terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

HC realiza uma cirurgia de troca de sexo por semana

Hospital é um dos quatro centros de referência do país para o atendimento a pacientes com diagnóstico da transexualidade

Fabiano Nunes

DIÁRIO SP
 
Fernanda Cirenza


Não há uma estatística oficial, mas, toda segunda-feira, um paciente entra no Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo para se submeter a um procedimento de adequação genital. Pode ser uma cirurgia de mudança de sexo (só de homens para mulheres, diferentemente das clínicas particulares) ou só um retoque. "Não temos mais fila de espera, como aconteceu há três anos, quando tínhamos 150 pessoas aguardando por cirurgia", diz Elaine Maria Frade Costa, médica responsável pelo Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do hospital.

No momento, o HC atende cerca de 30 pessoas em processo para a cirurgia. "São três grupos de pacientes que estão sendo analisados or uma equipe multidisciplinar, de psicólogos a cirurgiões", diz Elaine, que também é supervisora do Serviço de Endocrinologia.

No consultório particular de Jalma Jurado, cirurgião plástico que começou a carreira no HC e virou especialista em construir vaginas e pênis, a expectativa é ainda maior. Só neste ano, ele deve realizar 70 cirurgias de mudança de sexo. "Estamos com a agenda lotada", afirma Neide dos Santos, braço direito de Jurado, que recebe seus pacientes em uma clínica instalada em Jundiaí, interior de São Paulo. "Aqui, eles têm total privacidade", ela diz.

Além do HC, o Brasil tem outros três centros de referência para o atendimentos a pessoas diagnosticadas com o distúrbio da transexualidade. Ou seja, que têm identidade de gênero diferente da de nascimento. Resumindo: homens que se sentem mulheres e mulheres que desejam ser homens. Eles funcionam em Porto Alegre, Rio de Janeiro e Goiânia. Nesses locais, as cirurgias são feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De 2008 a 2010 (levantamento mais recente), o órgão realizou 84 procedimentos do tipo. O SUS, entretanto, só oferece assistência a quem quer se submeter ao processo de mudança de sexo do masculino para o feminino.

Fora dos centros públicos ou universitários, as cirurgias de mudança do sexo feminino para o masculino é feita de forma experimental. "É uma cirurgia mais complicada, que deve ser realizada em etapas. Aqui, além de todo atendimento, fazemos as operações de retirada das mamas, do útero e dos ovários para mulheres que, na verdade, são homens, mas não construímos o pênis", diz Elaine.

Para se submeter a uma cirurgia de adequação genital, o interessado precisa passar por uma severa análise, feita por uma comissão multidisciplinar de médicos (psicólogo, psiquiatra, endocrinologista, urologista, ginecologista e, finalmente, o cirurgião plástico). Na prática, são dois anos de acompanhamento para ter a certeza do diagnóstico. Nos consultórios particulares, o procedimento é o mesmo.

Além disso, é preciso ser maior de 21 anos de idade e não ter problemas mentais. Todo esse cuidado é necessário para garantir que candidatos tenham total convicção da escolha. "Não é algo que dá para arriscar um arrependimento", adverte Elaine.

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