sábado, 24 de maio de 2008

Minha História de Vida IV - "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor." - por Mariana


Meu nome é Mariana, meu noivo é FTM. Vou contar, brevemente, como o conheci:

Havia uma torcida entre algumas amigas para que eu me aproximasse do Cláudio. Freqüentávamos, e ainda freqüentamos a mesma igreja e, várias vezes, enquanto aguardávamos a entrada para o culto eu o observava, até que fui apresentada a ele por uma senhora que o estima como a um filho. Começamos a conversar sobre vários assuntos, todas as semanas na igreja, às vezes na casa dele e por email.

Logo na 3ª vez que fui à casa do Cláudio para fazermos o culto do pôr-do-sol, ele mostrou-me um documento especificando um nome e um diagnóstico; contou-me todo o percurso desde cirurgia, tratamento psicoterápico, laudo psiquiátrico até o tratamento com endocrinologista. Relatou-me sua luta para enfrentar todas as situações aversivas e discriminação por conta do nome, de todas as estratégias que desenvolveu para sobreviver a esta contingência; seus sonhos de constituir família, seus medos e suas limitações.

Semanas depois me pediu em namoro e após reflexão sobre os acontecimentos e a forma carinhosa que me tratava, aceitei, independente da situação que me apresentou. Pois eu o via e vejo como ele é – com todas as características de um homem, identificadas na sua forma de se comportar.

Já estamos há mais de um ano juntos, conhecemos e somos aceitos pela família um do outro. Minha família nada sabe de seus problemas, sabe apenas que o Cláudio é sério, trabalhador e um bom membro da igreja. Mas a família dele nos apóia muito. Temos planos de casamento e de ter filhos, sejam adotados ou por inseminação artificial com doador.

O único empecilho concreto em nossos planos é o Cláudio possuir os documentos que regularizem o seu nome/gênero, pois não vejo nenhum problema com a sua identidade psicológica. Para mim sua sexualidade já está definida. Inclusive, na relação íntima homem/ mulher, ele nada deixa a desejar...

Não tenho dúvida de que o Cláudio será um ótimo pai, assim como é um ótimo companheiro. Ao longo desse tempo de namoro e companheirismo, posso declarar que não poderia ter encontrado um homem melhor: honesto, trabalhador, constante com seus compromissos, determinado, organizado, forte, carinhoso, dedicado; ou seja, atributos que eu não tinha nem pensado encontrar em alguém.

Hoje estamos ligados um ao outro; ansiando por concretizar um sonho de ambos, de termos uma família aceita pelos padrões estabelecidos pela sociedade, vinculados nas leis humanas e, principalmente, formada com as bênçãos de Deus.

Eu sempre fui muito “família”, e morei pouco tempo fora de casa trabalhando em outras cidades. Mas estava só, me sentindo só e a presença do Cláudio em minha vida acendeu em meu coração aquele sentimento de pertencer a alguém inteiramente. Agora, a solidão é apenas um sentimento sem sentido para nós.

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