segunda-feira, 28 de abril de 2008

Oh Meretíssimo, escutai vossa súplica...


Eu sou um homem. Não me recordo agora qual filósofo que disse que o ser é, ele não foi nem será, ele é. E isso define a situação. Eu sou um homem.

O que pleiteio não é esmola, é o que é meu por direito; o direito a dignidade, a ser um cidadão e ser humano pleno. Direito esse que me é assegurado pela Constituição que sabemos ser supra lex, logo não existe impossibilidade jurídica.

Sabemos que quando se fala de transexualidade muitas pessoas reduzem o fator sexo a questão genital, que é sim importante, mas reduzir um ser humano qualquer a meros genitais é reduzi-lo ao primitivo, não levando em consideração a complexidade de todo e qualquer ser humano, e o que implica em ser homem ou mulher.

É fato que todos temos idéias, convicções a respeito de diversos assuntos porém é preciso cuidado porque é muito fácil tomarmos convicções por verdades absolutas sendo que não existe tal coisa. A verdade é relativa e possui nuances, matizes que devem ser levados em conta. Não necessariamente aceitos nem entendidos, mas respeitados.

E isso nos leva de volta ao princípio fundamental da dignidade humana. Um ser humano que tem a sua dignidade negada, é um indivíduo sendo desrespeitado no seu mais básico direito.

domingo, 27 de abril de 2008

Certezas Absolutas


É muito comum ouvir de homens trans que eles sempre tiveram a mais absoluta certeza de quem eram, desde sempre, quem sabe até no útero.

Será?

È verdade que todos nos sentimos estranhos quando criança, quase um et, alguém fora do lugar com uma sensação contínua de “que p$%# é essa?”. Mas é fato também que as pessoas dizem que você não é um menino, e ainda que ache que é, tentamos nos adaptar, como se isso fosse possível.

A adolescência chega e tudo complica. Com o corpo mudando e indo contra tudo que você imagina, os hormônios começam a despertar e o interesse sexual fica evidente. Mas o que fazer porque afinal você é uma “menina”, crescendo e florescendo. Não é à toa que muitos homens trans se identificam a princípio como lésbicas por falta de definição melhor no momento, apesar de saberem que aquele corpo traidor, não é seu.

Alguns casam, tem filhos e tentam ser “mulheres” comuns na tentativa de se encaixar de alguma forma. Mas também sabem, que são um hóspede indesejado na casa errada.

Alguns chegam a suas conclusões ainda na adolescência, começo da juventude, outros levam um pouco mais de tempo.

E sabendo disso me preocupo com essas certezas absolutas que as pessoas parecem dizer ter. É possível que a maioria tenha sempre se sentido um estranho numa terra inóspita com relação a seus corpos, mas afirmar sem dúvida que não houveram dúvidas nesse caminho é quase impossível. Não digo que não possa ocorrer, mas é algo que acho difícil de acontecer. Talvez seja mais uma maneira de defesa para evitar maiores sofrimentos.

Mas infelizmente, ou não, sofrer faz parte da maioria dos processos de descoberta de todo ser humano.

E sim, nenhuma transição começa quando você toma hormônios. Começa meses, anos antes quando você passa a tentar entender quem você é, e a lidar com essa situação. Os hormônios são importantes, é o primeiro passo físico a ser dado, no entanto eles não vão resolver todos os seus problemas de aceitação e adaptação se você não tiver se permitido ter dúvidas, questionar, buscar seu caminho.

Nada disso significa que você não saiba quem é ou diminua o seu sentir de alguma forma. É na verdade bastante saudável experimentar emoções variadas, faz parte de todo o aprendizado que é se readequar de um gênero, errado, a outro tão desejado, mas de certa forma desconhecido.

Existe uma longa diferença entre desejar muito algo, e realmente consegui-lo; e como lidamos com mudanças físicas drásticas, não só o seu psicológico precisa acompanhar essa alteração, como o seu cérebro vai precisar se adaptar a enxergar essa nova imagem.

É normal ter aquela ansiedade inicial de conseguir tudo o quanto antes, mas creia que a melhor maneira de ser bem sucedido em toda a transição é dar passos seguros, que podem até parecer longos e inúteis, mas no final você saberá perceber a diferença e a necessidade de tanto tempo.

O mais importante é aprender a se sentir bem, a buscar a sua essência, a abraçar a sua vivência, com paciência e perseverança, seguindo firme para se tornar não só um homem dono de si, mas também um ser humano rumo a sua plenitude.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Índia tem festival para transexuais


23/04/2008 - 12h00 -BBC Brasil

Começou esta semana no Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, o festival Aravan, o único do país dedicado exclusivamente aos transexuais.O evento, que costuma atrair cerca de 70 mil transexuais de várias partes da Índia, celebra a mudança de sexo simulando o casamento entre os transexuais. A idéia é simbolizar a união matrimonial do guerreiro Aravan com o deus Krishna.

De acordo com a mitologia hindu, Aravan era um corajoso príncipe virgem, que se dispôs a morrer pela honra da família. Ele tinha apenas um pedido antes de se sacrificar, que era se casar. Como nenhuma mulher se habilita a ficar viúva, Krishna toma a forma de uma mulher e passa a noite com Aravan e o ajuda a satisfazer seus desejos. O festival dá a oportunidade para muitos transexuais se sentirem em casa e costuma atrair vários transexuais de outras nacionalidades, que viajam à cidade para participar do evento.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

Expor ou não expor.

Muito já me perguntaram porque eu não dou a cara para bater. Você ficou bem, você fala bem, etc. Mas hoje, eu não quero por nada na janela por questões particulares. Um dia talvez, mas por agora, não.

É fato que sem a exposição de alguns, a sociedade talvez continuasse ignorando o fato de que FTMs existem, que sim é possível transformar um corpo feminino no mais perto possível de um fenótipo masculino, a tal ponto que não se saiba mais que aquela pessoa, um dia, foi uma mulher.

Mas isso não significa que todos sem exceção tenham obrigação de se expor.

Muitos preferem até esquecer que, um dia, viveram sim em um corpo feminino e tiveram experiências femininas por assim dizer. Outros, mais abertos, falam abertamente, se dispõem a aparecer na mídia, a dar voz e forma a esse mundo desconhecido da maioria. Outros tentam dar sua parcela de contribuição, seja em um blog, um site, com vídeos, ou até mesmo quem na penumbra ajuda aos que começam sua caminhada.

Nada tira o mérito de ninguém. Cada um sabe o que melhor lhe convêm escolher e de que forma vai lidar com sua peculiaridade.

O que não é interessante é quando alguns que optam por expor-se cobram aos outros, como se os que optam de forma diferente da sua, devessem ser eternamente gratos ou fazer o mesmo. Eu acho que seria mais interessante se cada qual tivesse a liberdade de agir como deseja.

