segunda-feira, 28 de abril de 2008

Oh Meretíssimo, escutai vossa súplica...


Eu sou um homem. Não me recordo agora qual filósofo que disse que o ser é, ele não foi nem será, ele é. E isso define a situação. Eu sou um homem.

O que pleiteio não é esmola, é o que é meu por direito; o direito a dignidade, a ser um cidadão e ser humano pleno. Direito esse que me é assegurado pela Constituição que sabemos ser supra lex, logo não existe impossibilidade jurídica.

Sabemos que quando se fala de transexualidade muitas pessoas reduzem o fator sexo a questão genital, que é sim importante, mas reduzir um ser humano qualquer a meros genitais é reduzi-lo ao primitivo, não levando em consideração a complexidade de todo e qualquer ser humano, e o que implica em ser homem ou mulher.

É fato que todos temos idéias, convicções a respeito de diversos assuntos porém é preciso cuidado porque é muito fácil tomarmos convicções por verdades absolutas sendo que não existe tal coisa. A verdade é relativa e possui nuances, matizes que devem ser levados em conta. Não necessariamente aceitos nem entendidos, mas respeitados.

E isso nos leva de volta ao princípio fundamental da dignidade humana. Um ser humano que tem a sua dignidade negada, é um indivíduo sendo desrespeitado no seu mais básico direito.

domingo, 27 de abril de 2008

Certezas Absolutas


É muito comum ouvir de homens trans que eles sempre tiveram a mais absoluta certeza de quem eram, desde sempre, quem sabe até no útero.

Será?

È verdade que todos nos sentimos estranhos quando criança, quase um et, alguém fora do lugar com uma sensação contínua de “que p$%# é essa?”. Mas é fato também que as pessoas dizem que você não é um menino, e ainda que ache que é, tentamos nos adaptar, como se isso fosse possível.

A adolescência chega e tudo complica. Com o corpo mudando e indo contra tudo que você imagina, os hormônios começam a despertar e o interesse sexual fica evidente. Mas o que fazer porque afinal você é uma “menina”, crescendo e florescendo. Não é à toa que muitos homens trans se identificam a princípio como lésbicas por falta de definição melhor no momento, apesar de saberem que aquele corpo traidor, não é seu.

Alguns casam, tem filhos e tentam ser “mulheres” comuns na tentativa de se encaixar de alguma forma. Mas também sabem, que são um hóspede indesejado na casa errada.

Alguns chegam a suas conclusões ainda na adolescência, começo da juventude, outros levam um pouco mais de tempo.

E sabendo disso me preocupo com essas certezas absolutas que as pessoas parecem dizer ter. É possível que a maioria tenha sempre se sentido um estranho numa terra inóspita com relação a seus corpos, mas afirmar sem dúvida que não houveram dúvidas nesse caminho é quase impossível. Não digo que não possa ocorrer, mas é algo que acho difícil de acontecer. Talvez seja mais uma maneira de defesa para evitar maiores sofrimentos.

Mas infelizmente, ou não, sofrer faz parte da maioria dos processos de descoberta de todo ser humano.

E sim, nenhuma transição começa quando você toma hormônios. Começa meses, anos antes quando você passa a tentar entender quem você é, e a lidar com essa situação. Os hormônios são importantes, é o primeiro passo físico a ser dado, no entanto eles não vão resolver todos os seus problemas de aceitação e adaptação se você não tiver se permitido ter dúvidas, questionar, buscar seu caminho.

Nada disso significa que você não saiba quem é ou diminua o seu sentir de alguma forma. É na verdade bastante saudável experimentar emoções variadas, faz parte de todo o aprendizado que é se readequar de um gênero, errado, a outro tão desejado, mas de certa forma desconhecido.

Existe uma longa diferença entre desejar muito algo, e realmente consegui-lo; e como lidamos com mudanças físicas drásticas, não só o seu psicológico precisa acompanhar essa alteração, como o seu cérebro vai precisar se adaptar a enxergar essa nova imagem.

É normal ter aquela ansiedade inicial de conseguir tudo o quanto antes, mas creia que a melhor maneira de ser bem sucedido em toda a transição é dar passos seguros, que podem até parecer longos e inúteis, mas no final você saberá perceber a diferença e a necessidade de tanto tempo.

