Alguns meses atrás pedi que aqueles que tivessem indicações de profissionais particulares colaborassem mandando nomes para o email que disponibilizei. Curiosamente recebi apenas dois emails, mas o que foi possível conseguir foi postado anteriormente.
Visto isso, algo muito comum de ser perguntado é como eu faço para achar um médico, e mais, como fazer para explicar a ele a situação.
Antes de tudo é sempre mais interessante que você busque junto aos seus colegas de caminhada indicações de profissionais nas áreas que precisamos. A melhor referência é outra pessoa na mesma situação que a sua.
Mas se seus amigos não conhecem ninguém, e você não sabe por onde começar, até mesmo por medo e vergonha, vão aqui algumas dicas básicas para tentar ajudar na procura.
Primeiramente informe-se sobre a existência de serviços de atendimentos a transexuais em hospitais escola universitários da sua cidade ou região. Os serviços específicos oferecidos nesses locais são gratuitos, e a maioria faz todo o acompanhamento a quem procura. Informe-se no setor de psiquiatria, psicologia, endocrinologia ou ginecologia / urologia. O maior problema é a fila de espera que pode levar anos tamanha a demanda. Mas vale a pena uma checada, e deixar seu nome na fila, afinal nunca se sabe o que o amanhã reserva. Os profissionais desses serviços, na sua maioria, já tem experiência prévia com transexuais, então não há motivos para receios, eles sabem o que você vai dizer.
Procure também por faculdades que tenham clínica escola de psicologia. Elas costumam ser pagas, mas é um valor módico, e mesmo que eles não possam tratar você com vistas a dar um laudo, talvez possam oferecer uma indicação, ou tentar ajudar de alguma forma a aliviar seu peso enquanto não surgem outras oportunidades mais eficazes.
É válido também que você se informe com o Conselho Regional de Medicina mais perto de você sobre possíveis profissionais particulares nas áreas de psiquiatria, endocrinologia, ginecologia e cirurgia plástica que atendam a transexuais. Talvez você não consiga todos, mas tendo um, já é meio caminho andado para que até mesmo o seu médico consiga indicar colegas que possam acompanhá-lo.
Você pode também pode procurar pela internet em sociedades, associações e grupos das especialidades acima. Existem associações e sociedades específicas para cada especialidade médica, independente dos conselhos regionais de medicina. Nessas páginas é possível, na sua maioria, localizar médicos na sua região e pegar telefones, endereços e até emails.
"Mas como eu falo nesses locais? Como eu marco uma consulta? Eu falo da situação pra atendente? Não sei o que fazer...."
Tente sempre conseguir o telefone do local que você deseja ir ou do médico. Feito isso ligue e marque uma consulta, ou pergunte se é possível conversar com o médico antes de marcar. Não há necessidade de expor toda sua vida para a recepcionista do consultório ou clínica. Quem deve saber da sua história é o profissional que você procura.
Melhor ainda é quando você consegue o email do profissional. Ele pode até não responder de imediato, ou nem responder, mas o importante é não desisitir e insistir.
Não esqueça de levar sempre laudos, caso você tenha algum sobre a situação em específico, e exames de sangue recentes com dosagens hormonais, se possível.
Caso a pessoa fique de dar um retorno, e não retorne, tente mais uma vez. Em negativa, ou pedido de novo aguardo, parta para a próxima possibilidade.
Não existe fórmula mágica para se procurar um profissional particular. Existe tentativa e tentativa, não somente pela questão de aceitar tratar alguém que é transexual, como também pelo fator confiança. Se você não se sentir confiante com o profissional, é mais que válido buscar aquele que aceite a situação, mas com o qual você também se sinta seguro.
A qualquer momento você está no seu direito de buscar uma segunda opinião, e de mudar de profissional.
Use o seu bom senso, se algo incomoda, pergunte, se tem dúvidas, pergunte. O médico é alguém treinado para ajudar pessoas a melhorar sua saúde no geral, ele não sabe tudo, nem é Deus; é tão humano quanto você, apenas com conhecimentos diferenciados dos seus.
Além disso vale dizer que você não precisa ter medo nem vergonha. Todos somos diferentes de alguma forma. Não importa como você fala, o importante é expressar o seu desejo, explicar o que você busca. Se ele rir de você e tirar sarro, é óbvio que ele não é adequado, e muito provavelmente é pouco profissional para outras situações menos delicadas também.
Levar um não de um médico, não difere de levar um não dos seus pais quando você era criança e eles não podiam te dar um brinquedo caro. Ou levar um fora daquela menina que você passou meses secretamente namorando à distância, e ela ainda fez fofoca de você pra escola inteira. Ou de levar um "entraremos em contato" após uma entrevista de emprego.
Claro que se o profissional for ostensivamente preconceituoso, e chegar a agredi-lo, você pode e deve buscar seus direito de outra forma, fazendo um registro de ocorrência e dando queixa no conselho de medicina. Mas se tudo que você ouvir for um não, e enxergar um rosto de despreparo, agradeça do alto de suas virtudes e siga em frente.
É das frustrações que parecem nos derreter que tiramos a força para levantar e continuar, insistir, persisitir. A dor é apenas momentanea, e tem a capacidade de nos fortalecer.
O principal é nunca desisitir, por mais longe ou dificíl que pareça, existe sempre a calamaria depois da tempestade, e você também tem direito a apreciar o alvorecer da sua existência.
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