Talvez aquele que só ouve outros tarde da noite no MSN, e tenta dar um conforto possa parecer menos útil do o que levanta bandeiras em alto e bom som.

Mas não é.

Cada qual tem seu valor e seu lugar. Cada ínfima contribuição vem somar e não destruir. Impor a alguém o seu modus operandi não é o melhor meio de obter ajuda, de ser ouvido.

Assim, quem tem a coragem de bater no peito e dizer sou transexual, que luta para quebrar estereótipos esta lado a lado com aquele que não aparece, que se resguarda, mas que de tão comum para o mundo, acaba por demolir preconceitos de forma menos efusiva, e não menos importante.

A palavra chave aqui é união. Não interessa o que você escolha, se ser porta voz de uma comunidade ou o cara casado pai de dez filhos, todos temos algo em comum, e o melhor que você possa fazer, será muito mais do que nada.

terça-feira, 22 de abril de 2008

You Tube


Para quem entende um pouco de inglês, uma boa dica para ver e ouvir outros homens transexuais contando suas experiências, é acessando o you tube estrangeiro. É possível também procurar programas que contenham notícias ou entrevistas com a mesma temática.

Jogue palavras como ftm, transsexual men, female to male, etc.

Segue abaixo links para a página de algumas pessoas / vídeos bem interessantes.








segunda-feira, 21 de abril de 2008

Amigos


Amigos... quem são e o que acham de nós. A maioria pode contá-los nos dedos, ainda mais numa situação tão peculiar. Mas ainda assim, eles existem, apoiam, nutrem e amparam quando necessário. Hoje vamos ler um depoimento de um deles aqui. Sincero e direto, mas que mostra que nem todos vão nos ignorar e esquecer, mas ao contrário, respeitar e amar.

Feliz daquele que tem um amigo FTM *

Conheci Erick no 1o. Colegial, desde então não nos separamos mais, nos tornamos grandes e melhores amigos. Fazíamos parte de uma turminha que hoje tenho lindas lembranças, aliás, as melhores. Passamos os três anos do colégio juntos, fizemos todas as loucuras que um adolescente pode fazer, desde não ir à aula para tomar aquela chuva de verão deliciosa até experimentar aqueles produtos que não fazem muito bem à saúde e que alteraram nossas funções mentais, pois é... faz parte, né?!

Quando o conheci, já sabia que alguma coisa não estava certa, mas o aceitava como era por conhecê-lo e saber que se tratava de uma pessoa incrível. Não falei nada com ele, achava melhor que ele viesse conversar comigo quando se sentisse à vontade e achasse o momento certo. Desse dia me lembro bem, estávamos sentados no estacionamento do colégio e ele começou a me contar a história do Super Man. Deixei que ele falasse tudo e no final apenas completei: “tudo bem, isso eu já sabia, alguma novidade?”, tentei deixa-lo tranqüilo, querendo transparecer que não era novidade e que não me importava com nada de que me acabara de contar. Lembro exatamente de sua feição de felicidade por ser aceito pelo que era e não pela sua opção sexual. Pois seu “segredo” era que se sentia atraído por meninas.

Depois de alguns anos, já na faculdade, estava em uma aula de genética e o professor falou de um Transtorno de Gênero. A partir deste dia soube que Erick era um FTM, mas preferi não falar nada e deixar que ele, sozinho, descobrisse sua condição. Espero ter agido corretamente, afinal não é fácil receber uma notícia como essa sem estar preparado.

Bom, há sete meses chegou o dia da nossa conversa. Ele começou me contando que estava um pouco confuso e queria minha opinião. Explicou, como um bom homem, capaz de colocar tudo em uma planilha do Excel, que 25% de seus amigos sabiam que ele “era de um jeito”, outros 25% pensavam que ele era “de outro jeito” e uma minoria sabia a “verdade”. Neste momento o interrompi e falei “Tudo bem, estou na minoria, mais alguma novidade?” Completei dizendo que teria que se preocupar apenas em ser feliz, e que teria que fazer de tudo para que isso acontecesse, que o apoiaria em todas suas decisões e que estaria ao seu lado, sempre.

Sei que não é fácil, existem milhares de pré-conceitos que nos impedem de seguir adiante, mas a vida é tão curta, que às vezes temos que seguir nosso coração e pensar apenas nas coisas e momentos que nos fazem felizes. Acreditar em você e naquelas poucas pessoas que estão ao seu lado e viver a vida, mas vive-la de maneira intensa.

Hoje posso dizer, feliz daquele que tem ao seu lado um amigo FTM. Com o Erick, aprendi muito, aprendi que pessoas especiais existem e estão ao nosso lado, independente de sua condição. Percebi que tenho ao meu lado um grande amigo o que o torna uma pessoa especial.

Vamos juntos a todos os lugares, o incentivo a se mostrar como um homem, quero que tenha orgulho, assim como eu tenho, de ser a pessoa que ele é. É divertido, inteligente e elegante, mas principalmente.......... UM GRANDE HOMEM!!!!

*Texto escrito por Virgínia

Fonte : http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=019

Obs: Caso as pessoas que escreveram esses textos queiram que os mesmos sejam retirados do blog, é só entrar em contato comigo por email.

sábado, 19 de abril de 2008

Nunca é tarde demais para nada na vida...

18/04/2008 - 09h33 - BBC Brasil

Aos 73, sueco vira pessoa mais velha a trocar de sexo

Um sueco de 73 anos acordou nesta sexta-feira como mulher, tornando-se a pessoa mais velha do mundo a trocar de sexo. A cirurgia de troca de sexo foi concluída na quinta-feira no prestigiado Instituto Karolinska, na capital sueca.

Os médicos não quiseram fazer comentários, mas a informação sobre o sucesso da operação foi dada à BBC Brasil pelo próprio paciente, em entrevista por telefone do quarto do hospital onde se recupera da cirurgia.

"Agora sou finalmente uma mulher", disse Loise à BBC Brasil. Sua identidade não pode ser revelada, segundo recomendação dos médicos. "Sempre me senti como uma mulher, mas agora tenho o corpo de uma mulher", acrescentou ela. E revelou, com um toque de timidez: "Já comprei até um biquíni".

Segundo Loise, a mudança de sexo foi realizada com uma série de três cirurgias. A primeira e mais longa operação foi conduzida pelos médicos na segunda-feira, e a última foi concluída nesta quinta-feira.

"Foi o que desejei durante toda a minha vida, e por isto não tive medo. Os médicos me anestesiaram, e quando acordei já era 100% mulher", contou Loise à BBC, dizendo que espera ver seu nome em breve no Livro Guinness dos Records.