O mais importante é aprender a se sentir bem, a buscar a sua essência, a abraçar a sua vivência, com paciência e perseverança, seguindo firme para se tornar não só um homem dono de si, mas também um ser humano rumo a sua plenitude.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Índia tem festival para transexuais


23/04/2008 - 12h00 -BBC Brasil

Começou esta semana no Estado de Tamil Nadu, no sul da Índia, o festival Aravan, o único do país dedicado exclusivamente aos transexuais.O evento, que costuma atrair cerca de 70 mil transexuais de várias partes da Índia, celebra a mudança de sexo simulando o casamento entre os transexuais. A idéia é simbolizar a união matrimonial do guerreiro Aravan com o deus Krishna.

De acordo com a mitologia hindu, Aravan era um corajoso príncipe virgem, que se dispôs a morrer pela honra da família. Ele tinha apenas um pedido antes de se sacrificar, que era se casar. Como nenhuma mulher se habilita a ficar viúva, Krishna toma a forma de uma mulher e passa a noite com Aravan e o ajuda a satisfazer seus desejos. O festival dá a oportunidade para muitos transexuais se sentirem em casa e costuma atrair vários transexuais de outras nacionalidades, que viajam à cidade para participar do evento.


quarta-feira, 23 de abril de 2008

Expor ou não expor.

Muito já me perguntaram porque eu não dou a cara para bater. Você ficou bem, você fala bem, etc. Mas hoje, eu não quero por nada na janela por questões particulares. Um dia talvez, mas por agora, não.

É fato que sem a exposição de alguns, a sociedade talvez continuasse ignorando o fato de que FTMs existem, que sim é possível transformar um corpo feminino no mais perto possível de um fenótipo masculino, a tal ponto que não se saiba mais que aquela pessoa, um dia, foi uma mulher.

Mas isso não significa que todos sem exceção tenham obrigação de se expor.

Muitos preferem até esquecer que, um dia, viveram sim em um corpo feminino e tiveram experiências femininas por assim dizer. Outros, mais abertos, falam abertamente, se dispõem a aparecer na mídia, a dar voz e forma a esse mundo desconhecido da maioria. Outros tentam dar sua parcela de contribuição, seja em um blog, um site, com vídeos, ou até mesmo quem na penumbra ajuda aos que começam sua caminhada.

Nada tira o mérito de ninguém. Cada um sabe o que melhor lhe convêm escolher e de que forma vai lidar com sua peculiaridade.

O que não é interessante é quando alguns que optam por expor-se cobram aos outros, como se os que optam de forma diferente da sua, devessem ser eternamente gratos ou fazer o mesmo. Eu acho que seria mais interessante se cada qual tivesse a liberdade de agir como deseja.

Talvez aquele que só ouve outros tarde da noite no MSN, e tenta dar um conforto possa parecer menos útil do o que levanta bandeiras em alto e bom som.

Mas não é.

Cada qual tem seu valor e seu lugar. Cada ínfima contribuição vem somar e não destruir. Impor a alguém o seu modus operandi não é o melhor meio de obter ajuda, de ser ouvido.

Assim, quem tem a coragem de bater no peito e dizer sou transexual, que luta para quebrar estereótipos esta lado a lado com aquele que não aparece, que se resguarda, mas que de tão comum para o mundo, acaba por demolir preconceitos de forma menos efusiva, e não menos importante.

A palavra chave aqui é união. Não interessa o que você escolha, se ser porta voz de uma comunidade ou o cara casado pai de dez filhos, todos temos algo em comum, e o melhor que você possa fazer, será muito mais do que nada.

terça-feira, 22 de abril de 2008

You Tube


Para quem entende um pouco de inglês, uma boa dica para ver e ouvir outros homens transexuais contando suas experiências, é acessando o you tube estrangeiro. É possível também procurar programas que contenham notícias ou entrevistas com a mesma temática.

Jogue palavras como ftm, transsexual men, female to male, etc.

Segue abaixo links para a página de algumas pessoas / vídeos bem interessantes.








segunda-feira, 21 de abril de 2008

Amigos


Amigos... quem são e o que acham de nós. A maioria pode contá-los nos dedos, ainda mais numa situação tão peculiar. Mas ainda assim, eles existem, apoiam, nutrem e amparam quando necessário. Hoje vamos ler um depoimento de um deles aqui. Sincero e direto, mas que mostra que nem todos vão nos ignorar e esquecer, mas ao contrário, respeitar e amar.

