segunda-feira, 7 de abril de 2008

Justiça II

Não serei leviano em achar que um juiz deva sair distribuindo sentenças a torto e a direito para qualquer um. Existem documentos comprobatórios, e que temos por obrigação apresentar para certificar a essa pessoa de que somos quem somos e de tudo que fizemos.

Mas no restante cabe a nós a espera inquietante de ter sua vida dependendo de outrem. A sensação de impotência é sufocante, mas não há escolha: é aguardar e aguardar.

Uma coisa é certa: aparência e postura conta muito.

As pessoas, na sua maioria, esperam ver uma mulher algo masculinizada, com trejeitos forçados ou estereotipados e com fácies que lembrem de alguma forma que são do sexo feminino. Mas nunca um homem como qualquer outro que cruza sua frente na rua.

É aí que entra o fator aparência. A melhor hora para entrar com a retificação é quando você já tem algum tempo de hormônio e as características femininas foram embora, incluindo já ter feito a mastectomia e a histerectomia, ou os mais corajosos, a readequação genital. Até é possível dar entrada com uma aparência ainda andrógina, de menino de 13 anos, mas as possibilidades de sucesso diminuem sobremaneira.

Por mais que as pessoas digam que aparência não faz diferença, que o que interessa é saber se é homem ou mulher, se tem pênis ou vagina não é totalmente verdade. É impossível não levar em consideração um homem com pelos no rosto, voz grave, com postura e atitude masculina. Eles podem até tentar, mas é difícil esquecer porque esse homem pode ser seu amigo da esquina, de bate papo, do trabalho e você nunca saber o que ele tem no meio das pernas, afinal não andamos nus ou muito menos com nossos códigos genéticos pendurados no pescoço.

Como tudo durante a transição, procure um bom advogado que aceite te defender. Procure informações sobre profissionais que já tenham experiência com esse tipo de processo, informe-se, pergunte sobre atos processuais, custas. Se for a defensoria pública, marque em cima, porque o número de pessoas é enorme e sua espera pode ser maior ainda. Vale lembrar que alguns advogados fazem causas pro bono, ou seja, de graça, mesmo sendo profissionais particulares. Perguntar não ofende.

Mas no final tenha confiança em você e no seu advogado. Não se desespere, não se angustie, não tenha medo, lembre-se da sua estrada, e aprenda a ter paciência, porque essa é a última caminhada rumo a ser dono de si mesmo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário