quinta-feira, 22 de maio de 2008

Homem transexual é invisível no Brasil, diz presidente da Parada


08/05/2008 - Folha on line

TINO MONETTI (interino)


Em uma salinha no 13º andar de um prédio próximo à pça. da República, na região central de São Paulo, Alexandre Santos, 35, organiza os preparativos para a próxima edição da Parada Gay na cidade, marcada para o dia 25 de maio.

Alexandre, que preside a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo desde o início do ano, se desdobra para conseguir dar conta de tantos ajustes com a proximidade do evento.

Alexandre Santos, o Xande, preside a associação que organiza a Parada Gay. Porém, para Alexandre, chamado de Xande pelos amigos, estar a frente de um evento como a Parada Gay de São Paulo, é um grande mérito e uma "imensa responsabilidade".

Xande é o que se chama de "homem transexual" (nasceu com genitália feminina, mas sente o desejo de ser identificado como do sexo oposto), um grupo que, segundo o próprio, ainda é "praticamente invisível" no Brasil.

"Alexandre" não é seu nome de batismo.

"Sempre me reconheci como mulher lésbica, mas algo não encaixava. Sempre havia alguma coisa que eu não terminava de entender", revela o presidente, que nasceu na cidade de São Paulo, mas passou grande parte da vida no interior do Estado.

"Em 2003, eu vim para São Paulo exclusivamente para Parada. Quando cheguei e vi tudo aquilo, pensei: 'Meu Deus, preciso saber quem faz isso'. Sempre tive um lado militante, mas, não havia feito nada assim", diz Xande.

"Eu conheci a organização da Parada em outubro de 2003 e comecei a fazer trabalho voluntário com eles, atendendo telefone, lendo o jornal... Então, me tornei secretário geral da associação no ano passado e este ano me convidaram para me candidatar à presidente. Deu certo", conta Alexandre feliz.

Trans

Sobre sua identidade, Xande revela que, após visitar um grupo de transgêneros e transexuais em 2004, percebeu finalmente que era dessa forma que ele se via no mundo.

"Hoje vejo que sou um homem transexual. Muitas pessoas já vieram me dizer que, após minha decisão, também conseguiram se definir e se enxergar como trans. Eu ajudei a erguer essa bandeira, que ainda é quase invisível no Brasil", afirma o militante.

"Já existe uma cirurgia experimental no HC (Hospital das Clínicas, em SP) de mudança de sexo, mas muitas pessoas não procuram por falta de informação. As que procuram, acabam enfrentando muita burocracia", completa.

Hormônios

Xande afirma que ele mesmo já foi uma vítima da desinformação e do desespero para adequar o corpo à forma como se identificava.

"Eu comecei a tomar hormônios, testosterona, indiscriminadamente, sem maiores informações. Até que sofri dois AVC (Acidente Vascular Cerebral) e parei", conta Xande.

"Por isso, hoje luto na busca de mais políticas legislativas para os trans. Ao menos, para que todos tenham direito a um endocrinologista do SUS, que seja. Para que isso que aconteceu comigo não aconteça com ninguém".

Ele planeja realizar cirurgias de redesignação sexual, como mastectomia (remoção das mamas).


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