Feliz daquele que tem um amigo FTM *

Conheci Erick no 1o. Colegial, desde então não nos separamos mais, nos tornamos grandes e melhores amigos. Fazíamos parte de uma turminha que hoje tenho lindas lembranças, aliás, as melhores. Passamos os três anos do colégio juntos, fizemos todas as loucuras que um adolescente pode fazer, desde não ir à aula para tomar aquela chuva de verão deliciosa até experimentar aqueles produtos que não fazem muito bem à saúde e que alteraram nossas funções mentais, pois é... faz parte, né?!

Quando o conheci, já sabia que alguma coisa não estava certa, mas o aceitava como era por conhecê-lo e saber que se tratava de uma pessoa incrível. Não falei nada com ele, achava melhor que ele viesse conversar comigo quando se sentisse à vontade e achasse o momento certo. Desse dia me lembro bem, estávamos sentados no estacionamento do colégio e ele começou a me contar a história do Super Man. Deixei que ele falasse tudo e no final apenas completei: “tudo bem, isso eu já sabia, alguma novidade?”, tentei deixa-lo tranqüilo, querendo transparecer que não era novidade e que não me importava com nada de que me acabara de contar. Lembro exatamente de sua feição de felicidade por ser aceito pelo que era e não pela sua opção sexual. Pois seu “segredo” era que se sentia atraído por meninas.

Depois de alguns anos, já na faculdade, estava em uma aula de genética e o professor falou de um Transtorno de Gênero. A partir deste dia soube que Erick era um FTM, mas preferi não falar nada e deixar que ele, sozinho, descobrisse sua condição. Espero ter agido corretamente, afinal não é fácil receber uma notícia como essa sem estar preparado.

Bom, há sete meses chegou o dia da nossa conversa. Ele começou me contando que estava um pouco confuso e queria minha opinião. Explicou, como um bom homem, capaz de colocar tudo em uma planilha do Excel, que 25% de seus amigos sabiam que ele “era de um jeito”, outros 25% pensavam que ele era “de outro jeito” e uma minoria sabia a “verdade”. Neste momento o interrompi e falei “Tudo bem, estou na minoria, mais alguma novidade?” Completei dizendo que teria que se preocupar apenas em ser feliz, e que teria que fazer de tudo para que isso acontecesse, que o apoiaria em todas suas decisões e que estaria ao seu lado, sempre.

Sei que não é fácil, existem milhares de pré-conceitos que nos impedem de seguir adiante, mas a vida é tão curta, que às vezes temos que seguir nosso coração e pensar apenas nas coisas e momentos que nos fazem felizes. Acreditar em você e naquelas poucas pessoas que estão ao seu lado e viver a vida, mas vive-la de maneira intensa.

Hoje posso dizer, feliz daquele que tem ao seu lado um amigo FTM. Com o Erick, aprendi muito, aprendi que pessoas especiais existem e estão ao nosso lado, independente de sua condição. Percebi que tenho ao meu lado um grande amigo o que o torna uma pessoa especial.

Vamos juntos a todos os lugares, o incentivo a se mostrar como um homem, quero que tenha orgulho, assim como eu tenho, de ser a pessoa que ele é. É divertido, inteligente e elegante, mas principalmente.......... UM GRANDE HOMEM!!!!

*Texto escrito por Virgínia

Fonte : http://www.fervo.com.br/trans/view.php?ban=banner1&titulo=FTM&assunto=ftm&materia=019

Obs: Caso as pessoas que escreveram esses textos queiram que os mesmos sejam retirados do blog, é só entrar em contato comigo por email.

sábado, 19 de abril de 2008

Nunca é tarde demais para nada na vida...

18/04/2008 - 09h33 - BBC Brasil

Aos 73, sueco vira pessoa mais velha a trocar de sexo

Um sueco de 73 anos acordou nesta sexta-feira como mulher, tornando-se a pessoa mais velha do mundo a trocar de sexo. A cirurgia de troca de sexo foi concluída na quinta-feira no prestigiado Instituto Karolinska, na capital sueca.

