônios esteróides da mãe durante a gestação. Uma das linhas de pesquisa sustenta que a formação de gênero ocorre no cérebro do feto, ainda entre a segunda e quarta semana de gestação, antes da genitália, que só começa a ser formada a partir da sexta semana.

A transexualidade foi descrita em detalhes, pela primeira vez, somente em 1966. O médico alemão Harry Benjamin descreveu o que seriam as características para se diagnosticar o "verdadeiro transexual". Ele já defendia que a cirurgia de mudança de sexo era a "única alternativa terapêutica possível" para acabar com o sofrimento deles.

Segundo uma estimativa da Organização Mundial da Saúde, a oms, um em cada 30 mil homens quer se tornar mulher. E uma em cada grupo de 100 mil mulheres deseja ser homem. Mas a estatística é imprecisa em relação ao número daqueles que, de fato, estariam dispostos a se submeter a uma cirurgia de mudança de sexo.

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, publicado desde 1952 pela Associação Americana de Psiquiatria, serve de guia para hospitais e seguradoras de saúde ao redor do mundo. Nele, a transexualidade é classificada como uma doença. O Código Internacional de Doenças, elaborado pela oms, a define como "transtorno de identidade de gênero". Na França, porém, desde fevereiro passado, ela não é considerada mais uma patologia graças à ação do Movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros.

No começo do ano, o presidente Barack Obama indicou uma transexual, Amanda Simpson, para o cargo de conselheira-sênior do Departamento de Comércio. Simpson foi registrada como homem ao nascer, há 48 anos, e passou por uma cirurgia genital. A sua nomeação, especula-se nos Estados Unidos, pode significar mudanças na legislação, no sentido de que a transexualidade deixe de ser considerada uma patologia clínica.

Mas é exatamente o fato de ser classificada como doença que permite que a cirurgia seja feita gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, o sus. Desde 1997, o procedimento é autorizado pelo Conselho Federal de Medicina como solução terapêutica para adequar a genitália ao sexo psíquico.

As intervenções cirúrgicas só são possíveis se atenderem a critérios estabelecidos por uma resolução do Conselho. Uma equipe composta por psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social deve produzir um laudo unânime sobre a necessidade do procedimento.

O candidato ou candidata deve apresentar uma boa saúde mental, mas num quadro de desconforto extremo com seu sexo anatômico. Precisa manifestar a vontade de eliminar os genitais, o que significa perder as características primárias e secundárias do próprio sexo. Durante dois anos, a pessoa deve se vestir, se apresentar e se comportar como alguém do sexo que pretende assumir. Se depois de tudo, o paciente ainda quiser levar o plano adiante, a cirurgia é autorizada.

O cirurgião Roberto Farina fez, em 1971, a primeira cirurgia de mudança de sexo no Brasil. Foi condenado a dois anos de reclusão por "lesões corporais graves", num processo movido pelo Conselho Federal de Medicina. Posteriormente, Farina foi absolvido e a Justiça reconheceu que não houve perda do pênis, visto que o órgão era inútil e que a cirurgia era a única maneira de aliviar a angústia do paciente.

"É comovente como os pacientes usam argumentos tão variados para um mesmo sentimento", disse o psiquiatra Miguel Chalub, um dos responsáveis pelos laudos para as cirurgias do Pedro Ernesto. "Eles falam coisas do tipo 'foi um erro da natureza', 'é como se eu tivesse nascido com dois narizes, preciso consertar', 'sou uma mulher com um ponteiro a ser ajustado' ou ' isso é carne morta, uma verruga'."

Ainda que os médicos possam diagnosticar o transtorno, não existem testes objetivos para provar o resultado. Do ponto de vista clínico, não há como ter absoluta certeza se a pessoa é realmente transexual. Os médicos se valem da experiência e da sensibilidade para fazer a triagem entre pacientes mentalmente saudáveis e os psicóticos, que são recusados para a operação.

"Quando eles chegam falando coisas do tipo 'Isso aqui cresceu de um dia para o outro, preciso tirar', algo está errado", disse o psicanalista Sergio Zaidhaft, referindo-se aos psicóticos. Ele fornece laudos psiquiátricos para os candidatos à cirurgia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Em março de 2003, Alexsandro montou o Grupo de Atenção Integral à Saúde das Pessoas que Vivenciam a Transexualidade, conhecido pela sigla gen. "No início, o ambulatório onde as transexuais eram atendidas virou um point de freakshow", ele disse. Resolveu então fazer palestras para o pessoal do hospital, e explicou a questão da transexualidade a agentes de segurança, técnicos de raios X, enfermeiros, maqueiros, ascensoristas, secretárias e mesmo diretores.

Um dia, ele entreouviu o seguinte diálogo: "Ali é o ambulatório dos travecos?", perguntou um segurança. "Traveco nada, rapaz, é transexual!", respondeu o outro. Os pelos do braço do médico se arrepiaram quando contou a história.

"Foi tudo difícil, muitos profissionais não viam com bons olhos o programa, foi muito sofrimento, não sei como não desisti", disse. "Mas nossa ação foi ganhando repercussão, apresentávamos muitos trabalhos em congressos médicos, e as pessoas passaram a bater à nossa porta."

Desde a criação do gen, Alexsandro operou oitenta pacientes. Hoje tem 140 em acompanhamento pré-operatório. A fila de espera é, em média, de dois anos. Ela inclui professores universitários, modelos, engenheiros, mães de santo, maestrinas, advogadas, domésticas, cabeleireiras, prostitutas, donas de casa e estudantes.

A maioria tem um histórico parecido: teve que lidar com a rejeição familiar, o que fez com que saíssem de casa cedo, abandonassem os estudos e tentassem modificar a aparência física por conta própria. Na vida adulta, a maioria teve dificuldades em arrumar trabalho. Além do preconceito pelo aspecto físico, documentos com um nome incompatível com a figura afastam ainda mais as possibilidades. A situação provoca um sofrimento psíquico maior.

Transexuais de todo Brasil são atendidos às quartas-feiras pela manhã no Hospital Pedro Ernesto. A maioria tem aparência andrógina. Vinte e cinco deles moram fora do Rio e têm as passagens reembolsadas pelo Sistema Único de Saúde.

Antes de começar a maratona de consultas e exames, Alexsandro contou que uma das cafetinas mais populares de Copacabana o procurara, com uma mala de dinheiro, para furar a fila da operação. Mesmo que ela quisesse pagar pela cirurgia, deveria cumprir a exigência dos dois anos de acompanhamento terapêutico.

Na fila de Alexsandro estão também pacientes com problemas diversos que, igualmente, exigem cirurgias urológicas reconstrutoras. Fez questão disso para evitar a segregação. "Não apoio uma divisão separada, como faziam com os tuberculosos antigamente", explicou, "porque a fila misturada é uma forma de inclusão social."

Muitas de suas cirurgias são reparos de operações malfeitas. É o que deve ocorrer com Jane, uma mulher de 58 anos, magra, baixa e de aparência frágil que passou por uma cirurgia de troca de sexo no ano passado. Como não teve auxílio para tomar banho e ir ao banheiro, ela acabou perdendo o molde que mantém a forma do canal vaginal aberto até a cicatrização. A pele teve uma aderência e o canal fechou completamente.

Jane tem uma genitália como a de uma boneca, não tem mais pênis ou vagina. Consegue urinar porque o orifício da uretra foi preservado. "Ficou feio, sem forma, não posso mostrar para ninguém" disse ela quando tentava marcar uma cirurgia reparadora com Alexsandro.

Em uma manhã de março, a sala de espera estava lotada. Havia pacientes com câncer peniano, disfunções urinárias, falos malformados e travestis que queriam aumentar o pênis. Numa cadeira estava uma advogada que só se traveste quando chega à rodoviária do Rio. Em sua terra natal, vai ao fórum todos os dias de terno e gravata. Noutra, sentara-se uma prostituta que trabalha no Leme e que dobrou seu cachê depois de ter sido operada pelo doutor Alexsandro.

Sentado no final da fila, um moreno alto chamava a atenção pelo porte e beleza. Havia sido chamado para posar nu em uma revista masculina e, ao saber que o cachê era condicionado ao tamanho do pênis, injetou silicone industrial no membro. O resultado foi como o de uma elefantíase, que deformou e inutilizou seu órgão sexual.

"Ser operada pelo doutor Alexsandro é grife, tem glamour", disse K. que aguardava a sua primeira consulta com o médico. "Ele faz as periquitas mais bonitas do Brasil, ficam melhores que as originais." K. é alta e forte, usava salto alto, saia jeans curta, uma blusa verde colada ao corpo e sutiã com enchimento. Além de hormônios femininos, tomava também finasterida, para retardar a calvície em andamento. Ao avistar o cirurgião, seus olhos se encheram de lágrimas. "Deixa encostar nessas mãos de fada, doutor", pediu.