'Morrer como mulher'

A nova mulher deverá deixar o hospital já na próxima semana. Mas continuará a proteger sua identidade: "Tenho medo", confessou Loise de seu quarto no hospital. "Gostaria que as pessoas me aceitassem como sou. Mas a verdade é que corro o risco de ser até assassinada por pessoas que simplesmente não aceitam a minha verdade."

Loise contou à BBC que os detalhes de sua operação serão revelados em matéria a ser publicada com exclusividade pelo jornal sueco Aftonbladet na próxima semana, quando ela deixar o hospital.

A BBC Brasil tentou contactar o médico Bengt Lundström, responsável pelo caso de Loise, mas ele não quis fazer comentários. Reiterou, apenas, a razão pela qual autorizou a operação de troca de sexo em um homem que no próximo mês de agosto completará 74 anos de idade.

"Ela (Loise) quer morrer como uma mulher. E este é um desejo válido, que deve ser respeitado", destacou ele. A sueca com quem Loise vive, no sul da cidade de Gotemburgo, contou nesta sexta-feira à BBC Brasil que foi a primeira a falar com ela após a cirurgia.

"Loise estava extremamente feliz, e os médicos disseram que tudo correu bem", disse Anne-Marie, cuja identidade também não pode ser revelada.

Segundo Anne-Marie, Loise foi internada no Instituto Karolinska no domingo passado. "Ela é uma pessoa forte, e foi para o hospital sem medo. Desde criança, Loise sonhava com este momento, e agora seu sonho se tornou realidade", disse ela.

Em entrevista concedida à BBC Brasil em abril de 2007, Loise disse que sempre tivera a certeza de que não era um homem. "Quero morrer como uma mulher", revelou na época.

Sonho

Foram necessárias quatro décadas para realizar o sonho: desde os anos 60, quando a Suécia realizou as primeiras cirurgias de mudança de sexo, Loise tentava se transformar em mulher.

É preciso passar por um longo e rigoroso processo para que os médicos e autoridades suecas aprovem a realização da operação, e Loise precisou fazer várias tentativas. Seu caso só foi aprovado após despertar o interesse de Lundström, o mais conceituado especialista sueco em transexualismo.

Loise contou à BBC no ano passado que tinha três anos de idade quando percebeu que se sentia, na verdade, uma mulher. "Eu queria me livrar dos meus orgãos masculinos, mas minha mãe me impediu", diz.

Durante toda a infância, preferiu as roupas das irmãs. Chegava a ir a escola vestida como uma menina. As calças compridas, jogou num lago perto de casa. Na idade adulta, Loise tentou viver uma vida "normal" como homem. Chegou até a se casar, mas o casamento durou pouco. "Algumas vezes, pensei em suicídio", revelou.

O processo de mudança de sexo vinha sendo preparado há quatro anos, período em que Loise recebeu tratamento hormonal e apoio psicológico constante.

A mudança de nome e identidade foi aprovada pelas autoridades suecas no ano passado, quando foram emitidos também seu novo passaporte e a carteira de motorista: os documentos que provam que ela já existe.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2008/04/18/ult4909u3378.jhtm

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Histórias de Vida III


São “André” de Assis

A minha história começa quando a minha mãe descobriu que estava grávida. Ela tinha apenas 17 anos e engravidou antes da hora. Apesar de todos os percalços ela assumiu aquela gravidez com coragem e determinação. Durante a gestação ela por várias vezes foi indagada quanto ao nome da criança. Sempre em alto e bom tom dizia que seu filho se chamaria André. Passaram-se os meses e num domingo, dia das mães, eu nasci.

Lá estava o filho esperado, só que em um corpo de menina. Os anos foram passando e fui criado como qualquer menina seria: brinco, lacinhos no cabelo, vestido. Tudo como manda o figurino. A partir de 3 - 4 anos comecei a me rebelar: pedi para tirar o brinco, não aceitava mais vestido, não deixava prenderem o meu cabelo e queria viver solto como um garoto.

Meus familiares não interferiram e fui crescendo achando que seria um garoto. Quando fiz 7 anos ganhei uma boneca de uma tia. Simplesmente a devolvi e pedi para trocarem por um carrinho. Lembro que todos me olharam perplexos. Minha mãe interferiu e fez eu pedir desculpas e aceitar a boneca. Foi a última vez que quis festa de aniversário.

A partir dessa data comecei a me isolar do mundo. Vivia duas vidas: uma que eu sabia que era a verdadeira, onde eu era o moleque que andava de bicicleta, corria sem camisa pelas ruas e aprontava mil e uma coisas. Na outra eu era a filha bem comportada que ia bem na escola.

Pararam as cobranças e a medida que o tempo passava acentuava-se a minha vida dupla. Foi assim durante o resto da minha infância, adolescência e início da vida adulta. Eu me considerava uma aberração. Enquanto minhas amigas assistiam Lagoa Azul e ficavam babando no ator, eu babava, mas na atriz.

Com 13 anos consegui cortar meu cabelo pela primeira vez. Vi aquele garoto dentro de mim aflorar. Passei a olhar no espelho e gostar de minha aparência.

Só que alegria de pobre dura pouco e de repente algo começou a crescer no meu peito e menstruei pela primeira vez: esse dia chorei muito. Minha Vó pensava que eu estava com cólica, mas eu acabara de confirmar o que minha mãe tinha falado: “virei mocinha”. Nessa época conheci a Rosana. Ela era como eu. Ficamos amigos e aprontamos muitos juntos. Infelizmente me mudei e perdi contato com “ela”.

Durante toda a adolescência nunca namorei e a minha vida passou a ser dedicada ao estudo e aos meus cães. Com eles eu me abria e nunca sofri preconceito. Resolvi fazer faculdade. Escolhi um curso que mexia com animais.

Foi ótimo a minha saída de casa. Conheci pessoas que me tratavam bem independente da minha aparência. Me destaquei desde o início e na formatura recebi convite para fazer mestrado. Aceitei sem hesitar pois iria ganhar bolsa e não teria de me expor procurando emprego.

Antes de terminar o mestrado comecei a dar aula em uma universidade, onde estou até hoje. Foi difícil eu entrar na sala de aula, mas consegui e me realizei profissionalmente. Resolvi continuar os estudos e em uma aula de Reprodução Animal a professora comentou sobre transexualismo. Vi que me encaixava naquele perfil e descobri que não estava sozinho no mundo.

Hoje tenho 34 anos, fiz a mastectomia e aguardo para fazer histerectomia. Meus familiares me aceitaram super bem, apesar de ainda trocarem meu nome constantemente. Profissionalmente continuo trabalhando com o nome feminino, pois corro o risco de ser processado por falsidade ideológica.

Sou casado com uma mulher que amo muito e que me dá o maior apoio em tudo o que pretendo fazer. Sem ela já teria desistido. Quanto aos amigos tenho poucos mas a maioria deles me aceitaram. Essa é parte da minha história, de sofrimentos, angústias, mas de muitas esperanças de que a medicina consiga me tornar no homem que sempre sonhei e de que a justiça permita que eu me assuma como um homem, possa casar legalmente, ter filhos, enfim, constituir uma família de verdade.

