quarta-feira, 8 de abril de 2009

Eu acho que eu sei quem eu sou...Hein?!

Pegando carona na reportagem da Revista Super Interessante, vale aqui uma pergunta: você é realmente FTM? Ou indo além, você é realmente transexual?

Muitas pessoas mandam emails falando de seu desconforto com seu próprio corpo, ou se dizendo FTMs, mas fica sempre a dúvida: será que ela (e) é de fato quem pensa ser?!

Já falamos aqui diversas vezes do que é ser transexual, das características, por assim dizer, comuns na maioria das vezes a quem se identifica com o gênero oposto ao seu de nascimento, mas é sempre importante apontar alguns aspectos.

Você entra na internet perdido, mas com aquela íntima sensação de que não é uma mulher, ou homem, que está de fato preso no corpo errado. Joga no bom e velho Google palavras chaves, e chega por associação, a esse e outros blogs, além de achar páginas e páginas sobre o assunto, desde baixarias gratuitas até estudo sérios.

“É isso me achei...” Será? Longe de duvidar da validade dos sentimentos de cada um, mas pense bem, reflita.

Ninguém acorda da noite para o dia se sentindo não condizente com o seu gênero. Não gostar dos seus seios, detestar-se durante a tpm e achar um saco ficar menstruada, não é igual a ser transexual. Bem como gostar de usar roupas mais masculinas e ter um comportamento mais agressivo e menos princesinha do papai, também não significa que você seja FTM.

Assim como gostar de alguém do mesmo sexo, e ter uma expressão mais masculina, no caso de mulheres, significa ser um homem transexual. Você pode apenas ser uma lésbica que tem uma expressão de gênero masculina. Ou ainda, no caso de quem gosta de homens, uma mulher heterosexual, com igual expressão masculina, sem ser obrigatoriamente um FTM gay.

Não confundam expressão de gênero com identidade de gênero.

Não podemos esquecer que a sexualidade é fluida, e apresenta diversas variações dentro de um mesmo tema. Isso é importante de ser dito para que fique claro que ser uma mulher com características e gostos mais masculinos, ou um homem com características e gostos mais delicados não significa obrigatoriamente que alguém seja homossexual, e indo à frente, transexual.

“Mas eu fiz aquele teste da net para sabe se meu cérebro é mais feminino ou masculino....”

Ótimo, mas esse teste vale apenas de curiosidade, e não como parâmetro de avaliação de um indivíduo. É interessante para demonstrar que o cérebro pode ter aptidões não condizentes com as ditas características do seu sexo de nascimento, mas isso também não vai significar que alguém é ou não transexual.

E para aqueles que acham que ser homem faz da vida um barril de cerveja eterno, ledo engano. Ser FTM não faz da vida mais fácil nem é escapatória de lésbicas não assumidas. Pode não parecer porque vivemos em uma sociedade eminentemente machista, mas o ser homem também tem seu preço social, assim como o ser mulher.

E lembre-se que os transexuais são a parcela mais discriminada da diversidade sexual, até mesmo dentro da comunidade GLBT.

Para se diagnosticar alguém como transexual, o básico é que o indivíduo tenha uma sensação interna de não pertencer ao sexo de nascimento por pelo menos dois anos, somado a outras situações que acabam por gerar diversos transtornos decorrentes dessa inadequação interna. A partir daí, se dá início a todo um processo que começa com a busca e aceitação de si próprio, rumo as alterações corporais, e por último a alteração jurídica. Para tal, é preciso anos de acompanhamento de vários profissionais até que de fato se conquiste seu lugar ao sol.

Nem pense em tentar se automedicar porque você acha que sabe que é transexual. As alterações hormonais podem, na sua maioria, ser revertidas, porém doses erradas podem levar a danos irreversíveis a saúde, ainda que você depois descubra que não era bem esse o seu caminho.

Esse texto não tem a intenção de duvidar de você que hoje busca alternativas, mas de alertar que ser transexual não é algo rápido, uma solução socialmente aceitável em busca de caminhos menos árduos, muito pelo contrário. É uma condição médica séria que exige cuidado e atenção dos profissionais que trabalham com transexuais.

Na dúvida, não se desespere nem tente saídas rápidas, busque o caminho correto para se encontrar, e com o apoio adequado, finalmente dar boas vindas a você mesmo.

Um comentário:

  1. Adorei tdo q vc disse! Oq tem de pessoas q vem pedir conselhos ou se "acham", simples e querem logo a cirurgia, nao tá no gibi.

    Por isso sempre digo, a terapia é essencial, a equipe multidisciplinar acompanhando, tb... senao, arrependimentos e tragedias serao o futuro de uma pessoa mal resolvida!

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