A primeira a entrar no consultório foi uma mulher de cabelos loiros compridos, magra e de rosto fino, que usava um vestido de alcinha estampado com flores. Bonita e feminina, era praticamente impossível identificar características masculinas na sua aparência. Casada há dez anos, e operada há dois, passou a ter casos extraconjugais.

"Preciso me autoafirmar enquanto mulher, doutor", justificou ela durante a consulta anual de revisão. Disse que tinha uma vida sexual muito satisfatória. Tinha orgasmos com facilidade, se masturbava e não precisava mais de lubrificantes para a penetração.

Quando a mulher deixou a sala, Alexsandro comentou: "A operação fica cada vez melhor com o passar do tempo. A metaplasia, uma alteração celular, faz com que a pele tenda a assumir a função do tecido original e se adapte ao ambiente novo."

O paciente seguinte, A., entrou com os ombros curvados e tinha olheiras profundas. Era difícil dizer se era um homem afeminado ou uma mulher masculinizada. Falava bem baixo, tinha cabelos encaracolados curtos e usava roupas unissex - calça jeans, blusa de algodão preta larga e tênis.

A. explicou que não se travestia todo o tempo para "não bagunçar a cabeça" do filho. Só vestia as roupas da mulher quando não havia ninguém em casa. Seu plano é fazer a cirurgia, virar mulher, mudar de cidade e começar uma vida nova. Desde que começara o tratamento hormonal, sua esposa havia lhe pedido para dormir no sofá da sala. Ela vivia à base de tranquilizantes.

A. é um transexual especial. Ele não é só um homem que quer ser mulher. É um homem que quer virar lésbica. Está convicto de que é uma mulher que ama outras mulheres. No que depender dele, seu casamento continuará.

Casos de gênero que parecem confusos para um leigo são rotina na vida de Alexsandro. No intervalo de uma de suas consultas, ele se lembrou da história de duas transexuais, ambas nascidas homens, que haviam se conhecido na sala de espera do ambulatório de urologia do Pedro Ernesto. Uma era estudante da Universidade Federal Fluminense e já havia sido operada. A outra - que ainda mantinha o órgão sexual masculino - era uma psicóloga gaúcha. Foram morar juntas. Anos depois, tornaram-se um casal lésbico quando a segunda também passou pela cirurgia.

Em 1952, soube-se da primeira cirurgia de mudança de sexo no mundo. Na Dinamarca, George se tornou Christine Jorgensen e, no ano seguinte, foi eleita A Mulher do Ano por diversos jornais e revistas. A história se espalhou e surgiram milhares de candidatos à operação.

Até os anos 70, a cirurgia de alteração do sexo masculino para o feminino consistia na amputação do pênis e a modelação de um orifício funcional. Na década seguinte, passou-se a construir um feixe de tecidos semelhante ao clitóris - como exibiu a modelo Roberta Close nas páginas da Playboy em 1984. Atualmente, o desafio é reproduzir esteticamente uma vagina, preservando as terminações nervosas para garantir o prazer sexual.

Depois do procedimento, as pacientes usam lubrificantes à base de gel até passarem a se umedecer sozinhas. A origem da secreção não é certa. Pode ser suor, dilatação dos vasos sanguíneos ou líquido seminal produzido pela próstata, que não é retirada.

As pesquisas e a perícia de Alexsandro foram reconhecidas pela International Society for Sexual Medicine, que premiou sua técnica de vulvoplastia - procedimento que refina a parte interna do assoalho da vulva. "No exterior, a depilação é menos cavada e a cicatriz é mais central. Aqui, me preocupo em deixar a cicatriz na virilha, onde é mais fácil escondê-la", explicou.

Outro trabalho seu foi premiado: o de reaproveitamento de tecidos do pênis de transexuais (que, em geral, seriam jogados fora) em pacientes mutilados recentemente. Ele também é editor da revista Urologia Contemporânea e diretor sul-americano da World Professional Association for Transgender Health.

Antes da cirurgia, médico e paciente sentam para definir os detalhes. Pode-se escolher entre lábios vaginais maiores ou menores, montes de Vênus mais lautos ou mais retos. "A escolha da vagina é bem individual", disse Alexsandro durante um jantar num centro comercial. "Algumas têm o mito da supermulher e querem vaginas com uma cavidade ampla, para serem penetradas por pênis grandes. Querem transar com vários homens. Outras têm fixação pelo orgasmo, outras querem apenas uma vagina funcional, pois querem continuar com o sexo anal. E há aquelas que só de não ter o pênis já estão contentes."

Linda pertencia a essa última categoria. "Não quero saber como vai ficar e sim o que não vai ficar", ela me disse na véspera de sua cirurgia. "Só de cortar está ótimo, se tiver vagina melhor ainda." A operação havia sido antecipada devido ao seu estado emocional, que se deteriorara. Os especialistas que a atendiam alertaram sobre o risco de suicídio.

Na sexta-feira, 28 de fevereiro, antes de o sol nascer, Linda já estava de banho tomado, enrolada em uma toalha em um dos leitos do Hospital Pedro Ernesto. Estava com os pés na cabeceira para ativar a circulação e evitar varizes. A operação estava marcada para as 9 horas. Os calmantes que tomara na véspera pareciam insuficientes. A cada dez minutos, ela olhava a hora na tela do celular. "Estou louca para me jogar na sala de cirurgia", disse. "Meus problemas vão acabar", falou.

Às 9h30, o doutor Alexsandro entrou e Linda pulou na maca. "É uma cirurgia de caráter mutilante e irreversível, não trabalhamos com arrependimentos", ele disse. Ela mostrou estar segura. "Agora só vai tocar de novo no chão na segunda-feira", disse Alexsandro encarando sua paciente de soslaio.

Deitada de barriga para cima, ela foi empurrada pelos longos corredores, pintados de verde-musgo e com a tinta descascando, até o centro cirúrgico. Ao longo de todo caminho, balbuciava para si mesma: "Nunca mais, Jesus Cristo, nunca mais."

Às 10h30, sedada, ela foi levada para a sala de cirurgia, que, ao contrário de todas as demais, tinha as vitrines que dão para o corredor tapadas por um plástico azul. "O Pedro Ernesto é um hospital universitário, e normalmente as pessoas podem acompanhar as cirurgias", explicou Alexsandro. "Mas se eu deixar, isso aqui vira um show de bizarrice. Não quero alimentar o mito transexual."

Apesar da equipe numerosa - três anestesistas, dois instrumentadores, duas enfermeiras, um técnico de enfermagem, o doutor Alexsandro e outro cirurgião, e dois residentes em urologia - ouvia-se apenas uma música tranquila ao fundo, e os batimentos cardíacos de Linda através dos aparelhos. "O ambiente está bem próximo do ideal", disse o cirurgião. "Já aconteceu de profissionais, por motivos religiosos, se recusarem a trabalhar nessas operações."

Ele reuniu a equipe para as últimas orientações e puxou o banco ergonômico de couro preto, que traz de casa. "Como o pênis dela é acima da média, e tem um bom prepúcio, vamos usar a técnica da inversão da pele peniana", explicou.

Demóstenes Apostolides, urologista da Marinha, começaria a cirurgia. Era seu último dia no Hospital Pedro Ernesto, onde passou um ano no programa de especialização em cirurgia reconstrutora genital criado por Alexsandro. É a única formação em cirurgia dessa natureza no Brasil.

Alexsandro cedeu seu banco ao colega. Apostolides sentou-se, puxou a máscara para cima do nariz e começou. Ele desmembrou o pênis por dentro do períneo, descascando-o como se fosse uma banana. A ideia era tirar as cartilagens, deixá-lo vazio. Os tecidos e a pele exteriores do pênis seriam mais tarde empurrados de volta para o períneo, por cima do reto, num espaço moldado com o dedo que faria as vezes de canal vaginal.

De quando em quando, Apostolides pedia a Alexsandro para verificar a precisão dos cortes e orientar os próximos passos. Linda jazia imóvel, com as pernas abertas em posição ginecológica, coberta por lençóis azuis da cintura para baixo. O cheiro forte de sangue quente deixava o ar úmido e espesso, mas não inibia o apetite dos médicos. Durante quinze minutos, trocaram experiências gastronômicas, endereços de restaurantes e pratos que valiam a pena serem experimentados.

Na segunda hora de cirurgia, Alexsandro assumiu o controle. O silêncio dominou a sala e a equipe formou uma rodinha em volta do chefe. Seus movimentos pareciam orquestrados. Ele empunhava bisturis, linhas e tesouras como se fosse ambidestro, com segurança e delicadeza notáveis. Por debaixo das máscaras, a equipe cochichava: "Aquilo ali é o quê?", "Você viu o que ele fez com a uretra?", "Nossa quem inventou isso?" Ouviu-se até um "isso me dá até saudades do meu namorado".

