sábado, 22 de março de 2008

Masculino / Feminino - Parte I


O mundo evoluiu, ou ao menos gostamos de pensar assim. Existem inegáveis progressos científicos, culturais, sociais, mas até que ponto isso é real? Ainda temos como alguns valores aqueles de nossas vós, e quem sabe alguns até de nossas bisavós. Vou me utilizar aqui da questão do binômio masculino / feminino.


Alguém na nossa situação, de ser transexual, seja FTM ou MTF, não precisa muito para perceber que ainda existem divisões entra o que seja masculino ou feminino enquanto postura, atividades e afins.


Exemplificando: certa vez fui a uma loja aonde se vende espuma, chego e peço a espuma tal e ainda que minha esposa estivesse comigo, e eu partilhasse com ela a opção de escolha, era como se ela não existisse. Tudo dirigido única e exclusivamente a mim, até mesmo durante o pagamento feito por ela, o vendedor se dirigia a mim. Foi meio surreal não posso negar, mas curioso do ponto de vista comportamental. Se isso é certo ou errado, não estou aqui para julgar, mas me leva a pensar o que nos foi ensinado, o que nos foi dito a cerca de homem e mulher e vou além, imagina a confusão na cabeça do vendedor se ele soubesse da real situação.

O feminismo apostou e aposta na liberação da mulher, hoje cada vez mais independente e dona de si, ao mesmo tempo em que surge um novo homem que busca suprir e se adaptar as necessidades desta nova mulher, mas apesar de tudo comportamentos arcaicos e retrógrados ainda permeiam nossa sociedade de ambos os lados.


Uma causa disso pode ser a falta de educação, entenda-se aqui educação por cultura, e a falta que a maioria das pessoas tem desta, crescendo cercadas por heranças familiares de pensamento e estrutura, passados de geração a geração sempre da mesma forma. Se o indivíduo não tem curiosidade própria ou não tem condições de acesso à informação, ainda que essa seja abundante hoje em dia, se perde no passado do próprio passado.


Outra causa ao meu ver seria a questão da nossa programação biológica, e da importância hormonal nesse esquema, afinal de contas evoluímos por assim dizer, mas ainda somos animais que aprenderam a viver e se comportar em sociedade, baseada em regras, direitos e deveres. E esse outro aspecto é curioso do ponto de vista do transexual, que muta de um corpo e experiências de um gênero para o outro que sempre lá existiu internamente.


Pergunto-me então até que ponto, todos os movimentos que criamos não vão contra nossa verdadeira natureza, cerceando nossa identidade biológica. Este texto pode parecer uma ode ao machismo ou uma pseudo-explicação do comportamento masculino, mas hoje em dia, enquanto exemplo vivo dessa dualidade, percebo que grande parte das diferenças vem também dos hormônios.


Não acho que seja só isso; há o meio interferindo também, o meio que escraviza e impõe, mascarado por uma falsa individualidade cada vez mais padronizada. Creio que esse meio é apenas a válvula de controle e escape das nossas pulsões tão primitivas. Ainda levo em consideração o inconsciente coletivo de Jung como possível explicação dos comportamentos em comum inerentes aos seres humanos, mas no final acredito sermos na verdade a soma disso tudo.

Enquanto transexuais, e aqui falo de FTM’s e MTF’s, sabemos que nosso DNA nunca nos deixará esquecer internamente de onde viemos e começamos, vivendo sendo intermediários desse binômio de alguma forma, mas sabendo sempre que identidade, personalidade, caráter, comportamento masculino / feminino é único e pessoal; que não se compra, não se cria, não se destrói nem se deseja, mas se tem.

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