Minha história também é confusa, porém muito sofrida e começa em 10 de agosto de 1978, quando minha mãe estava grávida de mim e ela dizia que já sentia que ia nascer uma menina, porque seu primeiro filho era um menino, ela mal sabia que eu era um menino no corpo de uma garotinha.
Desde muito pequeno minha infância foi complicada, meu pai era alcoólatra e ele brigava muito com a minha mãe, a gente passava por muitas dificuldades financeiras e minha mãe fazia das tripas coração para nos dar o carinho e atenção necessários. Quando meu irmão tinha uns 12 anos e eu tinha uns 8 anos mais ou menos, minha mãe engravidou novamente, mais um menino vinha ao mundo. Então de fato eu era mesmo a única filha (mulher) que minha mãe teve.
Depois que meu irmão mais novo nasceu meus problemas aumentaram e eu tinha muito ciúmes dele. Minha mãe não sabia o que fazer comigo, e nessa época, eu já tenho lembranças do meu desejo de ser um menino e isso me trazia ainda mais ciúmes e inveja dos meus irmãos. Minha mãe tinha o maior trabalho quando ia me vestir, porque eu não queria roupas de menina e queria que ela me tratasse como meus irmãos. Meu pai comprava carrinhos pros meus irmãos e eu brincava com eles.
Quando eu tinha uns 10 anos, saia para brincar com os meninos da rua, a gente se divertia brincando de lutar, de subir nas arvores e nos muros dos vizinhos. Eu gostava de pescar num riozinho que tinha perto de casa e vivia correndo junto com a molecada, isso até os meus 14 anos...
Depois comecei a ficar mocinha e veio o pesadelo, meus peitinhos estavam nascendo e minha mestruação veio pela primeira vez; na minha mente aquilo era horrível, mas tinha vergonha e não contava prá ninguém. Eu sentia raiva de mim mesmo e a cada dia que passava, via que meu sonho de ser um menino ficava cada vez mais distante. Toda a noite eu ficava desejando e fazendo pedidos, para que eu me transformasse em um menino.
Porém era tudo em vão.
Lembro-me da angústia que eu sentia quando tinha que ir em alguma festa ou passeio e meus irmãos e primos iam vestidos com roupas super legais e eu tinha que ir com aquelas roupas ridículas que minha mãe me forçava a vestir. Eu gostava de brincar assim como eles, mas as pessoas me estranhavam e falavam para minha mãe que havia algo errado comigo. Minha mãe sempre conversava comigo e achava que eu tinha algum problema mental. Meu pai nem ligava para mim, minhas primas me evitavam e minhas tias me olhavam com cara feia. Eu me sentia diferente de todas as outras meninas, mas tentava me adaptar ao padrão delas, porém sempre fracassava.
Por fim, passei toda a minha infância muito problemática e quando eu entrei na adolescência foi um martírio. Não conseguia me adaptar ao meu corpo, eu sofri muito e em silêncio, sempre tentei esconder quem realmente era; dos meus 14 anos em diante eu me tornei muito revoltado e rebelde, usava drogas, fumava e bebia, cheguei a passar dias nas ruas, envolvido com ladrões e drogados. Minha mãe estava desesperada e não sabia o que fazer comigo e meu pai, sempre me xingava e queria me expulsar de casa. Fiquei uns dois anos no mundo das drogas e das bebidas, até que com muita insistência e choradeira da minha mãe, eu parei de usar drogas, mas ainda continuei bebendo bastante.
Quando comecei a namorar eu não me dava bem com nenhum cara, tive muitos namorados, mas nunca dava certo, foi aí que eu mesmo vi que o que eu estava procurando não eram homens e sim mulheres. Comecei a sentir atração pelas minhas amigas, me apaixonei por uma amiga minha quando eu tinha 15 anos, mas ela não se interessava por mim, dizia que o negócio dela era homem. Ainda me lembro que ela foi meu primeiro amor e também minha primeira decepção. Dali em diante me envolvi com várias amigas e tive muitas outras decepções, até morei com uma moça por quase dois anos, mas tive o maior choque de toda a minha vida, pois além dela me trair, ainda roubou todo o meu dinheiro, depois me abandonou me deixando sem nada, fiquei tão revoltado que desde de quando ela foi embora, há mais de 6 anos, nunca mais consegui ficar com ninguém e estou solteirão até hoje.
Quando penso que posso me apaixonar novamente eu fujo e evito qualquer tipo de sentimento mais forte com as pessoas, pois não quero me apegar... Levei muitos foras na vida tanto que até acabei me tornando um cara frio e não gosto de me envolver com ninguém.
Esse espaço é pouco para contar o quanto já sofri na vida, mas graças a Deus superei, pois eu já morei de favor, passei fome, fiquei desempregado por 5 anos e se não fossem meus pais, eu não estaria nem aqui contando essa história. Agora fazendo pouco tempo que descobri que sou FTM e não lésbica, minha vida faz um pouco mais de sentido, tenho muitos sonhos e barreiras para ultrapassar e quem sabe daqui um tempo eu possa voltar com uma história muito mais feliz.
Puxa vida amigo que coisa, a parte da mulher é foda. Eu com esse pokinho de vida que vivi ja tive algumas decepeções e nem quero saber de compromiso com mulher nenhuma.
ResponderExcluirLegal amigo sua sinceridade, embora seja realmente triste sua história. Não a conhecia em detalhes assim. Infelizmente não sei o que dizer para resolver seu problema mas o que estiver ao meu alcance farei você sabe.
ResponderExcluirSó não sei o que significa FTM, nunca ouvi falar nisso. Vou pesquisar, fiquei curioso.
Querido,
ResponderExcluirFico feliz por ter se encontrado, melhor começo não existe. Mas quero te deixar uma opinião quanto a envolvimento sentimental. Estando ou não com alguém haverá sempre muita chances de você se descepicionar.A vida é única, não se prive de ter momentos agradáveis e prazerosos só porque eles não são eternos.
Permita-se! E insista no seu objetivo maior. Grande abraço!
Parabéns pela coragem em contar sua história. Acho que o mais difícil deve ter sido se descobrir, não se achar um "e.t". Agora tudo é questão de tempo e esforço. Boa sorte e nunca desista de seus sonhos!!!
ResponderExcluir