Alexsandro cortou um triângulo no meio da glande e costurou as duas pontas ao avesso, formando um delicado clitóris. Os testículos foram extraídos com a ajuda de um bisturi elétrico que, ao queimar o tecido, inundou a sala com um cheiro de carne esturricada. A pele do escroto foi esticada e usada para formar os grandes lábios. Os pequenos lábios foram feitos a partir do prepúcio e parte da uretra.

A cada meia hora, Alexsandro reclinava o corpo para trás, tomando um pouco de distância para verificar a simetria. "Quem é de fora vê só barbárie, mas o olho treinado vê beleza", comentou. A hora final foi gasta costurando tudo o que foi desmembrado.

Depois de seis horas, Alexsandro deu o último ponto e declarou a cirurgia terminada. Contemplou a joia que acabara de lapidar, virou-se para um dos residentes e indagou, provocativo : "E aí, Felipe?" O rapaz não se intimidou. "Não me leve a mal, doutor, mas o conjunto da obra...", disse. Todos riram alto.

A enfermeira residente, Aline Rodrigues, de 24 anos, tinha dúvidas sobre questões de fundo. "Não sei se o sus deveria pagar por essa cirurgia", ela me disse. "Falta verba para tantas coisas mais importantes. Para mim, todo homem tem ciúmes do próprio pênis, nunca vi um que quisesse tirar. Fora que não adianta, não vai ser mulher, não pode parir", disse.

À meia-noite, Linda acordou da anestesia. As outras cinco camas da enfermaria estavam ocupadas, mas todos dormiam. Em meio à escuridão, deslizou lentamente a mão direita por baixo do lençol e seus dedos hesitantes tatearam até o meio de suas pernas. "Estou livre, cortaram", disse. Sorriu e voltou a dormir.

Pacientes amputados costumam ter a sensação de membro fantasma. Sentem sensações, dor e incômodo na parte amputada como se ela ainda existisse. Transexuais não sentem dor fantasma. "Isso só comprova que, para elas, o pênis de fato não fazia parte do corpo", explicou Alexsandro. Ele considerou a cirurgia de Linda um sucesso.

No dia seguinte, Linda dava gargalhadas que eram ouvidas em todo o 5º andar do Pedro Ernesto. Disse estar com a impressão de sorrir por dentro. As dores do pós-operatório, os fios da sonda e do soro, não eram nada comparados à satisfação com que ela experimentava seu novo corpo.

Durante a troca de curativos, pediu que tirassem uma foto do resultado com o seu celular. "Eu quero ver a cara dela", disse. Quando viu o trabalho de Alexsandro, seu rosto se iluminou. "Está perfeita, mesmo inchada já está bonita", disse, armazenando a imagem como tela de fundo do telefone. "Agora quero ver quem não vai deixar eu usar o banheiro feminino! Vou fazer xixi de porta aberta", gabou-se e gargalhou novamente.

Quatro dias depois, Linda continuava radiante. "Nasci de novo, agora vou começar a viver de verdade", falou. Havia feito escova no cabelo e modelado a linha da sobrancelha. Ela me mostrou sua carteira de identidade, colocando o polegar sobre a foto em que aparecia menos sorridente e mais masculinizada. Ali, estava seu nome de registro: Orlando Vicente. Depois de operadas, o passo seguinte das pacientes é dar entrada na Justiça para a mudança de documentos.

Como não há legislação específica, os transexuais ficam à mercê da deliberação de um juiz quando pedem a mudança oficial do nome. As interpretações são as mais diversas. Há os que permitem mudar nome e sexo nos documentos, mas não no cartório. Outros que obrigam a pessoa a escrever "transexual" no quesito "sexo". E os irredutíveis que negam todas as possibilidades.

A alegação desses últimos é que se deve preservar o interesse de terceiros. Por exemplo, evitar que um desavisado se case com um transexual. Ou que um esportista participe de competições em categorias indevidas. Alexsandro conseguiu o apoio da Defensoria Pública do Rio para seu programa de assistência aos transexuais. O que fez com que, com o laudo da operação, as pacientes levem de quatro a cinco meses para terem seus novos registros em mãos.

"Ninguém se apresenta com a genitália exposta", disse Heloísa Barboza, professora de direito civil da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. "O que define homem ou mulher não é um pênis ou uma vagina. É o que a pessoa é." Como Heloísa Barboza é defensora da causa transexual, muitas vezes ela é considerada uma militante gay.

"Enquanto o Ministério da Saúde reconhece a minoria transexual, o jurídico não, o que é a cara do Brasil", ela disse, em sua casa. "Se a pessoa não obtém sua requalificação civil, o processo de transexualização não está completo." Segundo a professora, o maior entrave é de ordem moral: "É preconceito, desinformação e ignorância."

Na Inglaterra e Espanha, há leis protetoras sobre a identidade de gênero. Não é preciso que a pessoa se submeta à mudança de sexo para obter novos documentos. Heranças, pensão e acesso a plano de saúde do cônjuge são garantidos.

Depois de anos convivendo com transexuais, Heloísa Barboza formou uma opinião distinta do estereótipo vigente. Acha que, de fato, eles são pessoas conservadoras, que procuram fazer a congruência entre sexo e gênero para se enquadrarem no padrão heterossexual. "Elas sofreram tanto que buscam o modelo de maior aceitação, querem ser uma mulher como a Doris Day", disse. "Elas não são feministas, costumam ser recatadas, delicadas e menos exuberantes do que as travestis."

Luciana passou pela cirurgia há três anos e virou mulher. Mas não ficou totalmente satisfeita com o novo corpo. Magricela, adoraria ter os seios maiores, engrossar um pouco as pernas e fazer escova definitiva nos cabelos. Aos 47 anos, ela é evangélica, e guarda a virgindade para a noite de núpcias. Ganha a vida como costureira, mas seus rendimentos mensais são insuficientes para comprar os hormônios femininos que terá que tomar para o resto da vida.

Ela mora na Marambaia, subúrbio ao sul do Rio, em um casebre feito de tijolos, telhas Eternit, porta e janelas de papelão. Tudo o que possui são três máquinas de costura, uma cama coberta com lençóis gastos, um lampião, um ventilador, fogão e geladeira antigos. Ela largou a escola, no interior da Bahia, porque não suportava ouvir seu nome de batismo na chamada. A cada vez que a professora dizia "Carlos Alberto", tinha vontade de morrer.

Apesar da vida pobre, Luciana se recusa a ir ao banco para buscar os vencimentos do seguro-desemprego, só para não ser humilhada. "Vão chamar aquele nome e vai aparecer outra coisa; prefiro não ir", ela me disse, em sua casa. Também não vai a postos de saúde e por pouco não abriu mão de tirar carteira de identidade. Tremia só de pensar em ter que se apresentar para o alistamento militar. Assim que os sargentos responsáveis pela triagem a viram, logo a dispensaram. "Eu pago meus impostos, mas não me sinto uma cidadã. É um desamparo só", falou.

Uma semana depois da cirurgia, Linda recebeu alta. Antes de ir embora, teve uma aula de higiene pessoal com uma enfermeira. "É como se você estivesse ensinando para uma criança", explicou-me a chefe de enfermagem Cristiane Amorim. "É tudo novo, elas não sabem nem como se limpar."

Apesar da ardência causada pelos pontos, Linda se emocionou ao sentir o xixi escorrer por entre as pernas. Com medo de estragar a cirurgia ao subir as escadas do ônibus, pediu 50 reais emprestados a uma vizinha para voltar de táxi para casa.

Alexsandro se prepara para ir, agora em maio, à Costa Rica. Uma vez por ano, ele se junta à organização Médicos sem Fronteiras e viaja o mundo operando crianças com anomalias genitais. Além de trabalhar no Pedro Ernesto, mantém um consultório privado. Apesar de não revelar quanto cobra, uma cirurgia de mudança de sexo pode custar mais de 50 mil reais.

Linda ainda continuará com os tratamentos psicológico, psiquiátrico e médico por muitos anos. "Você acha que eu posso dar alta para um paciente desses? Isso aqui é um compromisso de vida", disse Alexsandro.

Fonte: http://www.revistapiaui.com.br/edicao_43/artigo_1291/Como_mudar_de_sexo.aspx

Revista Piauí, abril 2010, ed. 43. Publicação mensal da Editora Abril.

Email para contato: Clara Becker clarabecker@revistapiaui.com.br , Redação Piauí redacao@revistapiaui.com.br e Dr. Eloísio alex@uerj.br

Reportagem publicada neste blog com autorização da redação da revista Piauí.