Texto escrito por André


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segunda-feira, 14 de abril de 2008

O mistério Trans

14/4/2008


Kim, transexual espanhola, acabou transformando a cidade de Granada em meca das transexuais

Por Marco Lacerda*


Assim como San Francisco, na Califórnia, é um ponto de referência para homossexuais, Granada, na Espanha transformou-se em meca para transexuais de todo o mundo, porque é um dos poucos lugares do mundo onde as cirurgias para mudança de sexo – que podem custar o equivalente a R$ 50 mil – são inteiramente gratuitas. O responsável pelo fenômeno é uma mulher de 63 anos, Kim Perez, que um dia chamou-se Joaquim e que há mais de uma década vem trabalhando para o sucesso da Associação Espanhola de Transexualidade, sediada em Granada e presidida por ela com o apoio de organizações humanitárias e partidos de esquerda.

O governo de José Luiz Zapatero submeteu ao Congresso um ousado projeto que inclui o "direito à identidade sexual". O projeto, que já tramita no Parlamento europeu, permite aos espanhóis mudar de sexo inclusive nos registros civis. A medida completa uma outra, conquistada há mais tempo, concedendo o direito de mudar de sexo a todas as pessoas que desde a juventude advertem que não pertencem ao sexo em que estão registradas em cartório. "Nosso próximo passo é estender a gratuidade da cirurgia a toda a Espanha", promete Kim com a segurança de quem já se tornou uma figura de projeção nacional.

Com raras exceções, todo transexual carrega consigo uma dor só comparável às depressões mais fortes, que começa na infância ou na adolescência, misturando vergonha, humilhação e culpa", diz Pérez, que já foi "ele" e hoje é "ela". Esse sentimento, explica, nasce da incapacidade do transexual de compreender a si mesmo, de não ser capaz de responder a uma pergunta que a maioria das pessoas tem na ponta da língua: sou homem ou sou mulher?

La Kim

Joaquim Pérez Fígares, de 63 anos – a atual Kim –, é o mais velho dos oito filhos de uma tradicional família de Granada. Os primeiros indícios de sua transexualidade apareceram aos dez anos. A mãe, dona de casa, olhava tudo com o espanto próprio de uma época em que sequer existia a palavra transexual. O pai, coronel da Aeronáutica, nunca reprimiu o filho, tampouco o compreendeu. "Todos achavam que eu era homossexual", lembra Kim. O isolamento neurótico em que Joaquim passou a viver levou os pais a interná-lo numa clínica psiquiátrica onde foi submetido a um tratamento chamado de "coma insulínico", baseado em doses potentes de insulina que o induziam a longos estados de coma, seguido de doses de glicose para voltar à realidade. Três meses e 30 doses de insulina depois, Joaquim abandonou o tratamento da mesma forma como entrara. Movido pela fé cristã, o jovem Joaquim buscava conforto na religião, "mas a Igreja aos poucos ia me deixando doente, porque não me absolvia nem apontava caminhos.



No final dos anos 60 ele concluiu o curso de História e começou a dar aulas na Universidade de Granada. Aos 30 anos, abandonou a Igreja e mudou-se para a Inglaterra. Trocou a cátedra na Espanha por um emprego como lavador de pratos em Londres. De volta ao seu país, três anos depois, com a ajuda de tratamentos psicológicos, Joaquim retomou a carreira de professor universitário. Aos 50, ao fazer um balanço de sua história pessoal, sentiu-se diante de uma página em branco. "Era como se eu vivesse numa sala de espera diante de uma porta que nunca se abria".

Foi em Madri, no começo dos anos 90, que a vida de Joaquim deu uma guinada. Numa boate gay ele conheceu uma garota, ou, melhor dito, um garoto transformado em garota graças a uma intervenção cirúrgica. "Era uma mulher linda, exuberante, vivendo sua transexualidade em toda a plenitude, sem os medos que me marcaram", recorda. Naquele dia, Joaquim se deu conta de que tinha desperdiçado sua vida, vítima de anos de repressão. Disse a si mesmo: "Não vivi até agora, mas estou vivo".

Não muito depois iniciou um tratamento hormonal como primeiro passo para a troca de sexo. Em 1995, aos 54 anos, depois de uma cirurgia de quatro horas, estava consumada a transição. Nascia Kim. Depois da mudança, Kim passou de uma situação quase desumana, de verdadeiro inferno, a outra, radicalmente diferente, cheia de esperança.

Como professor universitário, Joaquim terminara um semestre letivo de terno e gravata e voltou para o semestre seguinte de saia e blusa. "Os únicos que se assustaram foram os professores. Os alunos aceitaram-me como se nada tivesse acontecido", ressalta.

Kim admite, porém, que a cirurgia não a transformou em mulher. "Continuo sendo um transexual, só que agora mais serena, equilibrada, forte". Um mundo novo descortinou-se para ela. Novos amigos e amigas começaram a aparecer e surgiu na vida de Kim um sentido de missão, de servir a outros transexuais, de pavimentar o caminho para que a transição para a sexualidade à qual eles pertencem não seja tão traumática como foi a sua.

Apesar dos avanços, a realidade enfrentada pelos transexuais ainda é cruel. A maioria – calcula-se que são 200 mil em todo o mundo – vive da prostituição, mesmo sendo dotados de talentos que, não fosse a discriminação, os permitiriam escolher outra forma de sobrevivência. Muito disso, diz Kim, "se deve àqueles pesados anos de disciplina católica baseada nas teorias naturalistas de São Tomás de Aquino, segundo as quais extirpar um órgão sadio é considerado uma aberração".

Transexualismo não é perversão, obsessão ou transtorno mental. Tampouco é uma doença. Portanto, do ponto de vista científico, não há o que curar. A explicação é do cirurgião plástico italiano Marco Loiácono, de 30 anos, que tem curso de especialização em cirurgia de mudança de sexo na Universidade de Groningen, na Holanda. Mesmo não havendo o que curar, a transexualidade pode ser geradora de sofrimentos insuportáveis. "O pior deles é a pessoa ter um aspecto físico – masculino ou feminino – que lhe parece estranho, como se a natureza lhe tivesse pregado uma peça", diz Loiácono.