Os médicos não quiseram fazer comentários, mas a informação sobre o sucesso da operação foi dada à BBC Brasil pelo próprio paciente, em entrevista por telefone do quarto do hospital onde se recupera da cirurgia.

"Agora sou finalmente uma mulher", disse Loise à BBC Brasil. Sua identidade não pode ser revelada, segundo recomendação dos médicos. "Sempre me senti como uma mulher, mas agora tenho o corpo de uma mulher", acrescentou ela. E revelou, com um toque de timidez: "Já comprei até um biquíni".

Segundo Loise, a mudança de sexo foi realizada com uma série de três cirurgias. A primeira e mais longa operação foi conduzida pelos médicos na segunda-feira, e a última foi concluída nesta quinta-feira.

"Foi o que desejei durante toda a minha vida, e por isto não tive medo. Os médicos me anestesiaram, e quando acordei já era 100% mulher", contou Loise à BBC, dizendo que espera ver seu nome em breve no Livro Guinness dos Records.

'Morrer como mulher'

A nova mulher deverá deixar o hospital já na próxima semana. Mas continuará a proteger sua identidade: "Tenho medo", confessou Loise de seu quarto no hospital. "Gostaria que as pessoas me aceitassem como sou. Mas a verdade é que corro o risco de ser até assassinada por pessoas que simplesmente não aceitam a minha verdade."

Loise contou à BBC que os detalhes de sua operação serão revelados em matéria a ser publicada com exclusividade pelo jornal sueco Aftonbladet na próxima semana, quando ela deixar o hospital.

A BBC Brasil tentou contactar o médico Bengt Lundström, responsável pelo caso de Loise, mas ele não quis fazer comentários. Reiterou, apenas, a razão pela qual autorizou a operação de troca de sexo em um homem que no próximo mês de agosto completará 74 anos de idade.

"Ela (Loise) quer morrer como uma mulher. E este é um desejo válido, que deve ser respeitado", destacou ele. A sueca com quem Loise vive, no sul da cidade de Gotemburgo, contou nesta sexta-feira à BBC Brasil que foi a primeira a falar com ela após a cirurgia.

"Loise estava extremamente feliz, e os médicos disseram que tudo correu bem", disse Anne-Marie, cuja identidade também não pode ser revelada.

Segundo Anne-Marie, Loise foi internada no Instituto Karolinska no domingo passado. "Ela é uma pessoa forte, e foi para o hospital sem medo. Desde criança, Loise sonhava com este momento, e agora seu sonho se tornou realidade", disse ela.

Em entrevista concedida à BBC Brasil em abril de 2007, Loise disse que sempre tivera a certeza de que não era um homem. "Quero morrer como uma mulher", revelou na época.

Sonho

Foram necessárias quatro décadas para realizar o sonho: desde os anos 60, quando a Suécia realizou as primeiras cirurgias de mudança de sexo, Loise tentava se transformar em mulher.

É preciso passar por um longo e rigoroso processo para que os médicos e autoridades suecas aprovem a realização da operação, e Loise precisou fazer várias tentativas. Seu caso só foi aprovado após despertar o interesse de Lundström, o mais conceituado especialista sueco em transexualismo.

Loise contou à BBC no ano passado que tinha três anos de idade quando percebeu que se sentia, na verdade, uma mulher. "Eu queria me livrar dos meus orgãos masculinos, mas minha mãe me impediu", diz.

Durante toda a infância, preferiu as roupas das irmãs. Chegava a ir a escola vestida como uma menina. As calças compridas, jogou num lago perto de casa. Na idade adulta, Loise tentou viver uma vida "normal" como homem. Chegou até a se casar, mas o casamento durou pouco. "Algumas vezes, pensei em suicídio", revelou.

O processo de mudança de sexo vinha sendo preparado há quatro anos, período em que Loise recebeu tratamento hormonal e apoio psicológico constante.

A mudança de nome e identidade foi aprovada pelas autoridades suecas no ano passado, quando foram emitidos também seu novo passaporte e a carteira de motorista: os documentos que provam que ela já existe.

Fonte: http://noticias.uol.com.br/bbc/reporter/2008/04/18/ult4909u3378.jhtm