Agradecimento especial a Sarah que disponibilizou a reportagem, devidamente autorizada, no blog A Inserida: http://ainserida.blogspot.com/2010/04/como-trocar-de-sexo-revista-piaui.html

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Transsexual interrompe ministro José Gomes Temporão em entrevista


Publicação: 29/04/2010 08:22 Atualização: 29/04/2010 08:37

Quase dois anos depois de publicar uma portaria para autorizar o Sistema Único de Saúde (SUS) a realizar cirurgias de readequação sexual, conhecidas como mudança de sexo, o Ministério da Saúde atendeu apenas 27 pessoas, sendo 12 no Rio Grande do Sul, dez no Rio de Janeiro e cinco em Goiás. Todos os contemplados foram homens submetidos a procedimentos para se tornarem mulheres. O baixo número e a não inclusão das pessoas do sexo feminino que desejam passar para o sexo masculino revoltaram Silvio Lucio Nóbrega. Denominado homem trans, mulher que assume a condição de homem, ele interrompeu a entrevista que o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, concedia ontem durante o lançamento de uma campanha de combate ao preconceito contra travestis, e cobrou do representante do governo federal mais atenção aos transexuais.

Funcionário público da pequena Pacatuba (CE), Silvio, 46 anos, relatou ao ministro que o segmento é maltratado e que a rede pública de saúde não está preparada para a realização de cirurgias de mudança de sexo. “Estive aqui em Brasília, em 2008, durante a I Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais e o senhor assinou uma portaria autorizando o SUS a pagar as cirurgias. Mas, na prática, não atende”, questionou. Temporão tentou sair da saia justa respondendo a uma pergunta anterior. “Vamos ter que corrigir os problemas enfrentados pelos travestis nos serviços de saúde pública. Os profissionais devem chamá-los pelos nomes sociais e não pelos de registro.”

Silvio luta há dois anos para que o SUS pague sua cirurgia de readequação sexual. “A portaria não proíbe a realização do procedimentos em mulheres que querem se transformar em homens, mas também não deixa clara essa possibilidade”, lamenta. (RC)

Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/04/29/brasil,i=189468/TRANSSEXUAL+INTERROMPE+MINISTRO+JOSE+GOMES+TEMPORAO+EM+ENTREVISTA.shtml

Tolerância. Respeito.


Você descobre que não é um erro, uma aberração, e mais, que pertence a um grupo de pessoas que partilham do mesmo sentimento. A sensação de que finalmente encontrou seus pares é maravilhosa, e imagina que dentro daquele grupo todos serão iguais a você, afinal todos são homens peculiares e, portanto, vamos nos entender muito bem.

Mas no meio do caminho você se espanta:

Nossa como alguém pode dizer que é um homem se já teve filhos e um relacionamento prévio com um homem biológico?

Como alguém que está no grupo com o qual me identifico diz que é homossexual, se eu sou heterossexual, o que vão pensar de mim?

É impossível não querer tomar hormônio e fazer uma cirurgia, ou tomar e fazer apenas uma, isto está errado!

Não fazer a cirurgia genital e dizer que usa os seus genitais porque ele está lá, não aceito, que absurdo!

Bem vindo à diversidade.

Sim, tanto se fala em diversidade, mas isso não quer dizer que apenas fora do seu grupo é que ela exista. Ela existe em todo e qualquer grupo pelo simples fato de que cada indivíduo é único, com vivências, desejos, medos, buscas, assim como você. E que da mesma forma, também busca aceitação e respeito.

Ter um conceito que generaliza um grupo ou situação é um equívoco, esteja a pessoa dentro ou fora de um corpo coletivo. Generalizar é reprimir o individual que se expressa em cada ser que anda nesse mundo, e tomá-los por autômatos, sem personalidade e experiências de vida, onde um será igual a todos e assim sucessivamente, incorrendo em uma cadeia de pré-conceitos e ignorância.

Que existem semelhanças, sem dúvida, mas isso não quer dizer que somos todos absolutamente iguais porque pertencemos a um mesmo conjunto. Os elementos do conjunto são diversos, e nesse momento, do encontro de experiências únicas, e que o conjunto se torna uno, quando reconhecemos e abraçamos no outro o que diverge de nós.

Tolerar não é remediar com já que ta deixa ficar. É ir além e aprender a respeitar.

Quando nos tornamos tolerantes e permitimos o benefício da dúvida, mesmo com medo do desconhecido, seja para ouvir uma divergência construtiva, conhecer as idéias de outra pessoa, e assim por diante, ganhamos de forma sorrateira com a troca. Evoluímos, e ajudamos a evoluir, seja como grupo ou como indivíduos.

Você exige tolerância, quer ser aceito, respeitado ao menos, mas como exigir isso sem tolerar o que diverge da sua realidade? A necessidade de respeito não é unilateral, ela permeia a tudo e todos que cruzam sua vida, e em agindo de forma tolerante, respeitando o outro, você ganha de volta um mundo novo e repleto de possibilidades.

E não diga que sua educação depende do outro. Não, seja sua educação ou o ter respeito é tarefa diária de cada um, esforço de se permitir enxergar, de tolerar e aceitar o diferente, venha ele como vier e por mais estranho que pareça a você. Não use a falta de educação alheia como desculpa para não tentar agir diferente.

Não estou dizendo com isso que tudo e todos possam ser escusados; ações violentas, de brutalidade, de abusos físicos ou emocionais, e semelhantes pedem medidas mais contundentes, e cabe a quem sofrer buscar o que é seu por direito. Mas apenas peço que atente para que essas pessoas que ferem, também merecem respeito e também precisam aprender.

E mais: seja tolerante com você mesmo. Na maioria das vezes, nós mesmos somos nossos piores carrascos. Ninguém é infalível, perfeito, santo, não tem medo, angústias, dúvidas. Uns mais outros menos, mas não importa, o que interessa é seguir em frente, porque momentos dos mais variados, com problemas ou não, sempre existirão, seja você como for, e quem for.

Não espere que a vida lhe dê o que você deseja só porque acha que têm direitos; mas tem também deveres, e lições a serem vividas e aprendidas. Comece dando o seu melhor, tentando ao menos, para além de todas as dificuldades que possam aparecer.

Se esse texto lhe parecer sem propósito, um tanto piegas, que seja, não há problema que assim pareça. Essas palavras não têm a intenção de serem perfeitas, absolutas ou de que alguém concorde com elas. Fato é que se você leu e chegou até aqui, mesmo contrariado, é porque algo em você se identificou, bastando então apenas devolver a si mesmo, ao seu grupo, ao mundo e a vida, o que de melhor habita em você.

sábado, 24 de abril de 2010

Na Argentina, existem mais de 52 transexuais na lista de espera para a cirurgia de readequação.


A opração é realizada gratuitamente em um hospital, sendo no entanto necessário autorização judicial para fazê-la. O processo para conseguir a autorização pode levar cerca de 3 anos.

Clarín / Diário Transexual - Na Argentina ainda não existe legislação específica a favor dos transexuais, que ficam a espera de um ordem judicial para realizar a cirurgia de readequação, bem como para retificar sua documentação, que só é permitida após a cirurgia transgenital. A exceção fica por conta de quatros casos, onde juízes mais liberais permitiram a alteração documental. Sofrem por estar em um corpo que não lhes pertence. Alguns se sentem como homens, mas têm genitais femininos. Outras pessoas se percebem como mulheres, ainda que possuam genitais masculinos. Trata-se de uma inadequação que surge na infância, e acaba por gerar ansiedade, depressão, discriminação e isolamento social. A saída para essa questão, conhecida como disforia de gênero, é uma cirurgia de readequação sexual.

Na Argentina existem 52 transexuais esperando a autorização judicial que permitirá realizar a readequação sexual. Na etapa anterior do diagnóstico, que incluí acompanhamento e tratamento hormonal, encontram-se 200 pessoas atendidas no hospital Durand. No total do tratamento, entre o diagnóstico e a cirurgia, podem se passar cerca de três anos.

"A espera se deve ao fato da cirurgia ainda não ser reconhecida como uma prática médica habitual", contou ao Clarín o urologista e cirurgião César Fidalgo, do hospital Ricardo Guitierrez em La Plata, que foi um dos primeiros médicos a realizarem um cirurgia de readequação sexual na Argentina. Entretanto, rege a lei de exercício da medicina, aprovada em 1967, que impede o médico de "realizar cirurgias que modifiquem o sexo do paciente, salvo com autorização judicial prévia." Nas décadas seguintes, diversos juízes negaram provimento ao pedido daqueles que desejavam se submeter a cirurgia. Várias pessoas acabaram indo ao Chile para realizá-la. Mas tudo começou a se modificar em 26 de agosto de 1977, quando depois de uma espera de 7 anos pelo autorização, Juana Luffi foi operada. Passou a ter uma neovagina, construída a partir do teceido peniano.