O caminho até uma operação de mudança de sexo não é fácil. Na Espanha existem apenas três especialistas no assunto. A psicóloga Lola Izquierdo faz parte desse reduzido grupo. "O objetivo é evitar que alguém que não seja transexual chegue a um ponto sem retorno", explica Lola. Daí a importância da terapia psicológica preparatória. Uma pessoa que queira mudar de sexo deve estar continuamente sob observação desde o momento em que começa o tratamento hormonal. Se alguma coisa vai mal nesta fase, ainda é possível voltar atrás. A última etapa, chamada de "teste da vida real", dura um ano. Neste período espera-se que a pessoa viva com desenvoltura no sexo que deseja. A operação só é feita em quem supera esta fase com êxito", diz. Uma das clientes de Lola, a transexual Mercedes Camacho, é um exemplo bem sucedido. Sua vida mudou depois de operar-se aos 19 anos. Hoje, aos 32 anos, sou casada e muito feliz", comemora Mercedes.

Atualmente, segundo Kim Pérez, além dos partidos de esquerda, os transexuais espanhóis contam com o apoio de organizações médicas e dos movimentos feminista e ecológico – uma força que representa 4% da população do país, com influência no resultado de qualquer eleição. Mesmo assim, ainda são rechaçados pela Igreja. "O Vaticano acaba de proibir nosso ingresso na vida religiosa. À primeira vista o veto pode parecer normal e até divertido. Já pensou eu, Kim, de monja carmelita? O que me espanta, porém, é a hipocrisia. Como podem condenar a sexualidade alheia homens que renunciaram à própria sexualidade"?, pergunta.

Segundo Kim, vozes isoladas começam a se fazer ouvir dentro da Igreja espanhola em defesa dos transexuais, como a do arcebispo de Sevilha, cardeal Carlos Vallejo, franciscano e psiquiatra. "Vou à missa diariamente e comungo acompanhada de minha mãe. Mas existe sempre a apreensão de que, um dia desses, um padre que não me conheça me negue a comunhão".

Há pouco, Kim ganhou um novo aliado, o psicanalista jesuíta Carlos Dominguez Morano. O que mais impressionou o sacerdote jesuíta foi o fato de Kim não ser apenas uma pessoa em busca da aceitação de sua condição sexual, mas de um ser humano comprometido com sua fé. Para Morano, o problema da Igreja, ao longo dos séculos, não é com hetero, homo ou transexualismo, mas com sexo. O que a hierarquia católica prega sobre o assunto é fruto de dedução filosófica, não de experiência pessoal. Jesus sequer menciona sexo em seus ensinamentos, a não ser para desmontar preconceitos".

Por causa de preconceitos ostensivos, Kim Pérez rompera com a Igreja, prometendo não mais voltar. Mas não tardou em perceber, como católica, que sua luta deveria ser travada dentro da Igreja. "Um transexual rompe com o esquema da lógica da maioria das pessoas, mas quem mais nos discrimina são os católicos à moda antiga, os fariseus de hoje". Por isso, o compromisso de Kim passou a incluir, também, "a luta por uma Igreja cujos atos sejam mais coerentes com os ensinamentos de Jesus. Hoje em dia entro em qualquer igreja, segundo as minhas necessidades. Se alguém quiser me expulsar, que chame a polícia", conclui.

Fonte: http://mixbrasil.uol.com.br/mp/upload/noticia/4_63_66374.shtml

domingo, 13 de abril de 2008

Histórias de Vida II


Minha história FtM

Nasci no Rio de Janeiro, num bairro pobre. Desde cedo me identificava como menino e não entendia porque me colocavam roupas de menina, nem porque minha mãe cismava de pentear meus cabelos como menina. Eu retrucava, chorava, gritava que era menino, que ela me largasse, pois eu não era mulherzinha pra ficar fazendo aqueles penteados, mas só conseguia receber pancadas e mais pancadas.

Lembro-me das brincadeiras com meninas... eu detestava. Era exímio em brincadeiras masculinas, e não apenas me sentia um menino, mas sabia ser um. Gostava de correr descalço e apenas vestindo um short, sentindo o vento em meus cabelos, e me sentia livre e feliz... até chegar em casa e minha mãe e avó me tratarem como menina... eu não entendia nada e as questionava por que faziam aquilo se eu era menino ?

Apesar da opressão judaico-cristã (quando eu tinha nove anos de idade, minha mãe se converteu à Igreja Evangélica) tudo corria na medida do possível, até vir a primeira menstruação. Tive uma hemorragia tão séria que eu não parava de sangrar e fiquei três dias internado por conta disto.

Sem entender nada, pensei que estava doente e agüentei o período hospitalar, até voltar pra casa. Minha mãe me disse que eu agora era uma mocinha, e que já deveria pensar como adulta.

Foi ridículo eu ficar olhando-a criar pensamentos de como eu iria me vestir, me calçar... um monte de planos sobre a minha própria vida !

Conforme a tradição judaica, quando fiz meus quatorze anos houve festa em minha casa. Ganhei jóias e relógios de meus pais e da avó materna (que eu adorava). Esta mesma avó, vendo meu desapontamento diante dos presentes, me perguntou o que eu queria se parecia triste. Minha resposta foi : “Vó eu quero um tênis da Topper, de cano longo, da cor bege, pra jogar basquete !”

Ela ficou meio perplexa, mas me deu o tênis. Ao recebe-lo fiquei radiante !

A dor maior durante minha infância, adolescência e juventude foi saber ser algo, olhar pra o espelho e ver outra coisa. Eu não conseguia entender o que tinha acontecido! Eu era um menino, um rapaz com peitos e sem pênis ! Eu era uma anormalidade ! Era uma criança e jovem tão desesperado com isto que direcionei meus esforços para o estudo, o Karatê (que eu fazia desde os 12 anos de idade) e as estórias que eu escrevia. Tudo para não enlouquecer. Tinha crises de depressões sérias, de ficar enfurnado num quarto escuro sem vontade pra nada... apenas pensando, pensando, pensando...

O tempo passou e vieram as namoradas. A primeira séria foi enquanto eu fazia Faculdade de Medicina. Por causa dela minha família me tirou da faculdade. Eu já estava no segundo ano de Medicina. Nunca mais consegui voltar e depois de dois anos sem saber o que fazer da vida resolvi estudar Informática. Hoje em dia sou Analista de Sistemas. Minhas mulheres não entendiam o que eu era, ficavam confusas... Eu detestava que tocassem meu corpo e nunca permiti que me penetrassem. Todas, sabiam que eu era diferente, diziam que eu era estranho... não era lésbica...e eu lhes dizia que era homem que tinha nascido no corpo errado. E como eu tinha ódio deste corpo !

Há pouco mais de um ano decidi fazer Faculdade de Psicologia, a fim de trabalhar futuramente com Inteligência Artificial. Durante uma conversa com uma professora e uma amiga lésbica, esta minha amiga falou que gostava de mulheres, etc. Eu disse que também gostava e que eu era sabia ser homem. Foi o bastante para ela que ficar interessada pelo que eu houvera falado e me perguntar se sabia o que eu era. Disse-lhe que tinha nascido no corpo errado. Ela me perguntou se eu sabia o que era Transexualismo. Disse que não, pois não sabia mesmo. Diante do conselho dela de que procurasse saber o que era aquilo, resolvi pesquisar principalmente pela Internet.

