quarta-feira, 15 de abril de 2009

Minha terapia não anda...


Outra queixa muito comum é o fato do acompanhamento psicoterapeutico levar no mínimo dois anos. Dentro das nossas certezas, somada a ansiedade de enxergar ao longe a saída de anos de confusão, dois anos parece uma eternidade e a psicoterapia, desnecessária.

Assim como o médico, o psicoterapeuta nunca viu você antes, e pauta seu trabalho com as indicações que você oferece. Não esqueça que por mais que você saiba e sinta, ele precisa seguir uma linha de terapêutica para fechar um diagnóstico. Como já dissemos anteriormente, diagnosticar um indivíduo como transexual não é tarefa fácil, um engano pode acabar com a vida dos dois: o paciente pelo desespero e o profissional por um processo por erro.

Não tenha medo; a necessidade de um profissional de saúde mental não quer dizer que você seja doido, apenas por lidar com algo não palpável, é necessário a intervenção do terapeuta. Por terapeuta entenda psiquiatra ou psicólogo. O psiquiatra é médico de formação, e portanto apto a dar laudos e fechar diagnósticos enquanto o psicólogo é aquele que faz psicologia. O ideal é o acompanhamento de ambos, mas na impossibilidade, um deles é mais do que fundamental.

É válido lembrar que assim como você levou algum tempo até concatenar suas idéias com relação a sua realidade interna, é preciso um tempo para que o psicoterapeuta igualmente o faça. Ele lida com o não concreto, com o não dito muitas vezes, e com a soma de todas as suas experiências desde cedo para montar o quebra cabeça que se apresenta diante dele.

É normal experimentar raiva, depressão, medo, angústia durante a terapia. O próprio processo todo é feito de forma a fazer com que você se enxergue, se aceite, se compreenda, e a partir daí, se fortaleça de forma a enfrentar todo o porvir, seja os procedimentos físicos, a sociedade, a família ou a justiça.

O objetivo do processo terapêutico é preparar você, inclusive, para sua vida após todas as mudanças, afinal por mais que você sempre tenha querido chegar a esse momento, existe toda uma adaptação a essa nova velha vida que vai se apresentar ante seus olhos.

É fundamental na terapia que haja conexão entre o terapeuta e o paciente, sem essa ligação dificilmente você será bem sucedido de forma efetiva. Portanto é mais do que natural buscar, assim como os outros profissionais, aquele com o qual você se sinta bem e confiante.

A via é de mão dupla. Não fique calado esperando que ele pergunte tudo, abra seu coração, fale dos seus desejos, da sua vida, medos, do que você é constituído. Talvez ele leve você de volta a sua infância, a adolescência, e por mais que isso pareça infundado, não é. Existe um propósito, onde ambos trabalham rumo a um bem maior. É um exercício de tolerância, paciência, e ainda que o terapeuta não seja seu amigo, de extremo companheirismo.

O psicoterapeuta dispõe de várias avaliações a seu favor, e pode até pedir parecer de outro colega. Não se assuste, ele não duvida de você, mas precisa ter certeza quase que absoluta, se isso é possível, do que se apresenta diante dele. Não existe resposta certa nem errada, existe apenas a percepção dele e a sua entrega.

Talvez pareça que você está perdendo tempo precioso, mas tenha em mente que na verdade você vai recuperar todo o tempo que passou vivendo entre os seus próprios escombros, e aquele que vai poder ajudar você a colocar ordem e fazer uma limpeza no seu terreno é o psicoterapeuta.

Permita-se conhecer um pouco de si mesmo, a fazer as pazes com seu interior, e ai sim você se tornará forte o suficiente para viver, dessa vez, de forma plena e real.

Um comentário:

  1. Gostei muito da matéria, me ajudou bastante a esfriar minha cabeça e ir com calma nesse assunto =)

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