Desde então, outras 17 pessoas passaram pela cirurgia de readequação sexual no hospital de La Plata, onde a cirurgia é gratuita. Segundo Fidalgo, treze dessas pessoas passaram a ter genitais femininos e outras cinco a ter genitais masculinos.

Mas conseguir o aval da justiça ainda não é fácil. Existem alguns que esperam a autorização judicial há mais de três anos. Entre os que reclamam está Carolina C., 44anos, nascida em Mendoza, que semana passada entrou com processo para que a cirurgia seja custeada em caráter particular. Outros que fazem a cirurgia fora do país, como Maria Julieta de Gualeguaychú, não conseguem retificar seus documentos.

Diante dessas dificuldades, a Federação Agentina de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis (FALGBT) e a Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros da Argentina (ATTA) têm algumas demandas. "Apresentamos um projetode lei ao Congresso que para o tratamento, o que incluí a cirurgia, não dependa da autorização de um juíz e seja coberta também por seguros e planos de saúde."

"Não se trata de um modismo - opinou Alejandra Portadino, que foi operada em 2005 e é engenheira e defensora dos direitos humanos. Sentir-se em um corpo errado é um mal estar que pode levar até ao suicídio. Precisamos superar as barreiras do acesso a cirurgia e ao acompanhamento psicológico, do desconhecimento de alguns profissionais de saúde que confundem disforia de gênero com transtornos psiquiatricos e a descriminação no trabalho. A idoneidade das pessoas não está diminuida por conta da disforia de gênero."

Fonte: http://www.carlaantonelli.com/notis-19042010-lista-espera-argentina-para-cirugias-transexuales.htm

Tradução: "Homer"

terça-feira, 20 de abril de 2010

Lucas Silveira, vocalista da banda The Cliks, ganha o prêmio de homem mais sexy do Canadá.

Por Alley Hector

Lucas Silveira, vocalista da banda de rock alternativo de Toronto The Cliks, tornou-se o primeiro homem transexual a ganhar o prêmio "Jogue sua Roupa de Baixo" (O Homem mais Sexy do Canadá), depois de uma enquete da Chart Attack, a revista de música mais conhecida do Canadá. A lista tinha vários bonitões canadenses que são desconhecidos do público americano, no entanto, Silveira conseguiu bater o ex de Avril Lavigne, Deryck Whibley da banda Sum 41.

O The Cliks chegou as manchetes pelo seu estilo andrógino, chegando a ser comparado a David Bowie entre outros. Apesar das comparações, eles apenas querem ser eles mesmos. Em uma entrevista para a Queerty, Silveira disse:

"Não foi algo que fizemos de caso pensado. "Como será nossa aparência?". Nós apenas nos apresentamos como somos na nossa vida diária, algo como "isso é rock n roll e nós queremos fazer um bom show e nosso look é o do nosso cotidiano... Acho que a nossa gravadora (Tommy Boy), e nosso empresário estão satisfeitos por termos essa aparência, porque a imagem é tão importante na indústria musical quanto a música que você apresenta."

O senso de estilo inteligente chamou a atenção dos fans canadenses. Independente disso, apesar do apelo queer do The Cliks e o status trans de Silveira, o sex appeal metrosexual de Silveira transformou - o em um homem desejável. Isso é ainda mais interessante considerando-se o fato dele não tomar testosterona.

Enquanto alguns homens trans estão em níveis variados da transição, tomando hormônios ou não, optando por fazer algumas cirurgias e outras não, ou não fazendo nenhuma, a injeção de testosterona tornou-se, culturalmente, um importante marcador da masculinidade trans. Mas Silveira sabia que não ajudaria sua voz. Ele contou a About.com:

"Quando me dei conta de que não tomaria testosterona, fiquei muito desapontado. Porque pensei que finalmente eu poderia resolver algumas coisas. Mas então comecei a pesquisar e descobri o que faria a minha voz."

"Basicamente o que a testosterona faz é engrossar as cordas vocais. Por aproximadamente dois anos você soa como um adolescente passando pela puberdade. Sua voz é desafinada. Como cantor, eu sei até onde posso ir. Eu posso cantar la,la,la, mas se eu tomasse testosterona e modificasse minhas cordas vocais, eu poderia cantar la,la,la mas soaria como Ooahlagaya. Não posso correr o risco. Para mim minha voz vem em primeiro lugar. Não conseguiria lidar com fato de que ela poderia ser danificada para sempre."

Mas Silveira provou que é possível ser um homem sexy com ou sem barba e quer ser um modelo para outros homens trans que queiram abraçar as diferenças e suas ambiguidades de gênero.

"Comecei a pensar sobre porque sinto que, não somente posso ser uma voz para a comunidade trans que chega ao mainstream, mas porque existem outros caras como o meu. Nós somos os caras que estão genuinamente no meio. Eu fiz a mastectomia, mas não tomo testosterona. E para dizer a verdade nem sei se irei algum dia. Sinto-me muito confortavel como estou hoje em dia."

Segue abaixo o site do The Cliks e um vídeo deles.

http://www.thecliks.com/




Fonte: http://www.afterellen.com/blog/alleyhector/the-cliks-lucas-silveira-wins-canadas-sexiest-man-title e http://www.youtube.com/watch?v=fWdxXus1ULw

Tradução: "Homer"

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Terças - Trans do dia 20/04/2010


Repassando:

" Olá Pessoal,

Desculpem avisar tão em cima da hora, mas não tive como fazê-lo mais cedo.

Estamos preparando um TERÇAS TRANS ESPECIAL neste dia 20/04 com as meninas que batalham na pista para conversarmos e levantarmos demandas. Teremos a participação da Assistente Social Taís Souza, transexual e trabalhadora no CRD.

Paratanto, a reunião acontecerá das 16h às 18h, excepcionalmente nesta terça.

O tema é: DIREITOS E DEVERES PARA QUEM BATALHA NA PISTA!

No mesmo batlocal: Centro de Referência da Diversidade, Rua major Sertório, 292/294 - Centro.
(cruzamento com a Rua Rego Freitas).

Aguardamos a participação de vocês,
Beijos,

Alessandra Saraiva
Coordenação.
"

Fonte: Por email.

Homem trans se revela para ajudar a causa


Publicado em 22.02.2010 Márcio Claesen.

Dentre os vários e-mails que vocês leitores mandam diariamente ao ParouTudo, existem muitos que nos incumbem de desafios. Tanto em termos de jornalismo quanto de cidadania LGBT. Há cerca de duas semanas W.R., 29 anos, moradora de Brasília, nos escreveu contando as dificuldades que seu namorado, que é transexual, teve em achar um apartamento para alugar na capital. O seu relato era seguido de um desejo: que os homens trans tenham visibilidade para que, um dia, sejam respeitados. O site, claro, é imbuído desse valor, mas encontrar pessoas dispostas a mostrar a cara é difícil, respondemos a ela. Resultado: o casal aceitou ser ele mesmo o protagonista do que tanto sonhava.

Veja abaixo a conversa do ParouTudo com Paulo Pereira, 24 anos, tosador, morador de Curitiba, que conheceu W.R. através do Orkut. O casal está momentaneamente morando em cidades diferentes, mas por um grande motivo: juntar dinheiro para a mastectomia de Paulo. Inteligente e determinado, Paulo se sente pronto para ser, em todos os sentidos, o homem que ele já é internamente.

Por que você resolveu dar esta entrevista?

Porque os transexuais FTM (female-to-male, expressão em inglês que quer dizer fêmea para macho), dos quais faço parte, são pessoas desconhecidas pela sociedade. Na verdade, a grande maioria nem sabe o que significa um homem transexual e nunca ouviu falar nesse termo. Fico triste porque uma quantidade incrível de pessoas do nosso próprio meio - lésbicas, gays e bissexuais - não sabe quem somos. Imagine, então, quem não é do babado. Quero que o Brasil nos reconheça e nos respeite. Desejo, principalmente, que nossos direitos sejam iguais aos de todos. Aí está meu propósito.

É muito comum homens transexuais relatarem que, primeiramente, pensaram que eram lésbicas. Isso aconteceu com você? Como foi esse processo?

Sim, eu pensava que era uma lésbica muito masculina. Eu me vestia como homem, mas nunca passou pela minha cabeça que eu poderia estar enganado, confundindo gênero com orientação sexual. Fui descobrir que era transexual no início de 2009 quando conheci minha companheira. Ela me perguntou se eu sabia o que era "FTM" e me explicou tudo sobre o assunto. Foi assim que entendi que, na verdade, eu não era lésbica e, sim. um homem transexual heterosexual.