Encontrei alguns sites que falavam do assunto e ao ler vi minha vida neles. Desesperado, como se tateando no escuro, acabei descobrindo que sou transexual FtM e que posso vir a ser normal através da cirurgia de redesignação sexual. Chorei muito, me desesperei com o Criador, questionando o próprio D’us.! Por que eu houvera nascido assim, por que tinha vivido tantos anos de dor, sofrimentos, desespero e agonia ? O que eu havia feito para merecer tamanho castigo ? Hoje em dia levo tudo como um grande aprendizado e pretendo ajudar outros que passam pelo mesmo embate psicológico e toda a agonia que senti durante toda a vida.

Sei que vou sofrer dor, vou ser cortado em cirurgias, vou ter que tomar testosterona pro resto da vida e ainda por cima vou ter que me expor para mudar de novo. Mas não posso mudar isto. Vem de dentro para fora, não é um desejo psicológico, mas algo que me impulsiona do fundo do meu coração. É o próprio ser. Quero apenas ser eu mesmo, Albano, poder me olhar no espelho, olhar para o meu corpo sem ver seios nele, ver meu pênis. Quero poder ter os pelos do meu corpo, o cavanhaque que tanto sonho.... quero ser chamado de Albano e por gênero masculino.

Quero ter apenas o direito de ser EU MESMO e fazer as pazes com o meu ser físico que deixei de lado desde que nasci..

Texto escrito por Albano

Fonte: http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=017


Obs: Caso as pessoas que escreveram esses textos queiram que os mesmos sejam retirados do blog, é só entrar em contato comigo por email.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Interrupção na programação por motivo relevante - leiam por favor

"Artista" que matou um pobre cão de fome e sede vai voltar a repetir o ato...

Como muitos devem saber e até ter protestado, em 2007,Guillermo Vargas Habacuc, um suposto artista, acolheu um cão abandonado de rua, atou-o a uma corda curtíssima na parede de uma galeria de arte e ali o deixou, a morrer lentamente de fome e sede.Durante vários dias, tanto o autor de semelhante crueldade, como os visitantes da galeria de arte presenciaram impassíveis à agonia do pobre animal.Até que finalmente morreu, seguramente depois de ter passado por um doloroso, absurdo e incompreensivel calvario.


[http://img505.imageshack.us/img505/1990/dscn8139vk6.jpg][http://img339.imageshack.us/img339/5848/dscn8146pu4.jpg][http://img259.imageshack.us/img259/5720/dscn8153yv8.jpg][http://img218.imageshack.us/img218/7240/navitividad1cq9.jpg][http://img218.imageshack.us/img218/7937/navitividad4so6.jpg][http://img218.imageshack.us/img218/5895/perritoho5.jpg]
[http://www.youtube.com/watch?v=O6vP8CgTonQ]


Parece-te forte?


Pois isso nao é tudo: a prestigiosa Bienal Centroamericana de Arte decidiu, incompreensivelmente, que a selvageria que acabava de ser cometida por tal sujeito era arte, e deste modo tão incompreensível Guillermo Vargas Habacuc foi convidado a repetir a sua cruel acção na dita Bienal em 2008.Facto que podemos tentar impedir, colaborando com a assinatura nesta petição :


http://www.petitiononline.com/13031953/petition.html

(não tem que se pagar, nem registar) para enviar a petição, de modo que este homem não seja felicitado nem chamado de 'artista' por tão cruel acto, por semelhante insensibilidade e disfrute com a dor alheia.


REENVIA ESTA MENSAGEM A TODOS OS TEUS CONTACTOS, POR FAVOR.


Se puseres o nome do 'artista' no Google, saem as fotos deste pobre animal e seguramente também aparecerão páginas web onde poderás confirmar a veracidade da informação.


--Bruno Coelho

Histórias de Vida I


Erick, o rockstar


Olá. Meu nome é Erick e sou FTM. Venho lendo a coluna FTM do Fervo, há mais ou menos uns 6 meses. Desses tempos pra cá, resolvi me assumir para os amigos e família.

Não é fácil viver no mundo hoje em dia, com tantos preconceitos, tanto julgamento. Mas sempre digo que sou abençoado. A família e os amigos que tenho são tudo pra mim e, mesmo depois de ter assumido, todos estão juntos comigo nesta longa caminhada.

Tenho apenas 24 anos, mas uma longa bagagem de acontecimentos, bons e ruins, para um FTM. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu amigo de coração, meu grande "mestre" em tudo o que vem acontecendo comigo, o escritor desta coluna. Sem a força que ele me dá não estaria aqui escrevendo e falando sobre mim. Iria ser mais um calado e escondido no medo de assumir minha real identidade.

Agora vamos falar um pouco de minha vida. Desde pequeno me vejo como um garoto. No modo de me vestir, de falar, de brincar. Tudo. No Jardim de Infância, falava para meus pais que tinha uma "namorada", o que os deixava apavorados. Quando ia ao banheiro, pegava o crachá do banheiro dos meninos e saía correndo para que a professora não me pegasse antes de chegar ao banheiro, e quando ela conseguia, acabava entrando no banheiro dos meninos de qualquer jeito.

Fui crescendo e logo estava na 1ª série. Fiz uma revolução na escola, pois não queria entrar de saia. Os coordenadores fizeram inúmeras reuniões com professores e com meus pais para resolver o que iria ser feito. Ganhei a causa, e mais uma vez mudei as regras do jogo e o uniforme passou a ser unissex. Neste período, meus pais me colocaram para fazer terapia, numa psicóloga. Eu era uma criança normal. Só achava que iria ser um menino mais tarde!

O tempo foi passando e a frustração aumentando. Todas as noites antes de dormir, pedia ao "papai-do-céu" para que me transformasse num menino ao acordar. Em vão...Vestia minha fantasia do Superman e me concentrava horas afio para tentar virar um menino. Me trancava no quarto, rezava, me concentrava e nada.

A adolescência chegou e com ela a angústia de estar crescendo e nada acontecer. Na 5ª série, fiz uma amizade que dura até hoje. Alan, meu amigo e companheiro de trabalho me apoiou desde o início, quando tínhamos apenas 11 anos de idade. Ele falava para mim que sempre me viu como um "cara" e que nunca iria deixar de me enxergar assim. Hoje, ambos com 24 anos, continuamos amigos e nos apoiamos em nossas verdades. Muitos amores adolescentes frustrados se passaram, muitos "bailinhos", festas, danceterias passaram em branco. Eu me considerava um desafortunado, que carregava consigo o castigo de viver para sempre aprisionado num corpo que não era meu.

