quarta-feira, 2 de abril de 2008

Meu Filho*


Caramba! Cheguei a sonhar com isto. Meu filho me cobrando o texto sobre sua situação peculiar e como me sinto a respeito.

Como me sinto? O que acho? A bem da verdade não sei se sei; me surpreendo vivendo com esta realidade como se ela sempre fora e isto me perturba. Lembro sempre das dificuldades e do sofrimento "à grega" da pessoa de antes, e meu coração se espreme.

Atormenta-me a constatação da total ignorância das consultas, com médicos tarimbados, tipo fast-food e seus formulários, que deram, e continuam dando, não só a meu filho, seus diagnósticos esdrúxulos, vendo apenas partes desconexas de um corpo e não um indivíduo inteiro.

Já passei da fase desesperada e meio obsessiva - compulsiva de: o que foi que eu fiz? O que não fiz? Mea culpa, mea maxima culpa. Lá pelas tantas, aceitei minha responsabilidade nesta história de vida, é fato, arregacei as mangas e vamos à luta. Não foi nada fácil, até porque vivi a ambigüidade mãe x médica. Que loucura!

Aliás, continua não sendo fácil, pois me assusta a incompreensão do mundo e até da família; a ignorância, a simples suposição de uma situação constrangedora. Amedronta-me a hipocrisia e o desrespeito da sociedade. Incomoda-me o tempo que uma cabeça brilhante perde, no que tange a estudo e trabalho, devido ao descompasso entre o que se vê e o que se documenta, como se isso importasse mais que a capacidade de alguém. Assusta-me a possibilidade da incerteza desta certeza.

Fato é que, apesar de tudo, respeito profundamente esta pessoa que emerge, cônscia de si, sem os altos e baixos de antes, pois esta foi ao inferno sozinha e a escapou de Cérbero. Sei que o caminho é duro, espinhoso e desejo ardentemente que seu encontro consigo mesmo seja verdadeiro e inequívoco. Vejo-o hoje como alguém dono de si e de sua sanidade.

Imagino que algumas pessoas ao lerem isso vão tirar laudas e laudas de conclusões variadas, mas quero que saibam que na carne e sangue os belos discursos pomposos ficam vazios de sentido.

Amo meu filho e minha filha que nele mora, e ele sabe que me tem como parceira enquanto eu viver e até depois.

* Coluna escrita pela minha mãe.


Fonte : http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=011

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