Como foi a reação da sua família no início do seu processo de transformação e descoberta como transexual? E como é hoje?

Descobri que gostava de meninas por volta dos 12 anos. Aos 15, meu pai descobriu e quase me matou. Fui me assumir mesmo para minha familia aos 18, como lésbica. Eles não aceitaram como eu gostaria. Levaram cerca de dois anos para meu pai me respeitar. Felizmente, quando descobri que era FTM, a pior parte já havia passado e meus pais já me aceitavam. Hoje, eles me dão apoio em tudo e agradeço muito a Deus por isso.

Qual foi sua primeira transformação externa como homem? O que isso significou para você?

Minha primeira transformação externa como homem foi aos 18 anos e continua a mesma até hoje. Eu me visto como homem, me comporto como homem e para mim isso é tudo! Não me sinto mulher em nada. Vestir-me e agir como realmente me sinto significa minha liberdade, pois já estou preso em um corpo que não é meu. Essa transformação, mesmo que ainda superficial, já me deixa mais aliviado.

Quanto às intervenções cirúrgicas e medicamentos que você precisa tomar, qual a sua situação hoje e qual o cronograma que você traçou? Em algum momento sente medo?

Meu tratamento é tudo que mais quero na vida! No momento, estou fazendo acompanhamento com um psicólogo especializado em transexualidade. Foi confirmada a disforia de gênero, ou seja, sou, de fato, um homem transexual. Em abril de 2010, vou começar o tratamento hormonal. Este andamento, na minha visão, é o melhor caminho a percorrer para um transexual. Primeiramente, as consultas psicológicas, aí o diagnóstico e, então, todo o processo de redefinição sexual, que se inicia com o tratamento hormonal com acompanhamento médico e, por fim, as cirurgias de readequação, cuja prioridade, no meu caso, é a mamoplastia. Ainda não penso em esterilizar-me. Não tenho medo algum. Estou disposto a tudo só para me sentir melhor e feliz com meu corpo.

Como você lida com o fato de você ter uma psique diferente do seu corpo físico?

Não é facil viver em um corpo que não é seu. Ter seios, não tirar a camisa, não poder andar de mãos dadas com a namorada, ter que usar cinta de compressão para disfarçar o volume, isso tudo é muito chato. Estou levando numa boa porque logo vou iniciar o tratamento hormonal e fazer minha cirurgia de retirada das mamas. É isso que me conforta.

Desculpa se parecer um lugar-comum, mas a primeira e talvez única ideia que as pessoas têm de um homem transexual é a do filme "Garotos Não Choram". Você assistiu a esse filme? De que forma ele te impactou?

Assisti ao filme com minha companheira. Fiquei chocado com o preconceito e com a maneira como tudo aconteceu. Para a sociedade, só os heterossexuais podem amar e ser felizes. Isso é rídiculo. Matar um ser humano porque ele é ou ama de forma diferente é absurdo. Esse filme denuncia a verdadeira sociedade em que vivemos.

Só para se ter um parâmetro, daqui a cinco anos como você quer estar?

Daqui a cinco anos quero estar fisicamente transformado. Quero estar casado com minha companheira, espero ter meu nome masculino em meus documentos e ser um médico veterinário. Quero ter a oportunidade de ser bem sucedido e feliz com minha esposa e filhos, vivendo plenamente como o homem que sou.

Fonte: http://www.paroutudo.com/materias/redacao/100222.php

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ben ou Barbara?

A história de Ben Barres, neurocientista que descobriu a função de uma das mais importantes células do cérebro. E, no meio do caminho, mudou de sexo.

Suzana Herculano-Houzel*

“Imagine como um homem se sentiria se fosse obrigado a viver com seios, pernas raspadas, maquiagem e cabelo comprido”

A primeira vez que vi Barres foi em 1994, numa palestra na universidade onde eu estudava na época, em Cleveland. Ben ainda era Barbara. Hoje, a foto do site oficial do laboratório de Barres na Universidade Stanford, na Califórnia, uma das mais prestigiadas do mundo, mostra o rosto sorridente e barbado do neurocientista no centro de um pôster do filme Harry Potter, cercado de personagens de Hogwarts. Pouco convencional – mas convencional é uma palavra que não combina nem com sua pesquisa nem com a sua história de vida. Enquanto a maioria dos cientistas são homens ou mulheres, Barres tem experiência como ambos: 40 anos como mulher, e 14 – até agora – como homem.

NO CORPO ERRADO

Ben nasceu 54 anos atrás como Barbara Barres – mas, provavelmente em consequência de um tratamento com hormônios andrógenos feito pela mãe durante sua gestação, que afetam a diferenciação sexual do cérebro, Barbara sempre brincou como um menino, se vestiu como um menino e se sentiu um menino. A adolescência foi um tormento; confusa com sua identidade, Barbara não teve namorados (ou namoradas), e se refugiava nos estudos. “Imagine como um homem se sentiria se fosse obrigado a viver com seios, pernas raspadas, maquiagem e cabelo comprido. Era assim que eu me sentia.”

Envergonhada, não entendia sua condição diferente nem comentava o assunto com os pais. Em vez disso, dedicou-se à vida acadêmica: fez a graduação no Massachusetts Institute of Technology (MIT), doutorado em Harvard, pós-doutorado em Londres. Foi somente aos 40 anos, já professora na Universidade Stanford em São Francisco, na Califórnia, que Barbara começou a entender a incongruência entre seu corpo e sua identidade sexual. A revelação despontou com uma doença: um câncer de mama. O tumor atingia um seio apenas, mas Barbara exigiu uma mastectomia dupla. À sugestão do médico de fazer cirurgia reconstrutiva, respondeu imediatamente: “De jeito nenhum!”. Perder os seios teve efeito terapêutico. Pela primeira vez sua anatomia se aproximava mais da sua identidade de gênero.

Foi nessa época que conheci Barres, na palestra que citei lá atrás. Sem imaginar o que acontecia na vida de Barbara, lembro de sair de sua palestra com duas impressões muito fortes: que ela era uma cientista incrível, original e determinada; e que seu corpo não combinava com ela. A pessoa que falava tinha nome de mulher, mas visivelmente não era mulher – e não era apenas pela ausência de seios.

MUDANDO DE LADO

Vivendo em meio à liberalidade de São Francisco, cidade da Califórnia conhecida por ser um dos berços da contracultura americana e pela tolerância e diversidade, Barbara finalmente ouviu falar em mudança de sexo. Novamente por recomendação médica, retirou os ovários para evitar o risco genético elevado de desenvolver outro câncer – e, dois anos depois da mastectomia, decidiu mudar de sexo. Cortou o cabelo; passou a tomar testosterona; mudou as roupas; mudou de nome. Era Ben, agora. Com a testosterona, tinha as mãos sempre quentes e não sentia mais frio; ganhou a barba que cultiva até hoje; e começou a perder cabelo. Todos os seus amigos, colegas de trabalho e parentes lhe deram apoio. “Foi um alívio. Sou uma pessoa feliz desde então, e nunca me arrependi de ter mudado de sexo.”

Com sua história pouco comum, Barres tem a possibilidade raríssima de comparar, pelos dois lados, o tratamento dispensado a cientistas mulheres e homens. Barbara foi alvo de deboche de um professor de matemática na faculdade, que duvidou que ela tivesse resolvido sozinha um problema difícil que nenhum de seus colegas – quase todos homens – acertara: “deve ter sido seu namorado quem resolveu o problema”, disse o professor à época. Em Harvard, perdeu uma cobiçada bolsa de estudos para um colega, embora o reitor admitisse que o currículo dela fosse melhor. Mas, como Ben, sua pesquisa subitamente se tornou “melhor”. Como observou um professor do MIT ao ouvir uma palestra sua, logo após a mudança de sexo: “Ben Barres deu uma excelente palestra hoje, mas, pudera, o trabalho dele é muito melhor que o da irmã”. A “irmã”, naturalmente, era ele mesmo, em sua versão prévia, feminina.

INAPTIDÃO OU DISCRIMINAÇÃO?

Ben pode ter mudado de sexo, mas não de cérebro. Embora saiba que suas habilidades cognitivas não mudaram, Ben sente que hoje é tratado com mais respeito por seus colegas homens, alguns dos quais até lhe confidenciam, orgulhosos, que “nunca encontraram uma cirurgiã tão competente quanto um homem”. Por isso ficou enfurecido quando o então reitor da Universidade Harvard, Larry Summers, declarou em um discurso público em 2005 que a razão para a escassez de mulheres nas ciências seria uma “inaptidão inata”. Ben, que já advogava em nome da diversidade, apoiando as mulheres em seu laboratório e encorajando alunos homossexuais a saírem do armário (mesmo na liberal São Francisco), resolveu atacar publicamente a posição defendida por Summers e também por Steven Pinker, psicólogo influente mas que não tem respaldo empírico.