Até o dia que fui ao cinema assistir "Meninos Não Choram". Descobri, no meio de todo aquele sofrimento, que havia uma chance de me tornar INTEIRO. Depois de assistir ao filme, fiquei uma semana estático, mal, triste e alegre ao mesmo tempo, em saber que eu tinha uma solução. Mas o medo da rejeição ainda me tomava. Há seis meses, comecei a correr atrás de sites, colunas, fotos, reportagens...tudo o que dizia respeito à transexuais. Graças a uma indicação de minha amiga, comecei a freqüentar um psicólogo e, logo na segunda sessão, me assumi, quase explodindo, de tanto tempo que guardara tudo o que tinha para falar. Nesses dias, conheci o autor da coluna, através dos textos do Fervo. Escrevi a ele, agradecendo pelos conselhos, pelos textos e tudo mais.

Começou aí nossa amizade. Começou também a coragem para contar aos meus pais e amigos tudo o que eu sou e tudo que vou fazer para, finalmente, ser o Erick por inteiro. Aos meus amigos, maravilhosos, devo agradecer a compreensão e a força de vontade para tornar meu sonho possível. Pois eles, no primeiro instante começaram a me tratar e a me chamar de Erick, sem questionar.

Para contar para meus pais foi um pouco mais difícil. Recomendado por minha ex-namorada, aluguei um filme chamado "Minha Vida Em Cor-de-Rosa", onde um menino de 7 anos de idade se vê no dilema de ser MTF, achar que vai ser uma menina quando crescer. Este filme me ajudou muito na hora de contar para meus pais, pois ao assistirem, se lembraram de tudo o que passei na infância, de todas as vontades oprimidas. Embora mostre o contrário (um menino que por dentro é uma menina), o filme é ótimo, e uma ótima dica para quem vai se assumir para os pais.

Enfim. Sei que vou começar meu tratamento em janeiro próximo e que a cada dia que passe, me sinto melhor, por saber que serei completo e serei eu mesmo.

Muito obrigado ao escritor desta coluna, aos meus pais e aos meus fiéis amigos.

Texto escrito por Erick


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segunda-feira, 7 de abril de 2008

Justiça II

Não serei leviano em achar que um juiz deva sair distribuindo sentenças a torto e a direito para qualquer um. Existem documentos comprobatórios, e que temos por obrigação apresentar para certificar a essa pessoa de que somos quem somos e de tudo que fizemos.

Mas no restante cabe a nós a espera inquietante de ter sua vida dependendo de outrem. A sensação de impotência é sufocante, mas não há escolha: é aguardar e aguardar.

Uma coisa é certa: aparência e postura conta muito.

As pessoas, na sua maioria, esperam ver uma mulher algo masculinizada, com trejeitos forçados ou estereotipados e com fácies que lembrem de alguma forma que são do sexo feminino. Mas nunca um homem como qualquer outro que cruza sua frente na rua.

É aí que entra o fator aparência. A melhor hora para entrar com a retificação é quando você já tem algum tempo de hormônio e as características femininas foram embora, incluindo já ter feito a mastectomia e a histerectomia, ou os mais corajosos, a readequação genital. Até é possível dar entrada com uma aparência ainda andrógina, de menino de 13 anos, mas as possibilidades de sucesso diminuem sobremaneira.

Por mais que as pessoas digam que aparência não faz diferença, que o que interessa é saber se é homem ou mulher, se tem pênis ou vagina não é totalmente verdade. É impossível não levar em consideração um homem com pelos no rosto, voz grave, com postura e atitude masculina. Eles podem até tentar, mas é difícil esquecer porque esse homem pode ser seu amigo da esquina, de bate papo, do trabalho e você nunca saber o que ele tem no meio das pernas, afinal não andamos nus ou muito menos com nossos códigos genéticos pendurados no pescoço.

Como tudo durante a transição, procure um bom advogado que aceite te defender. Procure informações sobre profissionais que já tenham experiência com esse tipo de processo, informe-se, pergunte sobre atos processuais, custas. Se for a defensoria pública, marque em cima, porque o número de pessoas é enorme e sua espera pode ser maior ainda. Vale lembrar que alguns advogados fazem causas pro bono, ou seja, de graça, mesmo sendo profissionais particulares. Perguntar não ofende.

Mas no final tenha confiança em você e no seu advogado. Não se desespere, não se angustie, não tenha medo, lembre-se da sua estrada, e aprenda a ter paciência, porque essa é a última caminhada rumo a ser dono de si mesmo.

sábado, 5 de abril de 2008

Justiça


Talvez a primeira vista conseguir tratamento médico pareça o mais difícil, mas não é.

Entre erros e acertos você acha alguém que te acompanhe ou serviços onde se integrar. Mas e quando você não tem para onde correr, com sua vida na mão de uma única pessoa? Isso se chama Justiça.

A parte mais difícil, e mais cansativa também é a hora de entrar na Justiça para ter sua documentação retificada. Lá você irá lidar com pessoas na sua maioria, absolutamente leigas sobre o assunto, desde o juiz até o perito do juízo - aquele que será designado para fazer sua perícia. Sim, ele é médico, mas provavelmente também não saberá muita coisa.

Enquanto para mfts a jurisprudência já é pacífica nos tribunais, visto que tendo feito a cirurgia é quase impossível ter a retificação negada, para ftms a coisa complica principalmente pelo fato de a maioria não fazer a cirurgia genital.

Torna-se difícil explicar para um indivíduo leigo que um pênis não é a mais literal tradução de masculinidade. Que ser homem ou mulher não se resume a “meninos tem pênis, meninas tem vagina”. E que a maioria, não faz à cirurgia pelas condições técnicas ainda insatisfatórias.

O problema aí é que apesar de termos uma resolução, laudos, comprovação e afins, outros fatores entram em cena, mas não esperem que juízes ou promotores sejam imparciais. Eles não são porque são seres humanos e não máquinas; mas seres humanos com um enorme poder de decisão sobre a vida alheia.

Não existem leis específicas para transexuais, mas existe uma Constituição que garante a qualquer cidadão o direito básico à dignidade humana:

“Título I - Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana; (...)”

“Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais
Capítulo I - Dos Direitos e Deveres Individuais e
Coletivos
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,
à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano
ou degradante; (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano materialou moral decorrente de sua violação;(...)”



Continua...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Masculino ou feminino?



À primeira vista este texto pode parecer sem propósito, ridículo, ou até mesmo escatológico para quem não é transexual, mas a problemática de qual banheiro utilizar em público, é na verdade, uma parte importante para manter nossa integridade física. Várias pessoas já foram impedidas e até mesmo agredidas por terem sido descobertas usando um banheiro não compatível, à época, ao seu sexo físico. Mas como proceder para evitar problemas?

