quinta-feira, 10 de abril de 2008

Histórias de Vida I


Erick, o rockstar


Olá. Meu nome é Erick e sou FTM. Venho lendo a coluna FTM do Fervo, há mais ou menos uns 6 meses. Desses tempos pra cá, resolvi me assumir para os amigos e família.

Não é fácil viver no mundo hoje em dia, com tantos preconceitos, tanto julgamento. Mas sempre digo que sou abençoado. A família e os amigos que tenho são tudo pra mim e, mesmo depois de ter assumido, todos estão juntos comigo nesta longa caminhada.

Tenho apenas 24 anos, mas uma longa bagagem de acontecimentos, bons e ruins, para um FTM. Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu amigo de coração, meu grande "mestre" em tudo o que vem acontecendo comigo, o escritor desta coluna. Sem a força que ele me dá não estaria aqui escrevendo e falando sobre mim. Iria ser mais um calado e escondido no medo de assumir minha real identidade.

Agora vamos falar um pouco de minha vida. Desde pequeno me vejo como um garoto. No modo de me vestir, de falar, de brincar. Tudo. No Jardim de Infância, falava para meus pais que tinha uma "namorada", o que os deixava apavorados. Quando ia ao banheiro, pegava o crachá do banheiro dos meninos e saía correndo para que a professora não me pegasse antes de chegar ao banheiro, e quando ela conseguia, acabava entrando no banheiro dos meninos de qualquer jeito.

Fui crescendo e logo estava na 1ª série. Fiz uma revolução na escola, pois não queria entrar de saia. Os coordenadores fizeram inúmeras reuniões com professores e com meus pais para resolver o que iria ser feito. Ganhei a causa, e mais uma vez mudei as regras do jogo e o uniforme passou a ser unissex. Neste período, meus pais me colocaram para fazer terapia, numa psicóloga. Eu era uma criança normal. Só achava que iria ser um menino mais tarde!

O tempo foi passando e a frustração aumentando. Todas as noites antes de dormir, pedia ao "papai-do-céu" para que me transformasse num menino ao acordar. Em vão...Vestia minha fantasia do Superman e me concentrava horas afio para tentar virar um menino. Me trancava no quarto, rezava, me concentrava e nada.

A adolescência chegou e com ela a angústia de estar crescendo e nada acontecer. Na 5ª série, fiz uma amizade que dura até hoje. Alan, meu amigo e companheiro de trabalho me apoiou desde o início, quando tínhamos apenas 11 anos de idade. Ele falava para mim que sempre me viu como um "cara" e que nunca iria deixar de me enxergar assim. Hoje, ambos com 24 anos, continuamos amigos e nos apoiamos em nossas verdades. Muitos amores adolescentes frustrados se passaram, muitos "bailinhos", festas, danceterias passaram em branco. Eu me considerava um desafortunado, que carregava consigo o castigo de viver para sempre aprisionado num corpo que não era meu.

Até o dia que fui ao cinema assistir "Meninos Não Choram". Descobri, no meio de todo aquele sofrimento, que havia uma chance de me tornar INTEIRO. Depois de assistir ao filme, fiquei uma semana estático, mal, triste e alegre ao mesmo tempo, em saber que eu tinha uma solução. Mas o medo da rejeição ainda me tomava. Há seis meses, comecei a correr atrás de sites, colunas, fotos, reportagens...tudo o que dizia respeito à transexuais. Graças a uma indicação de minha amiga, comecei a freqüentar um psicólogo e, logo na segunda sessão, me assumi, quase explodindo, de tanto tempo que guardara tudo o que tinha para falar. Nesses dias, conheci o autor da coluna, através dos textos do Fervo. Escrevi a ele, agradecendo pelos conselhos, pelos textos e tudo mais.

Começou aí nossa amizade. Começou também a coragem para contar aos meus pais e amigos tudo o que eu sou e tudo que vou fazer para, finalmente, ser o Erick por inteiro. Aos meus amigos, maravilhosos, devo agradecer a compreensão e a força de vontade para tornar meu sonho possível. Pois eles, no primeiro instante começaram a me tratar e a me chamar de Erick, sem questionar.

Para contar para meus pais foi um pouco mais difícil. Recomendado por minha ex-namorada, aluguei um filme chamado "Minha Vida Em Cor-de-Rosa", onde um menino de 7 anos de idade se vê no dilema de ser MTF, achar que vai ser uma menina quando crescer. Este filme me ajudou muito na hora de contar para meus pais, pois ao assistirem, se lembraram de tudo o que passei na infância, de todas as vontades oprimidas. Embora mostre o contrário (um menino que por dentro é uma menina), o filme é ótimo, e uma ótima dica para quem vai se assumir para os pais.

Enfim. Sei que vou começar meu tratamento em janeiro próximo e que a cada dia que passe, me sinto melhor, por saber que serei completo e serei eu mesmo.

Muito obrigado ao escritor desta coluna, aos meus pais e aos meus fiéis amigos.

Texto escrito por Erick


Obs: Caso as pessoas que escreveram esses textos queiram que os mesmos sejam retirados do blog, é só entrar em contato comigo por email.

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