Em um comentário inflamado na prestigiosa revista Nature, publicado em 2006, Barres expôs as evidências. Na escola, meninos e meninas alcançam as mesmas notas em provas de matemática nos EUA. Mais tarde, o desempenho feminino em testes de habilidades matemáticas depende das expectativas: se são positivas, ótimo. Mas se são negativas, o desempenho delas pode cair até pela metade. Ao mesmo tempo, as expectativas mais baixas em relação ao desempenho acadêmico feminino faz com que elas tenham de produzir 2,5 vezes mais do que seus colegas homens para receber a mesma avaliação por seus pares. Com expectativas reduzidas, a autoconfiança das mulheres cai, e seu empenho logicamente não é o mesmo dos homens.

Ao contrário da “hipótese Larry Summers”, Ben Barres defende a “hipótese Stephen Jay Gould”, em honra ao falecido paleontólogo americano que dizia que “poucas tragédias podem ser mais devastadoras que o tolhimento da vida, poucas injustiças são mais profundas que a negação de uma oportunidade para crescer, ou mesmo para ter esperanças, causada por um limite imposto externamente, mas falsamente identificado como sendo interior”. Para Barres, mulheres são tão capazes de ser cientistas quanto homens – vide sua própria história, bem como a lista crescente de ex-alunas suas que hoje são mães, cientistas bem-sucedidas e professoras nas melhores universidades americanas. Se há escassez de mulheres nas ciências, a razão não é inata, mas externa: a discriminação, praticada (às vezes inconscientemente) tanto por homens quanto pelas próprias mulheres, que, oprimidas pelas baixas expectativas, acabam perdendo a confiança e se julgando inferiores aos colegas do sexo oposto. “De longe, a maior diferença que notei é que as pessoas que não sabem que mudei de sexo me tratam com muito mais respeito: consigo até completar uma frase inteira sem ser interrompido por um homem”, afirmou em seu artigo na Nature.

A atual pesquisa conduzida no laboratório de Barres, “Os mistérios e mágicas da glia”, mostra como essa diferença é artificial. Enquanto a maioria dos neurocientistas concentra seus esforços em compreender o funcionamento dos neurônios, Barres estuda as células gliais, que alimentam e protegem os neurônios. Ele se tornou respeitado ao mostrar que, sem receber instruções das células da glia, os neurônios não sabem se comunicar entre si – e, portanto, simplesmente não funcionam. Antes de sua pesquisa, acreditava-se que as células gliais apenas alimentavam os neurônios.

APOIO EXEMPLAR

Reencontrei Barres, agora Ben, no ano passado, 15 anos depois daquele seminário em Cleveland, desta vez como um dos prestigiosos palestrantes da reunião anual da Society for Neuroscience, em Chicago. Ben Barres agora está claramente à vontade em sua pele: um homem de estatura mediana, nem magro nem gordo, de olhos claros, voz ligeiramente fina, mas barbado e já semicareca, bem-humorado e irreverente. E ousado, como em sua ciência: interrompeu o andamento da palestra no salão principal, para 7 mil pessoas, para louvar sua ex-aluna Çagla Eroglu, principal responsável pelo trabalho impressionante que ele apresentava (identificando como as células gliais ensinam os neurônios a fazer sinapses).

Ben anunciou que Çagla agora é professora na Universidade Duke e mãe de um bebezinho de 1 ano, e usou o exemplo dela para defender a diversidade e a igualdade de condições a mulheres e outras minorias na ciência. Foi aplaudidíssimo. Ao final, Ben ficou simpaticamente sentado no chão do pódio, respondendo às perguntas dos vários estudantes e cientistas que se aproximaram, inclusive à minha. Para todos nós – homens ou mulheres, jovens ou senhores –, Ben Barres tinha algum comentário positivo a fazer: “que interessante”, “obrigado por me contar isso”, “continue assim”.

Um ano antes, em 2008, Ben Barres subira ao pódio da mesma reunião para aceitar o prêmio da Society for Neuroscience para cientistas não só brilhantes na carreira mas que também promovem o progresso de mulheres na neurociência – como ele mesmo já foi. Um prêmio merecido e especialmente relevante, pois Ben sabe, por experiência própria, que a definição do gênero é importante para cada um, mas não deveria importar para os outros.

Fonte: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT129257-17773,00.html

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Tocantins se torna o 11º estado a acatar o uso do nome social para transexuais e travestis.


O Conselho Estadual de Educação do Tocantins deferiu por unanimidade, o uso do nome social de transexuais e travestis em registros e documentos escolares. A solicitação foi feita ano passado pela Associação Grupo Ipê Amarelo Pela Livre Orientaçao Sexual - GIAMA.

Segue abaixo a Resolução.

RESOLUÇÃO
Nº 32, DE 26 DE FEVEREIRO DE 2010.

Inclusão de nome social de travestis e transexuais em registros escolares nas UEs de educação básica de Sistema Estadual de Ensino.

O Conselho Estadual de Educação do Tocantins, no uso das atribuições a ele conferidas pelo inciso V do Art. 10 da Lei Federal nº 9.394/96, de 20 de dezembro de 1996, pela alínea “e” do inciso X do Art. 33 do seu Regimento, e tendo em vista o Parecer nº 89/2010, exarado no Processo nº
2009/2700/001520.

R E S O L V E:

Art. 1º - As unidades de ensino da Educação Básica vinculadas ao Sistema Estadual de Ensino poderão incluir nome social de travestis e transexuais em seus registros
escolares.

Art. 2º A adoção de nome social a que se fere o artigo 1º deve observar, obrigatoriamente, as seguintes
disposições:

I - que o interessado seja maior de 18 anos;

II - que o pedido seja formalmente endereçado ao Diretor da escola através de requerimento;

III - que o nome social não substitua o nome civil; mas venha após-posto e entre
parênteses; e

IV - que os registros sejam exclusivamente de operacionalização e valor interno da unidade escolar

Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Sala das Sessões do Conselho Estadual de Educação do Tocantins, em Palmas, aos 26 dias do mês de fevereiro de 2010.

Fonte: Repassado por email pelo colaborador Leonardo.

domingo, 11 de abril de 2010

Ator iraniano volta as telas após readequação de gênero.


Por Staff Writer, PinkNews.co.uk • 22 de março, 2010 - 17:53

Saman Arastu, que era conhecido como Farzaneh, já tinha uma carreira de sucesso como mulher, tanto no cinema como na televisão.

Hoje, o ator de 42 anos aproveitou a flexibilidade das leis iranianas quanto ao processo de readequação sexual, e após anos de aconselhamento voltou a atuar.

De acordo com o The Guardian, Arastu disse a uma revista iraniana que ele sempre soube que era um homem.

Ele disse: "Agora estou bem. Antes só existia medo e depressão em meu olhar. Eu estava sempre me escondendo e na defensiva."

Homossexualidade é ilegal no Irã e vários gays são perseguidos.

No entanto, o país tem um visão bem diferente quanto aos transexuais.

Pelas leis Islâmicas, a readequação é aceita pela religião e o país tem o segundo maior número de cirurgias de readequação sexual no mundo, ficando atrás apenas da Tailândia.

O estado vai financiar as cirurgias de readequação, sendo que o Irã é particularmente favorável àqueles que desejam a transição de mulher para homem.

Fonte: http://www.pinknews.co.uk/2010/03/22/iranian-actor-returns-to-screens-after-gender-reassignment/

Tradução: "Homer"

sábado, 10 de abril de 2010

Além da cidadania cirúrgica.


por Mario Felipe de Lima Carvalho*

Os debates que ocorreram no seminário “Transexualidade, Travestilidade e Direito à Saúde”, evento realizado pela Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR/CEBRAP), em parceria com o Ministério da Saúde e com o Observatório de Sexualidade e Política (SPW), nos dia 24 e 25 de março, demonstraram o adensamento da articulação política e intelectual em torno do tema, ao reunir acadêmicos, ativistas, representantes do governo e profissionais de saúde ligados a serviços específicos direcionados a esta população.

No campo de estudos comprometidos com a emancipação de travestis e transexuais, parece haver certo consenso quanto ao fato de que o acesso às tecnologias médicas de transformação corporal não deve estar vinculado à patologização de tais identidades. Defende-se o direito de auto-determinação de gênero, com o respaldo do Estado na garantia de mudança do registro civil. Nesse contexto, a argumentação muitas vezes apóia-se no direito à identidade e no respeito à dignidade humana. Assim, as tecnologias médicas seriam ferramentas da garantia de direitos. Porém, o que observamos é uma certa inversão na qual os direitos são subordinados ao saber médico. Durante o debate, Mirian Ventura refere-se claramente a isso quando afirma que “vivemos uma medicalização da justiça e não uma judicialização da medicina”.