Na verdade tudo depende da sua aparência e, principalmente, da sua postura. Antes de começar seu tratamento hormonal, se você chega num banheiro feminino e é olhado como se não pertencesse ali, ou até mesmo colocado para fora por estar no lugar errado, é um bom sinal de que vale a pena tentar entrar no masculino. Se não ocorrer isso, o risco de ser rechaçado no masculino, e até mesmo, assediado é grande.

Começando a usar o masculino.

Conseguindo quebrar a barreira dos olhares, sua postura também conta. Não entre como se estivesse com medo ou furtivamente, entre firme, mas sem aqueles estereótipos masculinos básicos de coçar algumas partes e cuspir no chão. Isso ficaria forçado e denotaria contra você.

Quando já se começou o hormônio, é claro a aparência não mais permite nem sequer pensar no feminino, fica mais fácil ir direto ao masculino sem expectativas de ser barrado, mas ainda assim de nada adianta a aparência se a postura é a mesma de alguém que ainda não toma hormônio e teme ser confundido. Basta ser você mesmo, seguro e confiante, sem máscaras ou comportamentos falsos.

Passado da porta fica a dúvida de como conseguir se aliviar. Óbvio que você tem que ir ao reservado. Ali ninguém vai incomodar, e quem está fora também não está prestando atenção no que o outro está fazendo. Ao contrário das mulheres, geralmente homens entram no banheiro para resolver suas necessidades físicas somente, e não trocar idéias, dicas ou fofocas. Existem homens biológicos que vão ao reservado inclusive para urinar, e que às vezes preferem sentar para fazê-lo. Não é a maioria, mas sentar para resolver algumas necessidades fisiológicas básicas, não faz de ninguém nem mais nem menos homem.

Claro que alguns banheiros não tem reservado com porta, ou o asseio não é suficiente, e o melhor mesmo é urinar de pé, ou procurar outro em melhores condições. Porém, existem alguns truques e dispositivos disponíveis no mercado para facilitar essa tarefa, como já foi explicado no post Dicas de sobrevivência para FTMs II e III.

Usando o reservado é possível também urinar de pé sem o auxílio de nenhum packer. Esse método requer treinamento, controle e um pouco de coordenação. Posicione-se em pé, de frente para o sanitário, com a tábua levantada e a roupa abaixada. Com as pernas ligeiramente abertas, coloque-se logo depois do final da borda que todo sanitário tem ao redor, de maneira que a saída da sua uretra fique na direção do vaso sanitário. Agora é só deixar fluir. No começo é natural se molhar, mas vai uma dica: quanto mais apertado, sem que isso signifique estar se urinando pernas abaixo, o jato sai mais forte e para frente querendo ou não.

Uma coisa é certa, para todos esses meios é necessário praticar antes em casa. Não ache que sabe e consegue de primeira em público, você pode acabar tendo a desagradável surpresa de ficar todo molhado.

No final de tudo, procure saber sobre o banheiro que você vai utilizar antes de ir, faça um reconhecimento, veja a freqüência, prepare-se, estude e vá em frente como se isso fizesse parte do seu dia a dia desde o nascimento. Daqui a algum tempo realmente será banal e corriqueiro. E se de todo, um dia, a necessidade for imperativa, arrisque-se, confie e entre no primeiro que puder, sempre tendo em mente que só aparência sem uma atitude confiante e positiva de quem já está acostumado conta mais que barba, bigode e cavanhaque.

Adapte-se as suas necessidades, crie novas alternativas e boa sorte.

Fonte : http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=023

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Meu Filho*


Caramba! Cheguei a sonhar com isto. Meu filho me cobrando o texto sobre sua situação peculiar e como me sinto a respeito.

Como me sinto? O que acho? A bem da verdade não sei se sei; me surpreendo vivendo com esta realidade como se ela sempre fora e isto me perturba. Lembro sempre das dificuldades e do sofrimento "à grega" da pessoa de antes, e meu coração se espreme.

Atormenta-me a constatação da total ignorância das consultas, com médicos tarimbados, tipo fast-food e seus formulários, que deram, e continuam dando, não só a meu filho, seus diagnósticos esdrúxulos, vendo apenas partes desconexas de um corpo e não um indivíduo inteiro.

Já passei da fase desesperada e meio obsessiva - compulsiva de: o que foi que eu fiz? O que não fiz? Mea culpa, mea maxima culpa. Lá pelas tantas, aceitei minha responsabilidade nesta história de vida, é fato, arregacei as mangas e vamos à luta. Não foi nada fácil, até porque vivi a ambigüidade mãe x médica. Que loucura!

Aliás, continua não sendo fácil, pois me assusta a incompreensão do mundo e até da família; a ignorância, a simples suposição de uma situação constrangedora. Amedronta-me a hipocrisia e o desrespeito da sociedade. Incomoda-me o tempo que uma cabeça brilhante perde, no que tange a estudo e trabalho, devido ao descompasso entre o que se vê e o que se documenta, como se isso importasse mais que a capacidade de alguém. Assusta-me a possibilidade da incerteza desta certeza.

Fato é que, apesar de tudo, respeito profundamente esta pessoa que emerge, cônscia de si, sem os altos e baixos de antes, pois esta foi ao inferno sozinha e a escapou de Cérbero. Sei que o caminho é duro, espinhoso e desejo ardentemente que seu encontro consigo mesmo seja verdadeiro e inequívoco. Vejo-o hoje como alguém dono de si e de sua sanidade.

Imagino que algumas pessoas ao lerem isso vão tirar laudas e laudas de conclusões variadas, mas quero que saibam que na carne e sangue os belos discursos pomposos ficam vazios de sentido.

Amo meu filho e minha filha que nele mora, e ele sabe que me tem como parceira enquanto eu viver e até depois.

* Coluna escrita pela minha mãe.


Fonte : http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=011

SP: Ministério Público promove debate sobre transexuais

1/4/2008

Por Redação

O Ministério Público Federal em São Paulorealiza no próximo dia 3 de abril (quinta-feira), às 15h30, o evento "Transexualidade: Uma Questão de Gênero". Após a exibição do documentário, "Uma Questão de Gênero", do diretor Rodrigo Najar, que estará presente ao evento, dois dos sete transexuais cujas vidas são contadas no filme darão seus depoimentos aos presentes. Após o documentário e os depoimentos, o público poderá debater a questão da transexualidade e suas implicações legais e sociais com o juiz de direito Guilherme Madeira, da 2ª Vara de Registros Públicos de São Paulo e o advogado Gustavo Menezes, da Associação da Parada do Orgulho GLBTT de São Paulo.Transexualidade: Uma Questão de Gênero (exibição de filme, seguida de debate)Quando: Dia 3 de abril, 15h30Onde: Auditório da Procuradoria da República no Estado de São Paulo


Endereço: Rua Peixoto Gomide, 768, térreo, São Paulo-SP

Lotação: 70 lugares

Entrada Gratuita