Na maioria dos processos judiciais que envolvem mudança do registro civil (nome e sexo) de travestis e transexuais, um critério importante levado em conta pelos operadores da justiça é o/a requerente ter passado por todas as etapas do processo transexualizador, incluindo a cirurgia de transgenitalização. Obviamente existem exceções, mas essas sempre dependem da sensibilidade do poder judicial local. Assim, de maneira geral, a questão médica antecede o direito civil. Ao longo do encontro não foram poucas as intervenções de ativistas que ressaltaram a centralidade da luta pelo uso do nome social e facilitação da mudança do registro civil, colocando inclusive ser esse um processo que deve ocorrer antes de qualquer intervenção médica. O que se quer, antes de mais nada, é que o respeito à identidade e à dignidade humana sejam protegidos pelo Estado. Porém, a medicina parece estar acima do direito, cabendo ao médico atestar ou não a legitimidade das demandas de travestis e transexuais. Nesse contexto me parece que a visão biológica do ser humano e de sua vida prevalece sobre uma visão mais filosófica dos direitos humanos. Para Mauro Cabral, essa espécie de “cidadania cirúrgica” não seria uma vitória, mas um problema, um processo de tortura sancionado pelo Estado. Assim, em nome da dignidade humana seria necessário romper com a medicalização.

Frente a isso, alguns levantaram a questão de Como combater a medicalização num grupo que buscaria ser medicalizado?. Não estou certo de que a população de travestis e transexuais hegemonicamente busca uma medicalização de suas identidades. Acredito sim na existência de uma demanda comum por tecnologias médicas, sejam elas farmacológicas ou cirúrgicas.

É interessante notar que muito do que foi dito no encontro sobre medicalização, processo transexualizador, acesso à terapia hormonal, retirada de silicone industrial e implantes com silicone cirúrgico, não partiu da militância travesti presente no seminário. A preocupação com os serviços de saúde “específicos”, principalmente no que tange seu funcionamento e acesso, era muito mais presente na fala daqueles e daquelas que se identificam como transexuais. No caso dos homens transexuais, há uma demanda mais imediata que é a retirada no processo transexualizador do caráter experimental de procedimentos como a mastectomia (retirada das mamas) e histerectomia (retirada do útero), uma vez que tais procedimentos já são realizados em outros casos (em mulheres que têm câncer de mama, por exemplo), diferentemente da neofaloplastia (construção do neofalo). Já o discurso das mulheres transexuais presentes no debate centrou-se nas dificuldades impostas ao acesso ao processo transexualizador pelo protocolo diagnóstico. Hoje, tal protocolo inclui dois anos de acompanhamento psicoterápico e a necessidade da avaliação psiquiátrica. Na portaria do Ministério da Saúde sobre o processo transexualizador, não há nada que coloque a necessidade do diagnóstico de Transtorno de Identidade de Gênero (TIG), mas apenas uma avaliação psiquiátrica, que pode ser compreendida de duas maneiras: atribuição do diagnóstico de TIG ou uma avaliação das capacidades psíquicas para o consentimento da cirurgia, tal qual é feita em outros processos cirúrgicos, como a cirurgia bariátrica (“redução de estômago”). É uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) que estabelece a necessidade do diagnóstico de TIG para a cirurgia de transgenitalização.

Para o movimento de travestis e transexuais no Brasil, a questão do reconhecimento social e jurídico de suas identidades é ponto central, de maneira que o debate em torno da despatologização da transexualidade parece não ter eco. Os problemas seriam outros. Muitas/os ativistas ressaltaram que após a criação de serviços especializados, como o ambulatório TT em São Paulo, travestis e transexuais que chegam a qualquer Unidade Básica de Saúde com problemas relativamente comuns como asma, gripe ou dor de cabeça, são encaminhadas/os para o serviço especializado. “Seria a dor de cabeça de uma travesti tão diferente da dor de cabeça de qualquer outra pessoa?” Coloca-se assim em questão a melhor forma de concretizar o princípio de universalidade do SUS, que pressupõe o atendimento a qualquer cidadão.

Durante o encontro ficou nítida a tensão entre duas posições. De um lado há um discurso intelectual, em diferentes graus de interlocução com a produção teórica de Judith Butler, que afirma a necessidade de combater a medicalização e a patologização da variância de gênero e critica a artificialidade das identidades travesti e transexual, assim como ao binarismo de gênero pressuposto nas políticas públicas. De outro lado, um discurso pragmático, defendido sobretudo pelo movimento, que quer atendimento digno nos serviços de saúde e que afirma as identidades de diversas maneiras, mas principalmente para a elaboração de políticas públicas.

Ressalta-se que esse desencontro discursivo entre academia e movimento não é absoluto. A militância de muitos países, por exemplo, tem a bandeira da despatologização como pauta central, mas esse não é o caso brasileiro. Acredito que tal desencontro não seja apenas entre teorias, mas articula-se à urgência do reconhecimento identitário como ferramenta de combate à violência cotidiana sofrida por travestis e transexuais. Não se trata obviamente de desmerecer o trabalho de diversos acadêmicos em torno da despatologização. Trata-se de um debate necessário e importante mesmo não sendo central para o movimento.

Além de diferenças entre o discurso intelectual e militante, ambos divergiam, em alguns aspectos, do discurso médico. A fala do psiquiatra Alexandre Saadeh durante o seminário da CCR gerou incômodos. O vocabulário médico-psiquiátrico destoa do utilizado pela militância e pelo campo de estudos sócio-antropológicos. Enquanto o discurso médico identifica o sujeito a partir do “sexo biológico”, o militante e o acadêmico identificam o sujeito a partir do gênero auto-atribuído. Ao que parece, é crucial superar diferenças de linguagem e disputas profissionais para construir alianças estratégicas com a classe médica. Porém, é notável o quanto os médicos presentes no seminário não emitiam opiniões pessoais. Tudo que diziam baseava-se em alguma norma, lei ou resolução do CFM. Sabemos que as mudanças no pensamento médico ocorridas ao longo da história se deram também por pressões sociais, mas sabemos que vozes discordantes dentro da classe médica foram fundamentais. Assim, as alianças com a classe médica devem incluir profissionais dispostos à disputa interna que, do meu ponto de vista, é claramente política em torno das normas de gênero e sexualidade.

* Mário Felipe de Lima Carvalho é psicólogo, mestrando em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social (IMS/UERJ), onde realiza pesquisa sobre o movimento de travestis e transexuais. mariofelipec@yahoo.com.br

Publicada em: 31/03/2010 às 10:00 artigos e resenhas

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Não é só no Brasil que existem dificuldades...


Batalha por um novo certificado.

Postado dia 7 de abril de 2010, quarta-feira.


Por Ani Lamont

O australiano, e homem transexual, Conor Montgomery irá apresentar uma queixa a Comissão de Direitos Humanos Australiana Contra o Registro de Nascimentos, Falecimentos e Casamentos do estado de New South Wales, devido a recusa do cartório em proceder a retificação no seu certificado de nascimento.

Ele pretende apresentar também outra queixa, ao Ministério Público australiano, e levar a ambos os locais uma petição com mais de 500 assinaturas.

Montgomery, que está com 50 anos, vive como homem por mais de dois anos e meio. Ele se submeteu ao tratamento hormonal e a mastectomia bilateral, conseguindo dessa forma alterar sua identificação no passaporte para gênero masculino. O cartório de NSW no entanto, não vai retificar o restante de seus documentos a menos que ele passe por uma cirurgia potencialmente perigosa para ele.

Devido a problemas de saúde, Montgomery foi aconselhado pelos médicos a não fazer a cirurgia genital, pelo receio de que ele pudesse correr risco de morte. Ainda assim, o cartório insiste na cirurgia como a única forma de permitir a retificação da documentação.

"É ridículo", diz Montgomery. "Em alguns documentos está escrito masculino e minha certidão de nascimento diz feminino. Essa situação já me causou um grande estresse desnecessário. Eles precisam parar de atrapalhar a vida das pessoas, e me darem os documentos retificados de forma correta para que eu possa viver como o homem que sou."

"O governo falhou quanto a implementação de mudanças nas leis e políticas que garantam essa retificação, recomendada após estudos, pela Comissão Australiana de Direitos Humanos." Diz a porta voz da SAGE (Educação de Sexo e Gênero) Tracie O' Keefe.

"Foi recomendado que pessoas como Conor, não precisem passar por cirurgias desnecessárias para retificar seus documentos."

Info: Para maiores informações sobre o SAGE, visite http://www.sageaustralia.org/

Fonte: http://www.starobserver.com.au/news/2010/04/07/new-certificate-stoush/23664

Tradução: "Homer"